Cheguei a Cuiabá no início da década de 80 para assumir o setor de compras de uma multinacional do ramo de combustíveis. Para a implantação da nova gerência, necessitávamos comprar quatro carros e a orientação era de que fosse da marca Volkswagen.
Peguei os orçamentos, encaminhados pela matriz e cotados em outras regiões do país, e fui à concessionária Trescinco. Uma diferença de valores era favorável à compra fora de Mato Grosso. Já estava de saída quando, para minha surpresa, o saudoso Sango Kuramoti me chamou à sua sala. Objetivo, ele me lançou duas perguntas: Sua empresa está vindo para Mato Grosso certamente porque acredita no potencial do estado certo? Respondi que ela tinha um ambicioso e longo plano de investimento, prevendo um crescimento de, pelo menos, quatro vezes o número de postos atuais. OK, ele afirmou. Na sequência disparou: Então me diga quantos empregos sua empresa vai ajudar a criar em Mato Grosso, para pessoas que irão comprar seu combustível, comprando os veículos em outro Estado?
Levei sua consideração à nossa matriz e imediatamente veio a autorização para a compra dos veículos em Mato Grosso. Este procedimento, até onde sei, passou a ser o modelo de aquisição em todo o país e, também, o que utilizo até hoje nas minhas empresas e nas entidades em que estou administrando. Comprar fora somente quando não há o equivalente aqui.
É triste quando vemos o atual mandatário do Executivo estadual – um empresário – se mostrar incapaz de dialogar com os setores produtivos, quando deveríamos encontrar uma solução, em comum acordo para os problemas de caixa do Estado. Assustou com doses de desânimo um recente conselho dado à população: “Contribuinte, realize suas compras fora do estado, pela internet”.
Eu repasso ao governador Mauro Mendes a pergunta de Sango Kuramoti: Quantos empregos, distribuição de renda e impostos estes compradores vão gerar para o nosso Mato Grosso, que tanto precisa melhorar sua economia para que a arrecadação aumente e ajude o Estado a sair do buraco?
O momento é de extrema atenção por conta deste tratamento com o setor produtivo. Ou abrimos espaço para um diálogo produtivo que transcenda a visão pequena de tentar encontrar vilões e desculpas que não irão tirar Mato Grosso da atual situação de penúria, ou só iremos agravar essa situação ao continuarmos esse jogo de acusações e recados a que estamos assistindo.
Mato Grosso é nosso, nossas empresas e nossas famílias vivem aqui. Quando vamos mal, Mato Grosso vai mal e não virá nenhum santo milagreiro de fora para resolver nossos problemas.
Saudades de Sango Kuramoti!
Nelson Soares Junior é presidente da CDL Cuiabá e diretor-executivo do Sindipetróleo, sindicato que representa a revenda de combustíveis de Mato Grosso