Cada vez mais a arte mostra seu poder de curar feridas da vida. O filme “Bem-Vindos à Marwen”, de Robert Zemeckis, é uma prova disso, ao contar a história real de Mark Hogancamp, um ilustrador que, em 2000, ao contar em um bar que era cross-dresser, foi brutalmente espancado por cinco homens.Após nove dias em coma e 40 hospitalizado, tendo perdido a memória, impossibilitado de desenhar pelos danos físicos sofridos e sem dinheiro para sustentar uma terapia, Mark criou uma cidade em miniatura (Marwen) habitada por bonecos inspirados pelas pessoas que conheceu após a agressão ou pelo que lhe foi contado, como a atendente do bar que o encontrou após a espancamento, a fisioterapeuta que o ajudou na reabilitação para caminhar e mulheres com as quais passou a se relacionar.Fotografando as histórias desses bonecos em sua maquete, réplica de uma cidade belga imaginária na Segunda Guerra Mundial, iniciou uma carreira de sucesso como artista visual. A produção gerou um documentário (“Marwencol”, 2010, de Jeff Malmberg”), motivador do presente filme, com Steve Carell como protagonista e Leslie Mann, numa bela interpretação de Nicol, delicada mulher por quem o ilustrador se apaixona.A mescla entre as cenas com atores reais e as de animação é de um bom gosto admirável. Os agressores são transformados pelo fotógrafo em nazistas; e as mulheres que o ajudaram, em um grupo de salvadoras do mundo. Existe, porém uma exceção, a bruxa da cidade imaginária, que representa as forças internas que quase o levam a cometer suicídio.A criação de um mundo mental imaginário foi a salvação de Mark; e as fotografias, a sua sustentação financeira. Pela arte, encontrou um novo rumo na vida, o que reforça a necessidade da fantasia em nossa existência, e a sua capacidade de nos ajudar a cicatrizar feridas e abrir novas possibilidades existenciais. O filme, assim, nos faz reaprender a ser humanos.Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. |
Enviado por Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo |
A arte pode curar a vida
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