Depois de se transformar em um dos maiores sucessos do mercado literário brasileiro, a ex-prostituta Bruna Surfistinha está envolvida agora com os detalhes da produção do longa-metragem sobre a sua vida.
O filme tem argumento do badalado cineasta Karim Aïnouz (“O Céu de Suely” e “Madame Satã”), em parceria com a escritora Antonia Pellegrino, que escreve o roteiro.
No mês passado, a Agência Nacional do Cinema aprovou a captação, por meio de leis de incentivo fiscal, de R$ 263 mil para desenvolver o projeto. Quando tiver o roteiro pronto, a produtora responsável pelo filme, a carioca TV Zero, deverá pedir mais verba para a produção.
O filme tem direção de Marcus Baldini, que estréia em uma grande produção e a quem Surfistinha concede entrevistas quinzenais nas quais conta detalhes de sua vida de garota de programa de luxo.
Os encontros são filmados e é possível que, além de dar subsídios para o roteiro do longa-metragem, o material seja utilizado posteriormente para um documentário sobre a garota. “Ele quer saber todos os detalhes, como era a minha reação perante os clientes, história da minha infância, como foi o dia em que eu fugi da minha casa”, conta a ex-prostituta à Folha.
Surfistinha também se encontrou em 2006 com Aïnouz e Pellegrino, que estiveram em seu apartamento, em São Paulo. Essas conversas irão se somar aos relatos da ex-prostituta no best-seller “O Doce Veneno do Escorpião” (ed. Panda Books), que dá nome ao filme.
Lançado em 2005, o livro vendeu 250 mil exemplares e foi exportado a vários países. O convite para escrevê-lo partiu da editora, interessada no sucesso do blog de Surfistinha.
Com o estouro das vendas, ela disse ter abandonado a prostituição e passou a atender pelo seu verdadeiro nome, Raquel Pacheco, 22 anos.
Em “O Doce Veneno do Escorpião”, a garota, sorocabana de classe média alta, conta como fugiu de casa, aos 17 anos, após uma briga com a família, e se transformou em prostituta. Ex-aluna de colégios tradicionais paulistanos, como o Bandeirantes e Imaculada Conceição, ela trabalhou em bordéis dos Jardins e Moema, bairros nobres da cidade.
Assim como no livro, no cinema não faltarão cenas de Surfistinha “em ação” com homens, mulheres, homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres etc etc. Produtor-executivo do longa, Rodrigo Letier afirma: “Nós não vamos prometer e deixar de entregar”. Ele nega, contudo, que o filme será erótico ou muito menos pornográfico.
“A história é colada no drama da personagem. É claro que não estamos falando no drama de uma freira. Mas o filme está comprometido com Surfistinha, com o que ela tem de especial”, diz Letier.
O objetivo da produtora é achar a dose exata para que “O Doce Veneno…” seja liberado a maiores de 16 anos e não de 18, visto que Surfistinha tem grande apelo com o público teen.
A preocupação é achar o limite nas cenas de sexo e, especialmente, nas menções às drogas, cuja presença na vida da Surfistinha do cinema deverá ser atenuada, a fim de não assustar os responsáveis pela classificação etária do longa.
Letier também afirma que “O Doce Veneno do Escorpião” não irá glamourizar a prostituição ou transformar Surfistinha em heroína. “Mas é claro que mostrará que ela é uma garota de muita determinação.”
O roteiro deverá ser finalizado no próximo mês. As filmagens estão planejadas para o segundo semestre. A previsão de estréia é 2008. O elenco, apesar de alguns nomes cogitados, não está fechado. O grande dilema da produtora é o nome da atriz que será Surfistinha.
HQs e outro livro
Enquanto o longa-metragem não é lançado, Raquel Pacheco, ex-Surfistinha, segue faturando. Ela acaba de fechar com uma empresa o lançamento de histórias em quadrinhos eróticas de Surfistinha na internet.
Também negocia um terceiro livro com a Panda Books. Seu segundo, “O que Aprendi com Bruna Surfistinha” (2006), vendeu 18 mil exemplares, bem menos do que o primeiro, mas ainda um bom resultado no fraco mercado editorial brasileiro.
Por fim, prepara a inauguração de um ponto comercial em Moema, no qual pretende misturar cafeteria e venda de cosméticos, algo como uma “butique erótica”, em suas palavras.
“Venderei produtos artesanais, como óleos de massagens e hidratantes. A higiene é o ponto principal do sexo. Não adianta estar com a pessoa perfeita, se não houver higiene.”
FOL