quinta-feira, 21/11/2024
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PIX DESAFIA INDÚSTRIA DE CARTÕES MAQUININHAS E GRANDES BANCOS

 O novo meio de pagamento eletrônico instantâneo foi desenvolvido pelo Banco Central 

Sobre o Pix

Pix desafia indústria de cartões maquininhas e grandes bancos

A plataforma vai permitir a realização de transferências bancárias a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana e sem ônus — colocando em xeque a TED ou do DOC, que hoje podem custar mais de R$ 15, a depender do pacote de serviços do correntista.

O impacto potencial da mudança, entretanto, vai bem além da isenção das transferências. O Pix também tem vocação para substituir os boletos bancários e pode mudar a experiência de consumo no débito e em dinheiro em espécie.

Pix desafia indústria de cartões maquininhas e grandes bancos

Entre os especialistas, a expectativa em relação à magnitude das transformações que ele pode gerar na cadeia de valor dos meios de pagamentos eletrônicos varia.

De qualquer maneira, qualquer ponto percentual nesse mercado é muito coisa: por ano, ele movimenta cerca de R$ 1,8 trilhão, conforme os dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços referentes a 2019.

Entenda, a seguir, como o serviço pode afetar consumidores, empresas e os protagonistas e coadjuvantes da cadeia de meios de pagamentos (a indústria de maquininhas, as operadoras de cartões e os grandes bancos).

Consumidores

Além da isenção de cobrança pelas transferências de recursos, uma das principais mudanças potenciais para os consumidores será a experiência de compra no boleto, no débito e em dinheiro.

Isso porque o Pix pode substituir essas três modalidades. No caso do boleto, o pagamento passa a ser feito pelo aplicativo do banco ou de uma carteira eletrônica.

Por exemplo: quando o cliente fizer uma compra pela internet, para efetuar o pagamento ele só precisará abrir o app e ler o QR code do Pix. Ao contrário do boleto, a transação é processada instantaneamente.

As compras em dinheiro ou débito seguem a mesma lógica. Em um estabelecimento comercial físico, por exemplo, o lojista pode gerar o QR code ou imprimi-lo e deixá-lo no balcão — como já acontece hoje em estabelecimentos que aceitam pagamentos instantâneos de carteiras digitais como PicPay ou Mercado Pago.

Para que uma pessoa física use o serviço ela só precisa ter uma conta corrente, conta poupança ou uma carteira digital, com cadastro no Pix. Esse cadastro é feito na instituição gestora da conta.

O cliente tem a possibilidade de cadastrar uma “chave Pix” para facilitar as transações — uma espécie de “apelido” que será usado para identificá-lo, como CPF, e-mail e telefone.

Empresas

A maior vantagem do Pix, na avaliação de Felipe Ahouagi, especialista em meios de pagamento da consultoria L.E.K, é para os recebedores.

A modalidade não será gratuita para pessoa jurídica. Ela terá um custo, mas muito menor do que aqueles nos quais se incorre hoje.

A cada venda feita no débito, um estabelecimento é cobrado por um percentual da transação, a “merchant discount rate” (MDR), composta por três tarifas: a de intercâmbio, que fica com o banco, a de bandeira, que vai para a bandeira do cartão, como Visa, MasterCard e American Express, e uma terceira, retida pela própria empresa que emite a maquininha.

A cobrança reflete os vários elos que essa cadeia tem hoje, dos quais o Pix não necessariamente precisa para operar.

Em uma venda feita por essa modalidade com QR Code, por exemplo, o consumidor pode pagar com o celular (ou seja, sem a maquininha), e a operação é processada pelo Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI), gerido e operado pelo Banco Central. Por isso o custo é menor.

“O estabelecimento comercial tem todo interesse em adotar, assim como autônomos”, avalia.

João Bragança, especialista em meios de pagamento da consultoria Roland Berger, avalia que, em um segundo momento, as médias e grandes varejistas também vão ter um grande incentivo para desenvolver a modalidade, já que muitas delas atuam como financeiras.

Algumas já entraram no ramo dos meios de pagamentos digitais, como as Americanas com a carteira digital Ame, a Via Varejo (dona das Casas Bahia) com o banco digital BanQi e o Magazine Luiza com a conta digital Magalu Pay.

Com o Pix, diz Bragança, elas teriam acesso a mais uma camada enorme de dados sobre os hábitos de consumo de clientes, o que lhes possibilitaria fazer ofertas direcionadas, por exemplo.

Além disso, poderiam atrair clientes potenciais que hoje estão fora do sistema financeiro — os chamados “desbancarizados”, que não possuem conta corrente ou cartão de crédito ou débito. Pix desafia indústria de cartões maquininhas e grandes bancos

Outros potenciais ganhadores

Com a capilarização do Pix no varejo, quem também tende a se beneficiar são as carteiras eletrônicas, que passam a contar com uma rede de aceitação muito maior.

Grandes empresas de tecnologia, por sua vez, teriam oportunidade de entrar ou acelerar o crescimento na área de serviços financeiros, avalia o consultor da Roland Berger, enquanto os bancos digitais e fintechs teriam espaço não apenas expandir a carteira de clientes, mas consolidar a base que já têm.

Hoje muitos brasileiros que têm conta nessas instituições financeiras menores ainda concentram boa parte de suas movimentações nos bancos de varejo tradicionais. Pix desafia indústria de cartões maquininhas e grandes bancos

Com o Pix, essa lógica poderia começar a mudar — e daí a movimentação dos grandes bancos, alguns com grandes campanhas publicitárias, para que os clientes registrem o Pix em suas plataformas.

“Todo mundo vai passar a disputar conta corrente (de clientes). A qualidade da oferta do serviço e a experiência do cliente vão ser críticas”, ressalta Bragança.

A “corrida para garantir a captura”, diz Ahouagi, da consultoria L.E.K., se baseia de lógica de que, uma vez dentro da plataforma do banco, seja ele tradicional ou uma fintech, o cliente tende a usar outros serviços.

“Com uma âncora de relacionamento (o Pix), eu tento vender todos os serviços bancários, abro a possibilidade de que ele possa fazer tudo em um lugar só.”

Segurança

Em um país cheio de modalidades cada vez mais criativas de cibercrime, a segurança é uma questão chave para a plataforma.

Bragança recorda que não houve uma padronização por parte do Banco Central. A questão da segurança é de competência das instituições financeiras. A lógica é a mesma das demais transações bancárias: os sistemas de mitigação de risco e as barreiras antifraude variam de uma empresa para outra.

No caso do Pix, por exemplo, além da segurança dos próprios aplicativos das instituições financeiras, elas podem colocar outras camadas — como, por exemplo, um limite máximo para realização de operação com o pagamento instantâneo.

O especialista alerta, contudo, que provavelmente devem aparecer casos de fraude, assim como acontece com praticamente todas as modalidades de pagamentos. “É o ciclo de vida de qualquer operação. É uma jornada de aprendizado.”

E deve-se ficar atento não apenas à possibilidade de golpes, mas também de erros cometidos pelos próprios clientes. Como o Pix é instantâneo, uma transferência ou um pagamento feitos por engano não têm garantia de ressarcimento.

Também ficará a cargo de cada instituição decidir como vão lidar com essas situações.

Fonte: BBC Brasil

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Parmenas Alt
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