Projeto da artista Tânia Pardo prevê realização de oficina de arte, documentário e site dedicado ao artista da “Geração 80” do Ateliê Livre
Já faz um ano que os pincéis de Benedito Nunes silenciaram. Foi em 2 de março de 2020 que os mato-grossenses se emocionaram com a notícia da partida de um dos artistas mais notáveis da famosa “Geração 80”.
Em 1978, o ofício de mecânico de automóveis deu lugar ao de artista plástico quando ingressou no Ateliê Livre da Fundação Cultural de Mato Grosso. A partir daí a arte tornou-se não só fonte de renda, como motivação de sua vida.
A trajetória de Benedito Nunes, um ano após sua morte, é reverenciada em projeto que não só valoriza sua obra, como também, enaltece sua contribuição para a formação da cultura mato-grossense.
“Eu já acompanhava o trabalho dele há muito tempo, mas pessoalmente o conheci em 2014. Sempre nutri uma admiração muito grande pelo artista. Fiquei muito impactada com sua partida. Foi então que surgiu a possibilidade de inscrever um projeto em sua homenagem no edital da Lei Aldir Blanc. Fico feliz por ter sido selecionado, afinal, ele é um mestre inconteste da cultura mato-grossense e deve ser reconhecido como tal”, diz a proponente do Tributo ao Mestre do Cerrado, Tânia Pardo.
Ela, que também é artista visual, ressalta ainda, a importância de Nunes para a formação. “Por vários anos ministrou oficinas na Casa Cuiabana e também circulou por vários municípios, tendo incentivado assim, o surgimento de novos talentos”.
A arte de Tânia dialoga com a de Benedito. Por isto, o foco do projeto é destacar como Nunes desenvolveu em suas telas a relação entre a natureza e o urbano. “Dedico-me à iconografia do Cerrado. Assim, nossa arte se comunica. Como parte do projeto, será ministrada uma oficina mostrando aspectos do olhar dele ao entrelaçar as paisagens de Cuiabá e do Cerrado”.
Ela explica que a atividade será transmitida pela internet. “Os participantes serão estimulados a criarem obras a partir da mesma técnica de pintura com os dedos que utilizo e com a iconografia de Benedito Nunes”, explica.
Também será realizado um documentário sobre o artista, além de ser disponibilizado um site com conteúdo dedicado à sua obra. “O produto audiovisual está sendo produzido a partir de depoimentos de amigos, parentes e colecionadores, bem como artistas e especialistas que com ele conviveram”, destaca. Os cineastas Felippy Damian e Angela Coradini assinam a direção.
Na empreitada do Tributo ao Mestre do Cerrado, Tânia conta ainda com suporte do produtor executivo Vicente de Albuquerque e dos pesquisadores e críticos de arte Serafim Bertoloto e Laudenir Gonçalves.
A obra
Ao longo da vida, obras de Benedito foram expostas em diversas mostras coletivas e individuais, como nos Museus de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro, além do mestre ter sido premiado em edições do Salão Jovem Arte Mato-Grossense. Ele foi indicado recentemente ao Prêmio Pipa, de Artes Visuais Brasileiras, e algumas de suas obras integram importantes coleções, como a de Gilberto Chateaubriand.
Benedito, desde os primórdios, já se destacou pela linha realista. Além de enfocar momentos da vida urbana e periférica, também percorreu paisagens do Centro-Oeste, principalmente o Cerrado.
E então, registrava cenas do seu cotidiano como o burburinho no salão de beleza da irmã, na sala de sua casa, até os troncos retorcidos, formigueiros e detalhes do Cerrado reproduzidos em telas de grandes dimensões. Ao inserir onomatopeias nestes mesmos cenários, ele também ousou com o “barulhismo” em telas. Outros trabalhos recentes também revelavam a busca por novas matérias-primas e suportes, como o trabalho desenvolvido com latas, que recortadas, exibiam silhuetas.
O projeto Tributo ao Mestre do Cerrado foi selecionado no edital Mestres da Cultura, realizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer – SECEL-MT, em parceria com o Governo Federal, via Secretaria Nacional de Cultura do Ministério do Turismo.
O secretário Beto Machado destaca que este é mais um projeto que soma ao patrimônio material e imaterial da cultura de Mato Grosso. “Benedito tem um lugar cativo na nossa história. Com este projeto, seu nome ficará perpetuado como Mestre da Cultura. O valor de sua produção artística é imensurável”.