O P-Shot começou como procedimento estético, mas alguns homens, como o britânico Jimmy Croxton, utilizaram-no no combate à disfunção erétil
Em dezembro de 2018, o Deles compartilhou uma notícia do jornal britânico The Sun , a respeito de Jimmy Croxton, um inglês de 33 anos que adotou o P-Shot para tratar a sua disfunção erétil , que vinha acompanhada de problemas na ejaculação.
Agora, cerca de 4 meses após iniciar seu tratamento para disfunção erétil, Jimmy e sua parceira, Natalie Wilshaw, afirmam, segundo o The Sun , que o rapaz está livre dos problemas, que foram causados pelo diabetes tipo 1. Mas será mesmo que o procedimento, que lhe custou R$5,9 mil (cerca de £1,2 mil), é tão eficaz?
Para Antonio Tavares, médico urologista do Centro de Medicina Sexual do Rio de Janeiro, tudo indica que sim, principalmente levando em conta o baixo risco deste tratamento para os problemas de ereção . “Como o procedimento é realizado com material do próprio sangue do paciente, os riscos são mínimos”, avalia.
Como explica Tavares, o P-Shot , que é a injeção aplicada no membro para tratar a disfunção erétil, deriva do Plasma Rico em Plaquetas (PRP), produto usado na terapia regenerativa.
Ele é obtido após a centrifugação do sangue, o que faz com que as plaquetas se concentrem numa fração do plasma. No PRP, são encontrados elementos responsáveis pela “produção de novos vasos sanguíneos, pela remodelação da matriz extracelular e por efeitos como estimulação de células tronco, proliferação e diferenciação celular”, diz o médico.
P-Shot é a solução definitiva para a disfunção erétil?
Segundo Antonio Tavares, outra vantagem deste tratamento em relação a outros já conhecidos para problemas de ereção (como reposição hormonal, mudança de estilo de vida, medicações e implantes penianos) é a aplicação mais simples – segundo o Sun na última matéria sobre o caso de Jimmy, cada injeção do procedimento demora 10 minutos para ser aplicada.
No entanto, Alex Meller, urologista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, alerta para o aspecto subjetivo do procedimento.
Para ele, esta alternativa costuma ser mais utilizada em procedimentos estéticos porque os resultados estão ligados à satisfação ou insatisfação do cliente. Essa ambiguidade não ocorre, por exemplo, no tratamento de um câncer, já que os resultados dependem da regressão ou não da doença.
Meller também lembra que a raridade da saída escolhida por Jimmy também pode levantar dúvidas a respeito da eficácia do tratamento, já que, “do ponto de vista científico, um caso significa praticamente nada”.
Ele acredita que uma das possibilidades é que tenha ocorrido um efeito placebo, fenômeno psicológico no qual o paciente acaba vendo melhoras pela simples crença de que o tratamento realmente surtirá efeitos.
Além dessas, outra ressalva importante para quem pensa em adotar essa saída no combate à disfunção erétil diz respeito à duração dos resultados.
“Como o processo de envelhecimento é contínuo, e muitos problemas crônicos que agravam este quadro, como a hipertensão arterial e o diabetes, dificilmente são curados, os pacientes precisarão de novas aplicações no futuro”, adverte Antonio Tavares.
Fora isso, como lembra Meller, também é preciso considerar que o plasma é absorvido pelo organismo com o passar do tempo. Dessa forma, mesmo que haja uma melhora em um primeiro momento, seria preciso continuar as aplicações para manter os resultados desejados no tratamento dos problemas de ereção.
De toda forma, como o P-Shot é um tratamento novo, ele não descarta que a alternativa possa se revelar eficiente no futuro. “Talvez ele tenha até um sucesso, mas ele precisa ser testado em protocolo clínico para encontrar, realmente, qual o nível de sucesso disso”, avalia o urologista da UNIFESP e do Hospital Israelita Albert Einstein.
E a preocupação dele encontra respaldo em uma resolução do Conselho federal de Medicina de 2015. Segundo Antonio Tavares, “o CFM, através da resolução 2.128/2015, restringiu o uso de PRP no Brasil à experimentação clínica, dentro dos protocolos do sistema de Comitês de Ética e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa”.
Para ele, a medida pode ser benéfica, podendo levar a uma prática mais eficaz do tratamento, pois “será justamente com estudos clínicos controlados que considerem diferentes tipos de PRP conforme a concentração de leucócitos [glóbulos brancos] e fibrina [proteína que auxilia na coagulação], que poderão ser definidos os protocolos mais eficazes”.
Com todas essas considerações em jogo, o P-Shot pode ter de esperar um pouco mais para virar uma opção de tratamento para a disfunção erétil no Brasil.