Exigências como governança, conselho de administração e CNPJ distinto garantem independência entre finanças do investidor e o caixa do time de futebol
Conforme dados apresentados no último relatório do MapBiomas, o desmatamento no Brasil em 2021 aumentou 20% em comparação a 2020. Seguindo a tendência histórica, quase 90% da área desmatada em 2021 concentrou-se na Amazônia (59%) e no Cerrado (30%). Cerca de 15 mil km² de vegetação nativa nesses dois biomas foi destruída, uma área equivalente a mais de um terço do estado do Rio de Janeiro. O Pará liderou o ranking nacional do desmatamento novamente, como vem fazendo desde 2008. O Amazonas, que por muito tempo foi relativamente menos afetado pelo desmatamento que os demais estados amazônicos, subiu para a segunda posição, uma clara evidência de que a destruição está alcançando as profundezas da floresta. Quanto ao desmatamento do Cerrado, a maior parte ocorreu no Mato Grosso. Para a Amazônia em particular, o ano de 2022 deverá ser tão ruim ou pior do que foi 2021. Segundo levantamento do Imazon, a área desmatada no bioma no primeiro semestre de 2022 é a maior dos últimos 15 anos.
Conforme dados apresentados no último relatório do MapBiomas, o desmatamento no Brasil em 2021 aumentou 20% em comparação a 2020. Seguindo a tendência histórica, quase 90% da área desmatada em 2021 concentrou-se na Amazônia (59%) e no Cerrado (30%). Cerca de 15 mil km² de vegetação nativa nesses dois biomas foi destruída, uma área equivalente a mais de um terço do estado do Rio de Janeiro. O Pará liderou o ranking nacional do desmatamento novamente, como vem fazendo desde 2008. O Amazonas, que por muito tempo foi relativamente menos afetado pelo desmatamento que os demais estados amazônicos, subiu para a segunda posição, uma clara evidência de que a destruição está alcançando as profundezas da floresta. Quanto ao desmatamento do Cerrado, a maior parte ocorreu no Mato Grosso. Para a Amazônia em particular, o ano de 2022 deverá ser tão ruim ou pior do que foi 2021. Segundo levantamento do Imazon, a área desmatada no bioma no primeiro semestre de 2022 é a maior dos últimos 15 anos. Embora essa catástrofe tenha inúmeras causas, uma se destaca pelas dimensões do seu impacto. Estudos científicos e trabalhos investigativos de organizações da sociedade civil, que vêm sendo realizados há décadas, não deixam dúvidas sobre a identidade do grande vilão: é a expansão das áreas de pastagem para a pecuária bovina e das áreas para o plantio de grãos, como soja e milho, cuja maior parte é destinada à alimentação de animais em confinamento. A Amazônia e o Cerrado estão sendo devastados para criar bois e para produzir ração para porcos, frangos, vacas de leite, galinhas poedeiras e peixes criados em cativeiro. |
Imagem capturada por drone da Mercy For Animals no estado de Roraima O rastro de destruição deixado pela pecuária bovina na Amazônia é imenso. Relatório publicado pela Mercy For Animals em 2020 revela que cerca de 75% de toda a área desmatada na Amazônia após 1970 estava coberta por pasto em 2018. Em termos comparativos, a área destruída é maior que a França continental, a Inglaterra e a Bélgica juntas, ou que o estado do Texas, o maior dos EUA. Por meio de estudo de casos, o relatório revelou também que existe uma forte e constante relação entre o aumento da população de bovinos, o aumento da área de pastagem e o desmatamento ao longo do tempo. Não surpreende, portanto, que os municípios com os maiores rebanhos, como São Félix do Xingu e Altamira no Pará, são também os municípios com as maiores taxas de desmatamento. Esse quadro segue inalterado. Área de pastagem no bioma Amazônia em 2020 (em amarelo) |
Elaborado pela Mercy For Animals com base em MAPBIOMAS v. 6.0, Uso e cobertura do solo: Amazônia (2020) Área de floresta vis-à-vis área de pastagem no Pará de 1985 a 2020 |
