Questões sobre a intimidade do candidato, que são do âmbito profissional, são consideradas antiéticas e se encaixam como danos morais judicialmente
“E como vai o casamento?”. Foi essa pergunta que a aposentada Valéria Freitas, de 58 anos, ouviu de um recrutador enquanto participava de um processo seletivo .
Na época, ela conta que não se sentiu confortável com a situação, mas acabou respondendo. “Fiquei constrangida, porém, como não tinha problema nenhum, falei a verdade. Mas foi chato”, lembra.
Assim como a empresa avalia se o candidato tem o perfil ou não para fazer parte da equipe, o contrário também deve acontecer. Se no momento da entrevista de emprego a pessoa se sentir incomodada com algum questionamento do recrutador, o ideal é repensar se deve ou não continuar disputando a vaga.
“Qualquer pergunta que possa gerar algum tipo de preconceito da outra parte não é apropriada”, explica Ana Nery, customer success team leader na Revelo.
Além disso, na maioria dos casos, as respostas para essas perguntas não vão afetar em nada na avaliação do desempenho e da produtividade do candidato. “Até mesmo questionar sobre estado civil e idade não deveria ser consideradas informações relevantes para as empresas, pois abre margem para discriminação”, considera.
Contudo, não são raras as vezes que essas perguntas são feitas em processos seletivos – e, nem sempre, o questionamento vem em forma de pergunta. Nery cita como exemplo um candidato que teve que fazer uma redação sobre a situação política atual do país.
“É claro que, no texto, a pessoa acaba expressando seu posicionamento político, o que não deveria ser de interesse do contratante”, afirma.
Bárbara Camargo, gerente de talent experience do Grupo Movile, concorda com Nely e ressalta a importância de treinamentos para recrutadores que visem a diversidade e o respeito com o entrevistado para evitar essas situações.
“Recentemente tivemos um treinamento focado para recrutadores sobre vieses inconscientes. Devemos explorar competências necessárias para a posição em específico, mas sempre de acordo com nossos valores. Nunca devemos desrespeitar, ou ser invasivos”, diz.
Para saber se o que foi interrogado é, de fato, uma pergunta antiética, Flávia Teixeira, que é gerente de treinamentos do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), ensina que tudo o que diz respeito à intimidade do candidato, pode ser considerado invasivo.
“Perguntas sobre religião, orientação sexual, posicionamento político ou assuntos familiares são sempre constrangedoras, por mais que o recrutador dê um ‘toque’ informal para a entrevista”.
Veja os exemplos
Confira perguntas que não devem ser feitas pelo recrutador de acordo com as entrevistadas:
- “Você tem quantos filhos? Pretende ter (mais) filhos?
- “Está grávida?”
- “Você bebe ou fuma?”
- “Qual a sua religião?”
- “Toma algum remédio controlado ou tem alguma doença crônica?”
- “Qual seu posicionamento político?”
- “Qual seu estado civil?”
Ao se deparar com algum tipo de questionamento como os citados acima em uma entrevista de emprego , é direito do candidato entrar em denunciar a empresa ou processo judicial por danos morais, segundo Ana Paula Smidt Lima, advogada especialista em direito trabalhista do escritório Custódio Lima Advogados Associados.
“Outras atitudes que podem gerar discriminação e que não devem ser tomadas pelas empresas é pedir histórico de antecedentes criminais, salvo em algumas profissões, teste de gravidez e exame de sangue sem justificativa”, alerta Lima.
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