sexta-feira, 22/11/2024
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A frieza ofídica do traidor Moro

Os répteis são animais de sangue frio. Consoante essa característica de sua constituição somática, eles também agem friamente. Os homens têm sangue quente, mas alguns homens comportam-se como animais de sangue frio, mostrando-se frios no agir. Sérgio Moro é um desses homens. A forma como agiu o ministro Moro evidenciou esse traço reptiliano de seu comportamento, principalmente em relação ao presidente Bolsonaro.

Sérgio Moro pode ser comparado a uma cobra, ou melhor, a uma serpente. Sim, mas ele é pior do que esse tipo de animal. Porque de uma serpente poder-se-ia dizer que ela não sabe o que faz. Moro sabia o que fazia. Mesmo assim, fazia. O mato, as pedras por entre o que se disfarçam os répteis, correspondiam às luzes das câmeras da mídia venal, que ofuscavam os olhos das multidões, de sorte que estas olhavam para Moro sem conseguir ver o que Moro realmente era. Mas, diz o ditado popular, “Aqui se faz, aqui se paga”. Moro pagou o que fez com a sua queda e desmoralização, ao ter revelada a sua traição.

Embora pior do que os ofídios, esses dissimulados e perigosos seres rastejantes, o também perigoso Moro comparte com as serpentes o instinto da traição. Ao contrário de um leão, que ao se apresentar à sua presa já chega atacando, abertamente, sem nada esconder, Moro primeiramente aproximou-se de Bolsonaro, parecendo um aliado, se não um amigo. O “aliado”, o “ministro”, o herói da luta contra a corrupção não passava de um espião. Desmascarado, o traidor deu o bote, mas seu veneno foi anulado pelo apoio popular que serviu de antídoto para o veneno da serpente Desde ao menos Judas, o povo não gosta de traidores. O povo não elegeu Bolsonaro para que fosse traído por seus ministros.

O episódio da passagem de Moro pelo ministério prova a extrema importância das relações pessoais. Moro nunca deveu estar onde esteve, isto é, ao lado de Bolsonaro. O Capitão é um homem radical e sincero, um apaixonado pelo Brasil. Sabe-se o que pensa, como age, como se sente, o que quer, o que sofre. O ex-presidente Temer, que não é nenhum campeão moral, já falou das relações pessoais como extremamente importantes. Isto vale para todas as instâncias da atividade humana, das ruas aos palácios.

A propósito, disse o grande filósofo autodidata e antiuniversitário Olavo de Carvalho que a política é a disputa pelo poder entre indivíduos e grupos. No grupo de Bolsonaro, no seu palácio, esteve um traidor. Houve outros, decerto. Mas de Moro, desse de quem mais se esperava, veio a maior decepção. Moro esteve no grupo, mas não pertencia ao grupo, não era do grupo, não compartia o espírito, a consciência do grupo e de seu chefe. O grupo de um chefe deve-se compor de amigos, colaboradores leais dispostos a seguir seu capitão até as últimas consequências.

Mas nós não devemos refletir sobre a traição de Moro de forma fria, como se fôssemos cobras. Sobre isso, pensemos com o coração. Sejamos capazes de sentir compaixão, de ter empatia com aqueles na dor, na pobreza, no desprezo … no poder — tendo ao lado um traidor. Sejamos sensíveis a ponto de sofrer pelo destino de uma galinha mal acompanhada, da galinha a que faltava um grupo, da galinha sem defensores, sem aliados leais, numa situação de risco. Projetemos a figura da galinha sobre a condição do presidente Bolsonaro, exposto, vulnerável e a mercê do traidor Moro a seu lado.

Essa galinha, ela estava tranquila, ela ciscava, ela comia, ela bebia. Ela tranquila vivia, na jaula da jiboia.

* Chauke Stephan Filho nasceu em Cuiabá no ano de 1960. Com formação em sociologia e política (PUC/RJ), português e literatura (UFMT) e educação (Unic), dedica-se ao estudo da sociologia do racismo como servidor da Prefeitura de Cuiabá, onde também serve como revisor.

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Parmenas Alt
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