Foi só depois de o apito amigo o colocar em vantagem no placar que o Brasil deslanchou contra a Croácia, 20ª colocada no ranking da Fifa. Já diante dos mexicanos, que ocupam a 19ª posição, nenhum pênalti mandrake se materializou para salvar nossa seleção das merecidas vaias e do placar pra lá de chocho (para rimar com ôxo, a forma como o falecido locutor Walter Abrahão se referia aos empates em 0×0).
Como era de se esperar, o México esteve melhor taticamente do que o incrível exército Felipone, um amontoado de jogadores que parecem jamais saber direito o que fazer com a bola (que diferença da Alemanha!). Cedeu poucas chances aos brasileiros e armou diversas situações perigosas, faltando-lhe, contudo, qualidade no último passe e nos arremates.
Cientes de que o veterano goleiro brasileiro é padrão futebol canadense, os mexicanos arriscaram muitos chutes de fora da área, errando todos. E Júlio César, como sempre, deu rebote para o miolo da área, sem que houvesse mexicano por lá para aproveitar. Qualquer hora a casa cai.
A seleção brasileira parou na boa marcação adversária e nas defesas do goleiro Guillermo Ochoa. Poderia até ter feito um ou dois gols, mas deixou bem evidenciada sua dificuldade em criar jogadas ofensivas. Falta-lhe um meio-campista clássico, capaz de organizar o ataque, pensar pelos seus companheiros e encontrar brechas para furar as retrancas, como Pirlo faz pela Itália.
Infelizmente, deixamos de produzir este tipo de jogador; e faltou a Felipão o discernimento de que deveria investir em Paulo Henrique Ganso, o mais próximo que temos de tal perfil depois que o vento do tempo levou o futebol do Ronaldinho Gaúcho. Com mais incentivo, Ganso talvez conseguisse superar sua exasperante tendência à irregularidade (ora acaba com o jogo, ora nem parece estar em campo).
Neymar bem que se esforçou, mas precisa aprender com o Messi a dar suas arrancadas trocando bolas com os companheiros, ao invés de tentar superar três ou quatro zagueiros sozinho. Contra defensores eficientes ele quase sempre é anulado, como o foi nesta terça-feira (17).
Desta vez Bernard não entrou tão bem como contra a Croácia e Jô desperdiçou bisonhamente uma das poucas situações em que um atacante brasileiro estava desmarcado na hora do arremate. Ou seja, com Hulk e Fred o ataque não funciona, e com seus substitutos também não. Sinuca de bico.
É claro que só uma catástrofe impensável levará nossa seleção a ser desclassificada por Camarões. Agora, se o adversário nas oitavas de final for mesmo a mordida Espanha, o Brasil correrá sério risco de fazer uma de suas piores campanhas de todos os tempos.
Mas não a pior do Felipão, pois desta vez inexiste risco de rebaixamento, ao contrário do que ocorreu no seu emprego anterior, o Palmeiras, por ele abandonado quando a vaca já tinha o rumo certo do brejo.
De resto, a Bélgica, no começo da tarde, disse a que veio: é mais uma forte candidata a chegar, no máximo, às quartas de final. A tal geração deve estar coberta de tinta dourada, porque de ouro não tem nada. Só conseguiu virar o jogo (2×1) quando os pobres argelinos haviam perdido as pernas. Se tivessem fôlego para 90 minutos, a vitória seria deles.
* Jornalista e escritor, mantém o blog Náufrago da Utopia.