Envelhecer é uma questão fundamental numa sociedade em que, graças ao avanço da medicina, a vida vem sendo prolongada. A dúvida é o que fazer com essa vida e, mais ainda, como se comportar quando se está perante a informação de que se é portador de uma doença terminal que vai abreviar essa existência terrena.
Essas questões surgem com muita força em ‘O herói’, filme dirigido por Brett Haley e interpretado pelo excelente Sam Elliott, hoje com mais de 70 anos e raros papéis à altura de seu talento. Nesta obra, é um decadente ator lembrado por interpretar um cowboy em sua saga de vingança após o enforcamento de um amigo.
Ganhando a vida com a marcante voz a serviço de comerciais inexpressivos, recebe a notícia que está com câncer de pâncreas e apenas uma operação poderá salvá-lo. A questão é se, com 71 anos, vale a pena continuar vivendo. E é essa discussão que leva para a filha e para sua namorada, a carismática atriz Laura Prepon, comediante de stand-up e 30 anos mais jovem.
A pergunta do protagonista ecoa durante todo o filme em imagens como o movimento do ir e vir das ondas na beira da praia, a limpeza cotidiana da casa, o consumo moderado de drogas e uma busca de reconexão com a ex-esposa e a filha distantes.
Como o passar dos anos e a proximidade da morte, o refletir sobre o que foi feito supera o que se pode fazer e a vida parece ficar sem sentido, num perigoso quadro depressivo em que a dor de viver impera. Ver o filme é uma forma de respirar criticamente essas e outras questões. Não perca a oportunidade!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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