Instituições tentam conter a inflação, que explodiu com pandemia e guerra na Ucrânia
O Banco Central Europeu (BCE) deve realizar seu primeiro aumento de taxa de juros desde 2011 nesta quinta-feira (21), quando termina a reunião de política monetária da instituição.
Hoje, a taxa de depósito, de refinanciamento e de empréstimo estão nos patamares de -0,50%, 0,00%, e 0,25%, respectivamente.
“O BCE finalmente está se posicionando para começar uma política monetária de controle. Há algum tempo está dado para o mercado uma alta de 0,25 ponto percentual, mas recentemente, aumentaram as chances de uma possível alta de 0,50 ponto percentual. Esse foi um dos motivos que o euro ganhou força contra o dólar nos últimos dias”, afirmou o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac.
O movimento não é isolado. Banqueiros centrais de todo o mundo estão elevando as taxas, alguns deles em um ritmo que não era visto há décadas. O aperto monetário é uma resposta à inflação elevada e persistente que atinge vários desses países desde o início de 2021.
Durante o período da pandemia de Covid-19, as autoridades monetárias injetaram dinheiro na economia e reduziram as taxas de juros a fim de amenizar os efeitos da perda de atividade econômica.
No entanto, com o abrandamento das restrições sanitárias, a forte demanda por bens colidiu com a escassez e falta de investimentos que marcaram o período pandêmico. O desequilíbrio ajudou a elevar os preços.
Inicialmente, os BCs passaram meses esperando que as economias reabrissem e as rotas do transporte global fossem desobstruídas. Mas não foi isso que aconteceu, já que gargalos entre demanda e oferta permanecem até hoje. A inflação, que antes era vista como transitória, passou a persistir e renovar recordes.
E para piorar o cenário, veio a guerra entre Ucrânia e Rússia, que prejudicou o fornecimento de petróleo e alimentos, pressionando ainda mais os preços.
Na semana passada, o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos atingiu 9,1% no acumulado anual, maior patamar desde 1981.
Na Europa, não é diferente. A taxa anual de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu nova máxima histórica de 8,6% em junho, ao acelerar de 8,1% em maio, segundo dados finais divulgados nessa semana.
Até a Suíça já subiu juros
Pelo menos 70 bancos centrais já realizaram altas de juros neste ano, segundo o New York Times.
No caso americano, o Federal Reserve já elevou a taxa três vezes este ano. O aumento de 0,75 ponto percentual visto em junho foi o maior desde 1994.
Autoridades de países como Inglaterra, Argentina, Austrália, Canadá e México também já elevaram suas taxas. No Brasil, o BC vem promovendo aumentos da Selic desde março de 2021. Já são 11 altas dos juros consecutivas.
Até o banco central suíço, país conhecido pelas taxas negativas, elevou os juros no mês passado pela primeira vez desde 2007.
A última vez que tantas nações importantes aumentaram abruptamente as taxas em conjunto para combater uma inflação tão rápida foi na década de 1980, quando os contornos dos bancos centrais globais eram diferentes.
O bloco da zona do euro sequer estava estabelecido e os mercados financeiros globais eram menos desenvolvidos e interconectados.
Como efeito dessas altas de juros, está o risco de recessão da economia global, que vem afetando os mercados acionários nas últimas semanas.
De quanto será o aumento?
Após a última reunião de política monetária, dirigentes do BCE, inclusive a presidente da instituição, Christine Lagarde, sinalizaram para uma elevação na casa dos 0,25 ponto percentual.
Porém, após os últimos dados de inflação no continente e o aperto mais forte realizado pelo Fed aumentaram as expectativas no mercado de uma elevação em 0,50 ponto percentual, que seria a maior desde junho de 2000.
Vale destacar também a perda de força do euro ante o dólar, com a moeda comum europeia chegando a perder a paridade na semana passada.
Na ata do último encontro, o BCE destacou que a política gradualista praticada pela instituição, não é sinônimo de altas de juros no compasso de 0,25 ponto percentual. Dessa forma, elevações maiores podem ocorrer.
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Além do anúncio da taxa em si, os agentes de mercado estarão de olho se o BCE vai revelar maiores detalhes sobre como pretende coibir a fragmentação no bloco, isto é o risco de que uma grande lacuna se abra entre os custos de contrair empréstimos em países como a Alemanha e outros mais endividados como Itália, Espanha e Grécia.
Lagarde prometeu combater a fragmentação desse tipo em declarações recentes e afirmou que o BCE poderia até implantar uma nova ferramenta, se necessário.
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