Já faz algum tempo, difícil precisar quanto, que o cinema se tornou um local para erguer as mais variadas bandeiras, desde as políticas e sociais às de gênero. E isso não constitui mal nenhum. Pelo contrário, a arte é um local onde todos devem ter voz. A única questão que surge nesse processo é que as narrativas de amor estavam meio esquecidas.
Mais uma vez, o cinema argentino dá uma prova de vitalidade com “Um amor inesperado”. O ator Ricardo Darín (sempre ele!) e Mercedes Morán interpretam um casal demais de 20 anos de casados que, vivendo um vazio existencial com a ida do filho para estudar na Europa, decide se separar.
Sem saber muito bem o que fazer com a liberdade, cada um se envolve em diversos relacionamentos, satisfatórios por pouco tempo. Mas o que está em xeque na história é o significado do amor nos anos 2000. Em tempos de Instagram e de amplas discussões sobre o corpo e o espírito, parece haver pouco espaço para o toque do abraço e do riso.
Embora possa ser considerado conservador por alguns, a proposta do diretor Juan Vera é bastante clara. Discutir relações humanas heterossexuais na faixa dos 50 anos na arte contemporânea é quase um ato revolucionário. Na verdade, o filme fala de amor. E esse tema independe do sexo e da idade de quem está amando. Nesse sentido, a obra atinge seu objetivo de mostrar que amar e conviver são desafios permanentes e que exigem capacidade de diálogo a todo momento.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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