Tecnologia até 100 vezes mais rápida que o 4G é capaz de conectar todas as coisas e transformar o dia a dia
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizará nesta quinta-feira (4) o primeiro leilão da conexão 5G, a nova geração de internet móvel, do qual participarão, ao todo, quinze empresas.
Aquelas que vencerem a disputa ficarão responsáveis pela compra e instalação de equipamentos e torres de transmissão para o sinal da nova rede de internet e terão o direito de explorar o serviço por 20 anos.
Segundo Marcelo Zuffo, professor livre-docente do departamento de engenharia de sistemas eletrônicos da Poli-USP e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), novas gerações de telefonia móvel surgem a cada dez anos, aproximadamente — e, toda vez que isso ocorre, a expectativa é sempre que haja melhorias de desempenho nas funcionalidades de voz e vídeo dos smartphones. Desta vez, no entanto, é diferente. O serviço 5G deve trazer uma grande novidade, que é a possibilidade de conectar todas as coisas.
“Trata-se de uma revolução tecnológica que recebeu o nome de Internet das Coisas, ou Internet of Things. Um exemplo muito claro que temos disso atualmente é o relógio inteligente da Apple”, afirma o professor.
“Com o 5G em uso, pequenos dispositivos vão ser instalados em tudo quanto é tipo de coisa: botões, bengalas, coleiras de pets. Dessa forma, seria possível rastrear um idoso que se perdeu na rua, por exemplo”, completa.
Outra grande diferença entre as conexões 5G e 4G é a rapidez: a nova tecnologia deve ser algo em torno de dez a cem vezes mais rápida do que a geração de internet móvel em uso atualmente.
Leia também: Sete aplicações da Internet das Coisas que logo estarão na sua casa
A mudança, é claro, trará uma onda de investimentos na infraestrutura de comunicação do Brasil — e, consequentemente, também uma série de oportunidades nos setores de serviços, como aplicativos, transporte e agropecuária.
De acordo com o CEO da Deep Center, empresa de gestão da informação, Gabriel Camargo, a conexão 5G promete entregar, de início, de 10 a 20 Gbps de velocidade em uma latência de apenas 1 milissegundo. Na prática, a conexão se daria em tempo real.
“Além disso, o 5G pode facilmente manter 1 milhão de pessoas conectadas por quilômetro quadrado, algo que é impensável atualmente, visto que temos problemas sérios de infraestrurura e comunicações no país. Todos que já estiveram em áreas de sombra ou de alta densidade, como estádios, devem ter passado por problemas de conexão em razão de sobrecarga”, diz.
Com tantas melhorias de desempenho e avanços tecnológicos, os especialistas garantem que o 5G certamente será mais caro, mas, para alívio dos brasileiros, a tecnologia não será uma imposição. Todos poderão continuar usando seus celulares e dispositivos antigos sem nenhum problema. Segundo Zuffo, as novas gerações de internet móvel sempre “conversam” com as anteriores, que no caso são as conexões 3G, 4G e até mesmo 2G.
Desafios para a implementação do 5G no Brasil
Uma pesquisa da empresa de tecnologia de teste Viavi Solutions divulgada em junho deste ano mostra que, atualmente, os três países com mais cidades onde a conexão 5G está disponível são China (376), Estados Unidos (284) e Filipinas (95). No Brasil, por sua vez, ainda há uma série de barreiras a serem superadas para que a tecnologia seja devidamente implementada, sendo a primeira delas a infraestrutura.
De acordo com Gabriel Camargo, a porta de entrada para as empresas, que consta no edital do leilão desta quinta-feira, é o uso de uma faixa de frequência já bastante desenvolvida no Brasil, a 3,5 Gh — mas, como a frequência é mais alta do que as amplamente utilizadas, o sinal tem menos cobertura e alcance. Portanto, serão necessários investimentos em antenas e equipamento para aumentar e amplificar o alcance do sinal. Esse deve ser o principal investimento das empresas de telecomunicações que trabalharão com 5G.
“A faixa de frequência a ser utilizada pelo 5G é utilizada atualmente pelas antenas parabólicas que levam TV aberta para 30% da população brasileira. Dos 72 milhões de domicílios, 21,5 milhões usam parabólica no país. Então, ainda há muitos testes e investimentos a serem feitos pela frente”, afirma.