Nova emissora deve projetar o discurso de direita que tem pouco espaço no telejornalismo e apoiar a reeleição do presidente
O empresário Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, CEO do Grupo Jovem Pan, tem se dedicado aos detalhes finais – burocráticos, técnicos e financeiros – para colocar no ar a TV Jovem Pan na sintonia ocupada anteriormente pelos canais Loading e Ideal TV, e no qual a MTV Brasil operou até 2013.
A expectativa é lançar a emissora em setembro ou outubro, com 45 retransmissoras de sinal aberto em todas as regiões do País e acesso por operadoras de TV paga. Equipes de jornalistas trabalham na montagem da grade de programação. Várias produções disponíveis na plataforma de conteúdo da Jovem Pan, a Panflix, serão adaptadas para a televisão.
“Trazer de volta a TV à família Carvalho, que um dia foi dona da TV Record, é um desejo de muitos anos”, escreveu Tutinha em uma rede social. O empresário de 65 anos se inspira no avô, Paulo Machado de Carvalho (que dá nome ao Estádio do Pacaembu), fundador da Record. Tutinha foi cocriador do ‘Pânico’ no rádio e responsável por levá-lo à RedeTV! e depois Band.
Nos últimos anos, a Jovem Pan se tornou uma marca associada à direita no espectro político. O canal do grupo deve ser a TV declaradamente pró-Bolsonaro tão desejada por assessores e seguidores do presidente. Algumas das estrelas da Pan no rádio e na internet são defensoras contumazes do bolsonarismo, como o âncora Augusto Nunes e os comentaristas Rodrigo Constantino e Ana Paula Henkel.
Desde a posse de Bolsonaro, em janeiro de 2019, especula-se qual emissora seria a grande aliada do presidente em oposição às ‘inimigas’ Globo e GloboNews. A primeira candidata foi a RecordTV, por conta do apoio de seu dono, o bispo Edir Macedo, ao ocupante do Palácio do Planalto. Mas, estranhamente, Bolsonaro nunca deu atenção especial ao canal ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O jornalismo da Record às vezes suaviza pautas problemáticas sobre o presidente, porém, não chega a defendê-lo abertamente.
O SBT seria uma opção. Silvio Santos é tão simpático a Bolsonaro que já o recebeu duas vezes em sua mansão no Morumbi, em São Paulo. Contudo, o jornalismo desprestigiado de sua emissora não tem força para ser porta-voz do governo federal. Com vice-presidente, Marcelo de Carvalho, ‘bolsonarista roxo’, a RedeTV! bem que gostaria de se projetar nessa função. Falta audiência: registra média diária de audiência inferior a 1 ponto.
No início de 2020, a estreia da CNN Brasil, idealizada pelo ex-Record Douglas Tavolaro (que deixou a sociedade recentemente) e financiada pelo empresário bilionário Rubens Menin, entusiasta de Bolsonaro, fez brilhar os olhos da direita e dos conservadores em geral. A empolgação durou pouco. A emissora logo assumiu um discurso crítico ao presidente na cobertura da pandemia de covid-19.
Decepcionado, Jair Bolsonaro criticou a CNN Brasil em público pelo espaço dado aos protestos de rua contra ele, reclamou que uma repórter da emissora fazia “pergunta idiota” e xingou uma de suas âncoras, Daniela Lima, de “quadrúpede”. Os principais apresentadores – William Waack, Marcio Gomes e Rafael Colombo, entre eles – rotineiramente se posicionam contra ações e declarações do presidente. O ex-Globo Alexandre Garcia cumpre papel solitário em defesa do governo bolsonarista na TV da Avenida Paulista.
A Jovem Pan possui potencial para ocupar esse vácuo e se tornar a ‘TV da direita brasileira’, a exemplo do que é a Fox News nos Estados Unidos. O jornalismo com viés conservador poderá atrair anunciantes pró-Bolsonaro e contar com a mobilização da rede on-line que ecoa as narrativas do presidente. Seria uma plataforma de apoio à campanha de reeleição em 2022.
Especulações e politização à parte, a TV Jovem Pan vai gerar centenas de empregos diretos e indiretos a profissionais de imprensa e audiovisual. Uma boa notícia em tempos de crise econômica e demissões nas grandes empresas de comunicação do País.