Casos de parto prematuro e de natimortos foram mais comuns em grávidas que tiveram a covid-19 no primeiro esegundo trimestre
A infecção por covid-19 durante a gestação aumenta o risco de parto prematuro, de baixo peso ao nascer ou de que o bebê nasça sem sinais de vida (natimorto) mesmo que a grávida não tenha apresentado problemas respiratórios graves. A conclusão é de um estudo conduzido nos Estados Unidos, cujos resultados foram publicados na revista científica The Lancet Digital Health.
Os pesquisadores avaliaram os registros eletrônicos de mais de 18 mil mulheres que fizeram exame para a presença do coronavírus (ou SARS-COV-2) em algum momento durante a gravidez. Dessas, 882 tiveram resultado positivo (sendo que a maioria apresentou uma infecção leve ou moderada) e foram comparadas com outras 889 gestantes que testaram negativo. Para fazer uma comparação real, os pesquisadores utilizaram um programa de estatística que selecionou grávidas com perfis semelhantes nos dois grupos a serem avaliados.
Os resultados mostram que os casos de parto prematuro e de natimortos foram mais comuns em mulheres que tiveram a covid-19 no primeiro ou segundo trimestre da gestação. Já os bebês com baixo peso ao nascer estiveram mais relacionados às gestantes que ficaram doentes no terceiro trimestre.
Sete casos de óbito fetal (0,8%) foram registrados no grupo de gestantes que tiveram covid-19. No grupo que não teve a infecção, houve apenas um caso (0,1%). Ao observarem a quantidade de bebês pequenos para a idade gestacional, os pesquisadores registraram 117 casos no grupo que passou pela covid-19 (13,3%) e 91 entre as gestantes que não tiveram a doença (10,2%).
Os pesquisadores constataram também que a gravidade da infecção não influenciou na idade gestacional dos partos, já que foram observados casos de partos prematuros mesmo em gestantes que não tiveram infecções graves.
Impacto na saúde pública
Para a médica obstetra Rossana Pulcineli Vieira Francisco, uma das coordenadoras do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr) e professora da Faculdade de Medicina da USP, os resultados reforçam a necessidade de um olhar especial para gestantes e puérperas — especialmente sob uma perspectiva nacional.
“Apesar de o aumento de casos parecer pequeno olhando individualmente, tem muito mais impacto quando pensamos em saúde pública. Um bebê que nasce com baixo peso, por exemplo, pode precisar de uma UTI neonatal ou pode demorar um pouco mais para ter alta e, por isso, vai ocupar um leito por mais tempo. Se eu preciso lançar mão disso em um sistema que já está trabalhando no limite, pode atrapalhá-lo como um todo”, avalia a professora.
Segundo a especialista, como as bases de dados brasileiras disponíveis para pesquisa em saúde pública são independentes (não conversam entre si) e mantêm o anonimato dos pacientes (impedindo que os dados sejam cruzados), os pesquisadores do OOBr não conseguem fazer um levantamento nacional do impacto nos partos de gestantes diagnosticadas com casos leves de covid-19. Os dados computados pelo observatório consideram mulheres grávidas que tiveram a infecção e precisaram ser internadas – portanto, somente os casos moderados e graves.
Em um levantamento feito pelo OOBr, por exemplo, os pesquisadores constataram 62% dos nascimentos de bebês prematuros (com idade gestacional de até 36 semanas e seis dias) entre grávidas que ficaram na UTI. Entre março de 2020 e janeiro de 2022, foram registradas 20.176 internações de gestantes por covid-19 no Brasil e 1.978 mortes maternas.
“Na nossa observação no Hospital das Clínicas, os casos de prematuridade estavam mais associados às grávidas que evoluíram mal na gravidez após a covid-19. Mas somos um hospital terciário que só recebe os casos mais graves. Por isso, com apoio do Hospital Universitário, estamos finalizando um levantamento de casos leves e moderados que não precisaram de internação para avaliar os impactos”, explica.
Risco de agravamento maior em gestantes
De acordo com a especialista, uma mulher grávida tem o mesmo risco de uma não grávida de contrair covid-19. A diferença é que a gestante pode evoluir pior e agravar – por isso a obstetra reforça a importância da vacinação. No caso da pesquisa norte-americana, os pesquisadores ressaltam que os imunizantes ainda não estavam amplamente disponíveis no momento do levantamento dos dados.
“O organismo de uma mulher grávida sofre várias alterações durante a gestação em seus sistemas respiratório, cardiovascular e imunológico. E são justamente as três áreas atacadas pelo coronavírus que podem fazer a gestante piorar”, explica Rossana.
A especialista explica que, culturalmente, as gestantes têm medo de tomar qualquer medicamento na gravidez para não prejudicar os bebês. “As fake news sobre a vacina fizeram muitas optarem por não se vacinar. Mas o melhor que a mulher tem a fazer para proteger o seu bebê é se vacinar, pois a vacina vai evitar que ela evolua de forma grave, caso tenha a infecção”, ressalta.
Fonte: Agência Einstein