Conflito foi interrompido por um cessar-fogo assinado em 1953, mas nunca houve uma declaração de paz formal
O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, afirmou na semana passada que fechou um “acordo em princípio” com a Coreia do Norte, Estados Unidos e China para declarar formalmente o fim da Guerra da Coreia, que teve início em 1950. O conflito foi interrompido três anos depois, quando ambas as partes assinaram um cessar-fogo, ou armistício, mas o fim da guerra nunca foi oficialmente declarado.
Segundo o professor de Relações Internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas) James Onnig, é importante ressaltar que tanto os EUA quanto a China não estão diretamente envolvidos no conflito, mas ambos os países fazem parte do tratado devido a questões geopolíticas que envolvem as Coreias.
Enquanto os Estados Unidos ainda contam com tropas e bases militares instaladas no território sul-coreano, o que faz com que o país seja visto como parceiro da Coreia do Sul, a China é um dos principais parceiros econômicos e diplomáticos da Coreia do Norte.
“O número de soldados americanos em território sul-coreano vem diminuindo, mas ainda é muito presente. Então, essa perspectiva faz com que os EUA sejam vistos com antagonismo em relação à Coreia do Norte”, afirma.
“No caso da China, a questão é um pouco mais genérica. Formalmente falando, ela não tem soldados dentro do território norte-coreano, mas sabe-se que a potência asiática tem um poder de influência muito grande sobre a Coreia do Norte”, completa.
O acordo
É fato que todas as partes envolvidas têm interesse em um acordo de paz. Mas, as negociações ainda não tiveram início — e, para Onnig, é difícil que o tratado seja consumado. Cada lado tem suas respectivas exigências, e nenhum deles parece querer recuar.
De um lado, a Coreia do Norte exige que o primeiro passo parta do Ocidente, com o fim do bloqueio econômico e militar contra o país e o fim da pressão sobre o programa nuclear norte-coreano. De outro, a Coreia do Sul acredita que o primeiro aceno deve vir do lado de lá, e pede que Coreia do Norte encerre seu programa nuclear.
A Coreia do Norte chegou a assinar o TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares), estabelecido em 1968, mas saiu do acordo em 2003 e, desde 2010, vem avançando em uma escalada militar que teve seu ápice em 2017.
O regime de Kim Jong-un deixou claro que não está disposto a encerrar o conflito enquanto os EUA “mantiverem sua postura hostil”, se referindo à presença militar americana na Coreia do Sul. O governo norte-coreano considera a medida uma ameaça e teme uma eventual invasão, uma vez que os norte-americanos não sinalizaram se irão retirar suas tropas.
“Esta situação é insolúvel porque algum dos lados precisa recuar. E, no momento geopolítico que estamos vivendo, não só por conta da pandemia, mas também pelas dúvidas que cercam a conjuntura econômica, acho muito difícil que isso aconteça”, diz.
Conflitos recentes
O professor lembra que esta não é a primeira vez que as Coreias tentam uma aproximação desde o cessar-fogo assinado em 1953. Em 2004, os dois países uniram esforços para construir, em conjunto, um distrito industrial que recebeu o nome de Kaesong.
O local, situado no extremo sul da Coreia do Norte, próximo à fronteira com a Coreia do Sul, contava com indústrias sul-coreanas e mão de obra norte-coreana. Mas, o projeto foi sofrendo seus percalços até que, em 2014, o governo da Coreia do Sul encerrou seu apoio financeiro, alegando que a Coreia do Norte estaria produzindo muitas armas nucleares. De 2014 para cá, a situação ficou ainda pior.
“Em 2020, a Coreia implodiu o escritório conjunto de relações com a Coreia do Sul, em Kaesong, o que foi uma ação muito simbólica. No português bem claro, o recado que a Coreia do Norte tentou passar foi: ‘acabou o papo’. Portanto, não só a atual conjuntura, como também o histórico recente de conflitos entre as Coreias, levam a crer que a paz entre os países está longe de ser uma realidade”, afirma.
R7 sob supervisão de Fábio Fleury