Professor de economia internacional do Insper, Roberto Dumas, analisou as razões geopolíticas por trás da aproximação promovida pelo país norte-americano
O Brasil e os Estados Unidos firmaram acordo e prometeram reduzir barreiras não tarifárias no comércio bilateral. O objetivo seria aumentar o fluxo comercial e os investimentos. Para falar sobre as consequências desse compromisso, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o professor de economia internacional do Insper, Roberto Dumas. Para o economista é fundamental entender as razões geopolíticas por trás da aproximação promovida pelo país norte-americano: “Isso ajuda cada vez mais o Brasil a se inserir nas cadeias de suprimento e fazer acordos bilaterais com os nossos maiores parceiros das Américas. O que está por trás disso, e isso é um ponto relevante, é que com a movimentação do tabuleiro geopolítico, com a guerra na Ucrânia e a China tentando anexar Taiwan, os Estados Unidos passaram a atrair o Brasil para dentro da sua zona de influência. Não que nós não estejamos dentro da zona de influência. Mas é uma forma de se contrapor è China nessa zona de influência. De 2007 a 2021, os investimentos chineses no Brasil totalizaram mais de US$ 70 bilhões e foram 212 projetos”.
“O Brasil é amigo de todo mundo, mas é importante que os Estados Unidos deem sua contribuição e que ajudem nesses acordos bilaterais, diminuindo barreiras não tarifárias para que a gente continue fazendo cada vez mais negócios e atraindo investimento em contraponto à influência chinesa na América Latina e na América do Sul. O Brasil é o maior país da América do Sul e a China sabe disso e continua exercendo o shark power dela colocando mais recursos. Os Estados Unidos estão vendo isso e estão querendo correr atrás, trazendo o Brasil cada vez mais próximo da zona de influência dele”, explica o professor do Insper.
Dumas ainda detalhou as razões que fazem a China ser um parceiro comercial tão relevante para o Brasil. De acordo com o economista o gigante asiático tem afinidade com a economia brasileira: “A economia brasileira e a economia chinesa são absolutamente complementares, ou seja, nós não somos competidores diretos. O Brasil é um país de commodities, minério de ferro, petróleo e agronegócio. Que é justamente aquilo que mais a China tem precisado desde 2007… E a China, também quer exercer a sua influência geopolítica na América do Sul. Tudo isso contribui para que o Brasil tenha se tornado o maior parceiro comercial da China em relação, não apenas em comércio internacional, mas como destino de investimentos diretos aqui na América do Sul”. Para o especialista, essa disputa entre China e Estados Unidos pelo mercado da América do Sul tende a beneficiar o Brasil e faz parte de um movimento geopolítico como um todo: “O que manda no tabuleiro geopolítico é o dinheiro. Países não têm amigos, países têm interesses. Então nós estamos prontos para fazer negócios com a China, e vender nossas commodities para eles como desejarem. Por algum tempo os EUA também fizeram muitos negócios com a China e continuam fazendo, mas agora estão vendo que a China está dominando cada vez mais a América do Sul”.
“Por isso que eu creio nessa aceleração desses acordos bilaterais e mais acordos bilaterais com os EUA. Isso tende a beneficiar o Brasil… Existe o interesse dos EUA de tentar minimizar, cada vez mais tardiamente, a influência da China na América do Sul exercendo aquilo que sempre exerceu, trazendo para debaixo dele e ajudando nessa nova dinâmica de globalização. Não acho que a globalização vai acabar e não acho que a globalização vai diminuir. Acho que a globalização vai mudar”, opinou o economista.
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