quinta-feira, 07/11/2024
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Dia Mundial do Meio Ambiente: celebração ou luto?

Torna-se inevitável no dia de hoje lembrar que é Dia Mundial do Meio Ambiente, instituído em 1972 por ocasião da realização da primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente realizada em Estocolmo. Pode-se afirmar, portanto, que o marco de tomada de consciência mundial sobre os problemas ambientais se deu neste início da década de 70, inclusive com a publicação do livro “Limites do Crescimento” sob responsabilidade do Clube de Roma.

O Brasil tem participação ativa naquela Conferência, defendendo a posição de que “poluição é sinônimo de progresso”, encarando a nova preocupação mundial como espécie de conspiração contra o desenvolvimento de países de terceiro mundo. Chegamos a publicar anúncios convidando indústrias poluidoras a se instalarem aqui e como resultado desta visão equivocada tivemos o triste exemplo de Cubatão, considerado pela Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Comissão Brundtland, um mau exemplo.

Pessoalmente acompanhei toda a problemática como advogado da “Associação das Vítimas da Poluição e Más Condições de Vida de Cubatão”, cuja tentativa de legalização enfrentou o argumento de que era uma ameaça à segurança do Estado brasileiro, visto que se vivia no ambiente autoritário de então. Cubatão era município considerado de segurança nacional e as atividades petroquímicas e siderúrgicas estavam protegidas da ação dos órgãos ambientais sob o manto do interesse nacional.

O alerta sobre a dimensão planetária da crise ambiental se circunscrevia praticamente na comunidade científica e, de certo modo, se falar em planeta Terra era quase uma linguagem poética, dado que a tecnologia da informação era incomparavelmente rudimentar se comparada aos dias de hoje. Para os jovens de hoje é extremamente fácil ter a noção do planeta, bastando acompanhar o noticiário da televisão que nos antena a tudo de importante que ocorre em todas as partes do globo, desde as explosões no Iraque até enchentes na China. Há 35 anos atrás a realidade era outra…

Na década de 80 uma imagem de satélite revelou o imenso buraco na camada de ozônio, comprovando definitivamente a dimensão planetária da crise ambiental, trazendo à sociedade contemporânea o desafio de enfrentar o problema. No caso da camada de ozônio a solução não foi de alta complexidade porque houve possibilidade de substituição tecnológica, ou seja, as substâncias químicas inventadas pela Humanidade foram substituídas por outras sem os impactos deletérios a atmosfera, restando uma lição importante sobre a ação humana no meio ambiente: exigiu-se várias décadas para que os efeitos dessa tecnologia se manifestassem a ponto de constatar seus riscos. Ou seja, manipulamos e inventamos tecnologias cujos efeitos pouco conhecemos, muitas vezes transferindo os danos aos nossos filhos.

A partir de então, a mídia abraçou a questão ambiental, forçando a tomada de iniciativas que resultaram na realização da Conferência do Rio em 1992. Esta, a maior conferência jamais realizada pelas Nações Unidas, teve por mérito principal consagrar o conceito de Desenvolvimento Sustentável, ou mesmo, da sustentabilidade, formulado primeiramente pela referida Comissão Brundtland. Recentemente, após 20 anos dos primeiros encontros desta Comissão, a ex-primeira ministra norueguesa Gro Brundtland foi convidada pelo secretário das Nações Unidas a discutir estratégias para tratar do problema do clima – certamente o foco principal das discussões das próximas décadas.

O importante neste 5 de junho é se fazer um balanço da trajetória ambiental nas últimas décadas. Se de um lado a situação da vida – biodiversidade – no planeta é de enorme preocupação pela constatação de que perdemos e continuamos a perder um número elevadíssimo de espécies; se há uma perda e comprometimento da água doce no planeta; se há a constatação do aquecimento global representando a maior ameaça jamais enfrentada pela Humanidade em termos planetários e se a desigualdade social e a pobreza aumentaram nas últimas décadas. Por outro lado a preocupação ambiental está nas escolas de todo o mundo, a mídia trata com mais seriedade o problema, a sociedade civil se fortalece por meio de sua inovação propositiva, o setor empresarial incorpora as temáticas socioambientais e de sustentabilidade como ativo estratégico e não meramente “filantropia”, e os governos, ainda que no campo essencialmente da retórica, assumem compromissos com as futuras gerações.

Estaremos a cada dia dos próximos anos vivenciando a questão ambiental, com ênfase no aquecimento global, contemplando radicais transformações na sociedade contemporânea pela urgência e gravidade do problema. Desde as compras no supermercado, passando pela escolha das nossas férias, a escola de nossos filhos, os investimentos para nossa velhice, todas as práticas relativas ao nosso cotidiano estarão sendo influenciadas e influenciarão o nosso viver em harmonia ou desarmonia com a Natureza.

Fabio Feldmann é consultor, advogado, administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.

Terra Magazine

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Parmenas Alt
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