quinta-feira, 07/11/2024
InícioArtigosA Geologia do Portão do Inferno

A Geologia do Portão do Inferno

Caiubi Emanuel Souza Kuhn

O Portão do Inferno, local existente na MT 251 entre Cuiabá e Chapada, sempre despertou a atenção de muitas pessoas da região, devido ao abismo e a bela paisagem. Mas como se formou esse local?

                Todas as paisagens que observamos é resultado da interação entre processos geológicos relacionados a dinâmica interna da terra, formam e transformam as rochas, e os processos da dinâmica externa, tais como condições climáticas, chuvas, ventos e outros agentes que atuam na erosão das rochas e solos.

                No Portão do Inferno existem três unidades geológicas diferentes, o Grupo Cuiabá, a Formação Furnas e a Formação Botucatu, e elas foram fundamentais para que fosse formado este local da forma como conhecemos hoje. As rochas destas unidades se formaram em diferentes momentos da história do planeta, e estão sobrepostas, como se fosse um bolo. Cada conjunto de rochas que foi citado, é separado do outro por muitos milhões de anos de diferença de idade.

A primeira unidade (Mais antiga) é o Grupo Cuiabá, composto por rochas metamórficas que guardam a história de um processo de abertura e fechamento de oceano. No nosso planeta as placas tectônicas atuam de forma contínua. A África e a América do Sul, por exemplo, se afastam cerca de 2 centímetros por ano. Por outro lado, o oceano pacífico se fecha alguns centímetros a cada ano. Isso significa de daqui algumas dezenas ou centenas de milhões de anos, o oceano Pacífico iria se fechar, e as Américas se encontrarão com Ásia ou a Austrália, e formarão um único continente. Um processo similar a esse ocorreu com as rochas do Grupo Cuiabá, que conta um processo completo, de abertura e fechamento de um oceano com a formação de uma grande cordilheira parecida com Himalaia, que se estendia desde a região de Cuiabá até a divisa com Goiás e parte do Mato Grosso do Sul. Estas rochas possuem idade entre cerca de 1 bilhão de anos e 500 milhões de anos. No portão do interno elas estão no fundo do abismo, e são os mesmos tipos de rochas encontradas em muitos locais da baixada cuiabana.

Já as rochas da Formação Furnas registram um oceano que recobriu a borda oeste do que hoje é a América do Sul, entre 410 e 360 milhões de anos. As rochas arenosas que compõem essa unidade, podem ser observadas de desde a base do abismo, até a base da estrada. O leitor quando for a Chapada, pode reparar que as rochas da porção inferior do portão do inferno são arenitos com coloração bege.

A Formação Botucatu, é composta pelos arenitos vermelhos, formados em um grande deserto parecido com o Saara, que recobriu parte da américa do Sul, no final do período Jurássico e início do período Cretáceo, algo entorno de 150-140 milhões de anos. Essas rochas formam os paredões vermelhos da Chapada dos Guimarães que estão à esquerda da estrada, para quem está subindo de Cuiabá para Chapada. Nesta unidade geológica o leitor consegue observar marcas do que eram as antigas dunas que formavam o antigo deserto.

No percurso entre a Salgadeira e o Curva da Mata Fria, a estrada passa exatamente nesta superfície que separam as formações Furnas e Botucatu. A lenta evolução do relevo, fez com que esse contato fosse o melhor local para subir da baixada cuiabana para Chapada dos Guimarães, isso porque as diferenças nas rochas propiciaram o desenvolvimento deste patamar no qual passa a estrada.

Outro fato interessante é que as mesmas rochas que hoje formam os paredões de Chapada dos Guimarães, em algum momento já recobriram também a região de Cuiabá. A queda de blocos rochosos na estrada, ou em outros locais, são a demonstração do processo natural de recuo destes paredões. Isso significa que daqui alguns milhares ou milhões de anos, a escarpa estará ainda mais recuada e o relevo será bem diferente do que é hoje.

Quando você viajar e olhar a paisagem, saiba sempre que ela é resultado da interação entre processos geológicos e climáticos, que controlam a formação do solo e o modelamento do relevo e da geomorfologia. Claro que esse processo demora milhares ou milhões de anos, mas é sempre bom pensar e tentar imaginar como era o nosso planeta em outros tempos.

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT).

Clique AQUI, entre na comunidade de WhatsApp do Altnotícias e receba notícias em tempo real. Siga-nos nas nossas redes sociais!
Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
RELATED ARTICLES

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Digite seu nome aqui

- Publicidade -

Mais Visitadas

Comentários Recentes