Comando Vermelho (CV) lucrava R$ 600 mil ao mês com comércio de drogas e materiais ilícitos na Penitenciária Central do Estado (PCE). A confirmação é do diretor da unidade, Agno Ramos. Na maior penitenciária de Mato Grosso a concentração de presos de alta periculosidade e superlotação de mais de 170%, faziam do local o cenário ideal para o CV “reinar”. Agno frisa que o império da facção criminosa começou a ruir e o Estado retomou o controle da unidade. Um dos reflexos foi a redução da criminalidade extramuros, já que muitos dos crimes eram ordenados dentro da própria PCE.
O diretor conta que as mudanças na unidade começaram em agosto deste ano com a operação Elisson Douglas. O nome remete ao agente prisional de Lucas do Rio Verde, morto supostamente por ordem que partiu da PCE. A operação culminou em reformas estruturais na penitenciária como a retirada de eletricidade e tomadas das celas e apreensões de vários objetos ilícitos. Todas as celas foram reformadas e foram aumentadas 134 vagas. Além disso, o esgoto a céu aberto foi canalizado.
“O lucro deles chegava até R$ 600 mil ao mês só na unidade. Os valores eram do comércio de drogas e mercadorias ilegais. Tudo circulava livremente na unidade prisional. Os presos subornavam, escravizavam os outros presos e faziam com que familiares se prostituíssem para pagar dívidas dos seus entes”, ressalta.
Agno frisa que o domínio extrapolava o muro da penitenciária. Segundo ele, a sociedade também se tornava refém de quem estava preso. Ordens de mortes, roubos e outros crimes eram dadas de dentro da PCE, informa. “A unidade passou por uma transformação e, hoje, o Estado tem o controle da penitenciária, coisa que não tinha pois ela era controlada pelo Comando Vermelho”, confirma o diretor.
Reforma estrutural
Ramos explica que a PCE tinha uma arquitetura conveniente para que o agente prisional não visse o preso e o que ele fazia dentro do raio em que estava. Por isso, uma das principais mudanças nestes quatro meses passou por repensar a estrutura da unidade. O agente destaca que o corredor central não proporcionava visão nenhuma dos raios. Por isso, foi feito um gradeamento, proporcionando a visibilidade. “Imagina uma massa carcerária com os presos todos juntos. Os homicídios aconteciam com mais frequência na unidade, as agressões eram comuns porque eles eram soltos. Não tinha como punir ninguém, mas hoje o preso é trancado e monitorado”.
Agno diz ainda que a nova formatação com a não circulação de dinheiro na unidade também é um fator que dificulta a comercialização de ilícitos dentro da PCE. “Foi importante também a retirada de toda a eletricidade de dentro das celas. Mesmo que consigam colocar um aparelho de celular lá dentro, vai ter vida útil muito curta. Quando eles conseguem, de alguma forma, burlar a segurança e fazer uma instalação clandestina, conseguimos identificar e retirar novamente”, reforça.
Para evitar que a situação ilegal retorne, Agno ressalta que o monitoramento foi redobrado. Tanto que, segundo ele, todos os dias de visita são apreendidos de dois a três visitantes com drogas e celular. Destaca ainda que, de agosto até dezembro, foram apreendidos 200 celulares, armas artesanais e mais de 6 quilos de entorpecente nas celas. “Os presos têm duas horas de banho de sol. E diariamente os policiais penais entram nas celas e verificam a estrutura, se não tem buraco, túnel ou danificação para esconder, por exemplo, um aparelho de telefone celular. Nossa vigilância é constante. Fato notório é que a criminalidade em Mato Grosso caiu drasticamente, pois tiramos os celulares das celas”, avalia.
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