Enquanto tentam recuperar a liberdade com pedidos de habeas corpus, onze executivos de empreiteiras presos na Operação Lava Jato se esforçam para manter, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR), um fiapo dos luxos de que desfrutavam quando soltos. Para amenizar as agruras do cárcere de sócios e diretores de algumas das maiores empreiteiras do país, advogados entram e saem do prédio da Polícia Federal para levar produtos como a água Evian e guloseimas: barras de chocolate, biscoitos e salgadinhos.
Café da manhã, almoço e jantar são servidos pela Polícia Federal aos detentos, mas o regulamento permite que recebam frutas, biscoitos e achocolatados, entregues em horário comercial. Os visitantes, no entanto, às vezes exageram no "delivery". Por volta das 16 horas da última segunda-feira, ocorreu uma cena inusitada. Três advogados tentaram entrar na carceragem com sacolas repletas de biscoitos e garrafas de água. O funcionário plantonista abriu a porta e reagiu: "Eles estão devolvendo biscoito porque não aguentam mais comer".
Os advogados insistiram na entrega do material e alegaram que eram produtos perecíveis. Mas o carcereiro respondeu que não poderia armazenar todas as guloseimas. "Levem de volta e tragam aos poucos porque não vou ficar guardando isso tudo sem espaço", afirmou.
Pelas regras da carceragem, só são permitidas duas barras de chocolate de 200 gramas por semana para cada detento. Mas como a OAS, por exemplo, possui quatro executivos encarcerados, não é raro ver os advogados da empresa com sacolas repletas de chocolates com a justificativa de que serão repartidos entre os clientes.
Advogada traz entrega para executivo na carceragem da PF
Nas quartas-feiras, dia de visita de familiares, as dependências da polícia voltam a ficar repletas de entregas para os executivos presos. Uma familiar, que não quis se identificar, declarou ao site de VEJA que estava satisfeita com o tratamento conferido aos detentos. "Não há do que reclamar do ponto de vista humanitário", afirmou.
Das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, estão presos na carceragem da PF em Curitiba: José Aldemário Pinheiro Filho, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Mateus Coutinho de Sá Oliveira e José Ricardo Nogueira Breghirolli, da OAS; Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC; Gerson de Mello Almada, da Engevix; Dalton dos Santos Avancini, Eduardo Leite e João Ricardo Auler, da Camargo Corrêa; Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia; e Sérgio Cunha Mendes, da Mendes Júnior.
Os executivos e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, dividem a Ala 2 da carceragem. Cada ala é formada por três celas, com uma beliche de alvenaria e um assento sanitário. Sem camas para todos, alguns detentos precisam dormir no chão. Na Ala 1, o doleiro Alberto Youssef está isolado em uma cela. Não há televisão ou rádio no local. Não é permitido fumar. O encarceramento motivou quatro executivos a recorrerem a adesivos de nicotina para aliviar os sintomas de abstinência.
Os detentos têm direito a um banho de sol por dia, dividido em dois turnos para que Youssef e executivos não se encontrem. Advogados trazem jornais, revistas e livros para os executivos. O grupo da OAS recebeu uma versão da biografia de Getúlio Vargas, escrita pelo jornalista Lira Neto. Youssef lê em média cinco livros por semana. Já leu crônicas de Fernando Sabino, contos de Machado de Assis, "Estrela Solitária", biografia de Mané Garrincha escrita por Ruy Castro, e o romance "O Homem que Matou Getúlio Vargas", de Jô Soares.
"Por mais que a carceragem esteja superlotada, a PF ainda é um hotel de luxo", diz um policial.
Enquanto torcem para conseguir uma liminar de soltura da Justiça antes do Natal, como obteve o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, também rezam para que Fernado Baiano não seja um novo delator da operação. Familiares do lobista já procuraram fazer contato com a advogada Beatriz Catta Preta, que fez a delação do lobista Júlio Camargo e do empresário Augusto Mendonça Neto, ligados ao grupo Toyo Setal, e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Nesse caso, uma nova delação deverá estender a estadia dos executivos na carceragem de Curitiba.
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