Monique Prada, escritora e coach de sexo conta sobre a transição de carreira e como sua experiência como acompanhante ajuda outras pessoas a resolverem problemas pessoais e em relacionamentos
Desde o início da pandemia pela Covid-19, Monique Prada , assim como diversas garotas de programa , precisou se reinventar para garantir seu sustento. Após migrar seu trabalho para o virtual , ela decide usar sua experiência com as pessoas que conheceu ao longo dos mais de dez anos como acompanhante para ajudar na resolução de problemas de autoestima, casamento, ciúmes, disfunções sexuais, divórcio, insegurança, namoro e noivado.
“Há muitos anos vinha pensando em atuar na área do sex coach. Como garota de programa com algum destaque nas redes sociais e na mídia, não eram poucas as mulheres que me procuravam para pedir dicas e tirar dúvidas sobre questões ligadas à área, ou mesmo palestras e conversas em despedidas de solteira. Eu acabava recusando por não me sentir pronta e por absoluta falta de tempo. Então, veio a pandemia, e junto com ela, mudanças nos hábitos sexuais da maior parte das pessoas”, lembra Monique, que se matriculou no dia que abriram as inscrições para a certificação como Master Love.
A gaúcha lembra que sempre gostou de escrever, tanto que antes do livro, já publicava ensaios e era conhecida em debates, seja falando sobre a falta de reconhecimento em direitos da classe das trabalhadoras sexuais e críticas sobre movimentos tidos como progressistas, mas que ainda repercutiam preconceitos em suas falas e ações quanto às garotas de programa.
Assim, quando decidiu lançar seu primeiro livro, o ” Putafeminista ” (Editora Veneta, 2018), Monique passou longe do que se espera – um diário – e escreveu sobre teoria feminista. Segundo a descrição, a obra é um misto de ensaio e manifesto, servindo de base para o “putafeminismo”, um movimento que dá voz às trabalhadoras sexuais e fortalece a luta dessas mulheres por direitos e contra a opressão, sem que para isso precisem abrir mão de seu trabalho ou se envergonhar dele.
Transição de carreira
Segundo Monique, a mudança de área aconteceu observando o contexto de pandemia. A gaúcha, que alternava a residência entre São Paulo e Porto Alegre, ficou na capital paulista quando começou o isolamento social pela Covid-19 e migrou os serviços para o virtual – como é o caso da Hot List, serviço de entrega de fotos e vídeos por lista de transmissão.
A sex coach sentiu que seus saberes sobre sociedade e sexualidade não podiam mais ser desprezados, pois como fala Amara Moira – trabalhadora sexual, travesti, escritora e doutora em literatura pela Unicamp – são elas que sabem o sexo que existe nesta sociedade, neste período. Logo, sua atuação como profissional do sexo entra como diferencial.
“Eu não quero dizer que todas nós, apenas por termos tido sexo com muitos homens e mulheres diferentes na vida, acabemos adquirindo automaticamente essa habilidade de lidar com a sexualidade das pessoas. Não, eu não acredito nisso, mas eu sei que nesses anos todos, eu procurei conhecer as pessoas e seus anseios, suas frustrações, seus desejos. Procurei trocar ideias e entender melhor todas as milhares de pessoas que conheci na intimidade, e também associar essas questões à análise da sociedade em que vivemos.”
Master Love
Apesar de não ser uma terapia, o processo de coach está relacionado a ferramentas de autoconhecimento. Para se tornar um profissional, a pessoa também deve viver essas experiências. No caso do Master Love é um processo que reúne conceitos e estudos sobre sexologia aos conceitos e metodologias do coaching. Para Monique, foi a oportunidade de adquirir novos conhecimentos e também organizar seus próprios conhecimentos na área.
“Essa formação veio bem nesse momento em que o mundo e os processos forçosamente ficaram mais lentos, onde não só a possibilidade mas a necessidade de olhar pra dentro surgiu forte para todas as pessoas. Muitas de nós passamos a maior parte deste período sozinhas – sem parceiros, divorciadas, solteiras ou viúvas – e em muitos casos, isso nos trouxe a redescoberta de si. Então essa transição de carreira, de garota de programa a sex coach, é sobre mim, mas também sobre o mundo que temos agora.”
Atendimentos
Não existe um padrão de mulheres que procuram o atendimento de sex coach – que não é restrito a mulheres. Entre os clientes que já passaram por seus atendimentos, estão pessoas que desejam pequenos ajustes em sua vida sexual, casadas ou solteiras, até pessoas que estão passando por dificuldades tremendas em lidar com sua sexualidade, com seus corpos, que vem de relacionamentos abusivos ou mal resolvidos, que precisam lidar com divórcio ou perdas.
“Muitas mulheres me procuram para entender o que os homens querem, por que contratam garotas de programa, o que nós fazemos que elas não fazem. E no fim das contas, saem mesmo entendendo o que elas realmente querem, por que isso é muito mais importante que agradar os homens”, conta. “Entre os homens que me procuram, as dores mais comuns são questões sobre impotência e sobre como agradar a parceira.”
Independente do seu trabalho como sex coach, Monique deixa como conselho para as mulheres que cuidem de si, sem medo de parecer e até mesmo ser egoísta. Ela lembra que, como garota de programa, aprendeu que é necessário conhecer o próprio corpo para sair de uma relação plena e satisfeita, e que é preciso ensinar os homens a satisfazer seus corpos.
“Rapidamente aprendi a tratar meu sexo e meu orgasmo como o que ele é: algo sobre mim cuja responsabilidade não posso deixar para o outro. Historicamente essa responsabilidade, a de aprender a satisfazer, é relegada a nós. Inverter esses papéis é muito bom para os relacionamentos”, ensina.
IG|
PorLuciana Teixeira Morais|