Elaborado pela Mercy For Animals com base em MapBiomas v. 5.0, Cobertura e uso do solo: Pará (2020) Os danos do desmatamento não se limitam à perda da biodiversidade e à destruição das condições e dos modos de vida de povos indígenas. O próprio equilíbrio climático global é por ele impactado gravemente, como vem advertindo ano após ano o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Conforme apontado no relatório da Mercy For Animals, a responsabilidade do Brasil nessa área é significativa. Considerando as emissões de metano (CH4) decorrentes do processo de digestão dos bovinos e as emissões de dióxido de carbono (CO2) decorrentes do desmatamento para a abertura de áreas de pastagem, estima- se que a pecuária bovina tenha sido responsável por nada menos que 52% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do país em 2018. Esse percentual seria ainda maior se refletisse também as emissões resultantes do desmatamento provocado pela expansão da área de plantio de grãos destinados à alimentação de animais confinados, processo que afeta principalmente o Cerrado. É certo que a demanda por carne e outros produtos de origem animal impulsiona a expansão das atividades pecuárias e o cultivo de grãos para alimentar animais. No entanto, essa é apenas uma das peças na engrenagem do desmatamento. Na ponta inicial da cadeia, desempenhando um papel crucial, estão os investimentos e empréstimos que financiam as grandes corporações da indústria da carne, assim como os subsídios e outros incentivos concedidos aos pecuaristas. Sem esses recursos, a indústria da carne não alcançaria a escala de produção que reduz o custo dos seus produtos. Dito de outro modo, os produtos de origem animal custariam mais e, como determinam as leis da economia, seriam menos demandados. O volume de recursos públicos destinado a apoiar atividades pecuárias no Brasil é significativo. A pecuária bovina de corte, por exemplo, é a atividade econômica mais subsidiada pelo governo federal, tanto em termos absolutos quanto em termos proporcionais, conforme revelado no relatório Do Pasto ao Prato do Instituto Escolhas. De 2007 a 2018, a atividade recebeu R$ 147,6 bilhões em subsídios, o que equivale a 79% do valor que gerou em arrecadação no período. Cabe lembrar ainda que, no Brasil, assim como em muitos outros países, a indústria da carne transfere para a sociedade grande parte dos custos dos seus impactos ambientais e sociais. Na prática, isso também representa um incentivo econômico. O financiamento privado da indústria da carne no Brasil também mobiliza uma quantidade imensa de recursos, inclusive estrangeiros. As três maiores processadoras de carne bovina do país — a JBS, a Minerva e a Marfrig —, são empresas de capital aberto que financiam suas operações vendendo ações e títulos de dívida no mercado financeiro. Segundo dados da plataforma Forest & Finance, grandes bancos e fundos de investimentos, muitos deles com atuação global — como BTG Pactual, BlackRock, Vanguard e Fidelity Investments — possuem participação nessas empresas, que juntas respondem por aproximadamente 70% dos abates de bovinos criados na Amazônia, conforme apontado no relatório da Mercy For Animals. São, portanto, indiretamente responsáveis pelos impactos ambientais gerados por elas. Paradoxalmente, muitos desses grandes bancos e fundos de investimentos que injetam recursos na indústria da carne possuem políticas ESG e compromissos públicos com o combate ao desmatamento e às mudanças climáticas. Isso representa no mínimo uma contradição, já que decisões de investimentos nesse setor podem gerar consequências danosas ao meio ambiente e à sociedade. Para proteger e regenerar os biomas brasileiros e darmos uma contribuição decisiva para reverter a crise climática global, precisamos transformar nosso sistema alimentar. Isso significa redirecionar recursos públicos e privados para atividades que ao mesmo tempo sejam ambientalmente sustentáveis, socialmente justas e compassivas com os animais. Isso não é apenas urgentemente necessário; é também possível e desejável. As carnes à base de plantas e as carnes cultivadas estão causando uma disrupção no mercado mundial de proteínas. Estudo do Banco Mundial e da Organização Mundial do Trabalho projeta que cerca de 20 milhões de “empregos verdes” poderão ser gerados na América Latina até 2030 à medida que a produção de proteínas animais é substituída pela de alternativas vegetais. De acordo com um relatório do Credit Suisse, o setor de proteínas à base de plantas deve crescer 100 vezes até 2050, quando alcançará o valor de 1,4 US$ trilhão, o equivalente ao PIB brasileiro em 2020. O Brasil reúne todas as condições ambientais, técnicas e humanas para liderar essa revolução alimentar e assumir um protagonismo nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas (COP-27) e proteção da biodiversidade (COP-15). Trata-se de uma mudança de direção que é benéfica para as pessoas, para os animais, para o planeta e também para a economia, que ganhará muito com os “emprego verdes”. Não podemos ficar para trás. |