sexta-feira, 22/11/2024
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Dólar bate R$ 4,90: taxa de câmbio vai cair mais?

Diferencial de juros no Brasil, commodities em alta e guerra explicam a valorização do real

O dólar comercial fechou na terça-feira cotado a R$ 4,91 — o menor patamar em nove meses — e investidores se perguntam: até onde vai a queda da moeda americana? O que explica a valorização do real? 

Veja, abaixo, a previsão dos analistas e os motivos que explicam a recente queda da moeda americana: 

Juros mais altos no Brasil 

O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, explica que o Banco Central Brasileiro iniciou, um ano atrás, um processo de forte elevação na taxa de juros, abrindo um grande diferencial para a taxa básica de juros dos Estados Unidos.  

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Dessa forma, tornou-se favorável realizar o carry trading — quando um investidor pega dinheiro emprestado em um país com juro mais baixo para aplicar em outro com juros altos. 

Mesmo a recente alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) não muda este cenário de grande diferencial entre as taxas praticadas no Brasil e no exterior. 

Commodities em alta 

O preço das principais matérias-primas cotadas no mercado internacional, as commodities, já estavam em alta desde o ano passado com a retomada mais consistente da economia global após a pandemia da Covid. 

A invasão da Ucrânia pela Rússia acentuou este movimento. O preço do petróleo disparou, chegando a encostar em US$ 140 o barril, e está entre US$ 110 e US$ 110 nas últimas semanas, já que a Rússia é um grande fornecedor do óleo. 

Commodities agrícolas e metálicas também se valorizaram, porque Ucrânia e Rússia são produtores dessas matérias-primas. 

Como o Brasil é um grande exportador de commodities, isso aumenta a entrada de dólares no país.  

Rafael Antunes, sócio da Inove Investimentos, lembra que uma economia focada em matérias-primas, como a brasileira, se torna uma opção de “investimento defensivo” para gestores globais num cenário mundial de inflação em alta.   

Risco relativamente menor 

A guerra na Ucrânia forçou muito investidores globais a se desfazerem de ativos russos. E mudou a avaliação de risco feita por esses gestores em relação aos diferentes países emergentes.  

“No curto prazo, por estar na América Latina, distante do conflito, o Brasil tem se favorecido”, explica Alexandre Maluf, estrategista macro da XP.  

Lucas Carvalho, analista de investimentos da Toro, lembra que desde o início do ano o Brasil tem recebido forte fluxo de investidores estrangeiros. A guerra acentuou esse movimento. 

“Muitos investidores tiraram o dinheiro da Rússia e buscaram outros emergentes para investir.”

Até onde vai a queda do dólar? 

Lucas Carvalho, da Toro, avalia que o dólar deve estabilizar em R$ 4,93. Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, que projeta o dólar entre R$ 4,60 e R$4,70. 

“De uma hora para outra, o Brasil virou o queridinho para os investimentos. Acredito que a moeda americana seja precificada em torno de R$ 4,80”, afirma Alexandre Espírito Santo, da Órama.  

E o que pode fazer o dólar voltar a subir? 

Para Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, há três fatores que podem fazer com que a moeda americana volte a ultrapassar os R$ 5. Ele afirma que se a guerra se prolongar muito, o fluxo de capital estrangeiro para países emergentes pode ser interrompido. 

Outro risco no radar é uma piora no número de casos de Covid na China. Surtos no país têm levado Pequim a impor lockdowns em importantes centros industriais do país.  

Além disso, lembra Beyruti, há o temor de que a crise no setor imobiliário chinês, desencadeada pelo colapso da gigante Evergrande, não esteja ainda totalmente equacionada.  

“Se a guerra durar muito tempo, podemos ver o Fed subir os juros mais rapidamente, atraindo investidores para a economia americana. Fora isso, tudo de negativo que acontece na China afeta as commodities, o que é desfavorável para o real. São muitas variáveis a observar”, explica.

Alexandre Maluf, estrategista macro da XP, projeta o dólar a R$ 5,20 no fim de 2022, por acreditar que não há impulso adicional para que as commodities se valorizem ainda mais. Ele lembra que anos eleitorais costumam ser de mais volatilidade nos mercados financeiros. 

“A gente tem o risco fiscal, o governo ainda bem errático nessa questão de como lidar com os preços”, enumera Maluf: “Ataques à política de preços da Petrobras, alguma discussão sobre subsídio, créditos extraordinários para bancar a gasolina. São muitos ruídos que podem interferir nessa valorização adicional do câmbio.” 

O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, discorda. Para ele, a eleição só poderá impactar negativamente no câmbio caso um candidato surpresa ganhe vantagem nas pesquisas. 

“Ainda que tenhamos uma eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro, acredito que não impacte tanto o câmbio. Ambos já foram presidentes, e o mercado sabe como eles se comportariam em relação à economia se fossem eleitos”, opina.

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Parmenas Alt
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