A Conferência Geral da AIEA (agência atômica da ONU), composta por 150 países, aprovou nesta sexta-feira, em Viena, pela primeira vez em 18 anos, resolução que critica diretamente o programa nuclear de Israel. O resultado é uma derrota não somente para Israel mas também para os Estados Unidos e seus aliados que, desde 1991, conseguem debater o assunto sem jamais levá-lo a votação.
O texto foi aprovado por 49 votos a 45. Entre os votos favoráveis estão o de China, Rússia e Venezuela. Já entre os votos contrários estão o dos EUA e de toda a União Europeia. Houve ainda 16 abstenções, entre elas, do Brasil e mais países sul-americanos, como Chile, Uruguai, Argentina e Peru.
Promovida pelos países árabes, a resolução expressa “preocupação” com as capacidades atômicas de Israel, um país suspeito de ter, desde o final dos anos 60, um arsenal atômico não declarado. Além disso, pede que Israel assine o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e permita que a AIEA inspecione suas instalações nucleares.
Depois da derrota, o representante israelense David Danieli disse “lamentar” a resolução, que considerou “uma hostilidade contra o Estado de Israel”. “Israel não vai cooperar com nenhum ponto dessa resolução que só quer reforçar hostilidades políticas e linhas divisórias dentro do Oriente Médio”, afirmou. O israelense também acusou Irã e Síria de gerar uma “cortina de fumaça diplomática” com intuito de esconder “sua busca por armas nucleares”.
Rival declarado do Estado judaico, o Irã expressou satisfação com a aprovação da resolução e falou em “momento de glória e de triunfo”. Nesta sexta-feira, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que o Holocausto é um mito, “uma mentira” criada para justificar a criação daquele Estado que os iranianos têm obrigação religiosa de confrontar.
Para os EUA e seus aliados, o Irã é justamente a maior ameaça, em termos de proliferação nuclear. O governo iraniano nega e afirma que seu programa possui somente fins pacíficos. O grupo também critica a Síria, acusada de manter um programa nuclear clandestino, pelo menos até Israel bombardear o que foi descrito como um reator de plutônio, dois anos atrás.
Os países árabes, por outro lado, apontam Israel como ameaça à estabilidade do Oriente Médio. Israel nunca confirmou ou negou ter armas nucleares, mas isso é praticamente um consenso na comunidade internacional. O Estado judaico é um dos apenas três países que não assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, ao lado de Índia e Paquistão.
A última vez em que a Conferência da AIEA aprovou uma resolução foi em 1991, com 39 votos a 31 e 13 abstenções –o número de países-membros, à época, era bem menor. Na ocasião, o texto era mais crítico a Israel.
Com Efe, Reuters e Associated Press