Um dos maiores tabus da vida é a morte. Muito se fala sobre o assunto em tom até de brincadeira, como forma de autodefesa, mas poucas são as oportunidades de ver no cinema relatos em que o assunto é tratado com total crueza, sem nenhuma forma de romantismo ou idealização.
O filme alemão “Stopped on Track” atinge esse patamar com louvor e muita dor. Dirigido por Andreas Dresen, ganhou o prêmio Un Certain Regard no Festival de Cinema de Cannes e apesenta dois atores excepcionais, Milan Peschel e Steffi Kühnert, nos papeis, respectivamente, de um homem de meia idade diagnosticado com um tumor maligno no cérebro e sua esposa.
Perante a doença incurável, não havendo possibilidade de cirurgia pelo local onde o mal se instalou, radio e quimioterapia são as opções, mas o quadro é irreversível e leva a um estado de confusão mental, como o de Alzheimer, e decrepitude física até a morte. A maneira como a família lida com a situação é mostrada sem heroísmo, com distintas reações.
A esposa tem altos e baixos; a filha adolescente alterna revolta com carinho. e o filho pequeno vai pouco a pouco percebendo a gravidade da situação. O único respiro é o tom surreal do tumor sendo personificado em um personagem que participa de um talk show, mostrando como destrói, com inegável prazer, a mente do protagonista.
O filme é para estômagos e mentes fortes, sem trilhas sonoras adocicadas ou concessões para pensamentos na linha de que o sofrimento leva â redenção. A única certeza apontada é que o diagnóstico do médico na primeira cena já indicava toda a trajetória a ser seguida – e que a união da família seria a única possibilidade de compartilhar com maturidade desse sofrimento.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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