Os 15 militares britânicos detidos por forças iranianas há dez dias admitiram nesta segunda-feira terem invadido águas territoriais do Irã, informou hoje a TV estatal de Teerã.
No entanto, segundo a Isna, agência de notícias oficial iraniana, o país não exibirá as imagens das supostas confissões devido à “mudança de postura” do Reino Unido no impasse.
A Isna não detalhou a que tipo de mudança Teerã se refere, mas, neste domingo, o ministro da Defesa do Reino Unido, Des Browne, afirmou que seu governo está em “comunicação direta” com Teerã para negociar a libertação dos soldados capturados.
Al Alam via APTN/AP
Imagem de TV mostra soldado apontando local da captura em mapa do Golfo Pérsico
Um porta-voz do Ministério da Defesa informou que Browne se referiu a cartas trocadas por diplomatas e não a negociações cara-a-cara entre representantes dos dois governos. Hoje, o Reino Unido rejeitou as declarações sobre confissões, dizendo que elas são “inaceitáveis”, e reiterando que os militares faziam uma inspeção em águas iraquianas quando foram detidos.
A controvérsia, que dura dez dias, já causou o corte das relações entre Reino Unido e Irã.
Os dois países viveram um incidente similar em 2004, quando o regime de Teerã manteve detidos durante três dias oito militares britânicos acusados de entrarem de forma ilegal em águas territoriais do Irã no golfo Pérsico. Na época, o Reino Unido também negou a invasão.
A tensão teve início na mesma semana em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra Teerã por sua insistência em manter seu programa nuclear.
Neste domingo, a TV iraniana mostrou novas imagens dos marinheiros britânicos. Dois soldados, mostrados separadamente, vestem uniformes militares e falam para a câmera, mas suas vozes não são transmitidas.
No lugar do aúdio original, um locutor afirma que ambos confessaram ter invadido águas iranianas. Nas imagens, os soldados britânicos apontam o local onde foram capturados em um mapa do golfo Pérsico.
Cartas
Na sexta-feira (30), a Embaixada iraniana em Londres divulgou uma terceira carta supostamente escrita pela marinheira britânica Faye Turney, 26, na qual ela critica a política adotada pelos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos no conflito no Iraque.
AP
Vídeo mostra Faye Turney, 26, a única mulher do grupo de 15 marinheiros britânicos
Na carta, Turney defende ainda que o Reino Unido e os EUA retirem suas tropas do Iraque e permitam que o país “se reerga por conta própria”. “É chegada a hora de o governo [britânico] mudar seu comportamento opressivo contra outros povos”, diz ainda o texto.
A primeira carta atribuída à marinheira britânica foi divulgada pelo Irã na quarta-feira (28). No texto, ela já admitia que o grupo havia entrado em águas do Irã. Uma segunda carta foi divulgada ontem pela rede Sky News. “Eu pergunto à Câmara dos Comuns por que deixam episódios como este ocorrerem novamente, e por que o governo não foi questionado”, dizia.
Além da nova carta, o Irã também divulgou na sexta-feira um vídeo que mostra um dos 15 militares britânicos detidos há uma semana por forças iranianas, Nathan Thomas Summers, pedindo desculpas pelo grupo ter supostamente invadido áreas territoriais ido Irã.
Turney apareceu em um primeiro vídeo divulgado pelo Irã na quarta-feira (28). Na gravação, a marinheira também admite que o grupo violou o limite da fronteira entre o Iraque e o Irã.
O premiê britânico, Tony Blair, afirmou que os vídeos são “manipulados” e “não enganam a ninguém”, e reiterou que a via diplomática é a “única solução possível” para a crise.
União Européia
Também na sexta-feira, a União Européia (UE) exigiu a libertação imediata dos 15 militares.
Marcelo Katsuki/Fol
Em um comunicado, o bloco europeu condena a prisão e reiterou seu “apoio incondicional ao governo do Reino Unido”.
“A União Européia reforça o pedido para a libertação imediata e incondicional dos militares. Todas as evidências indicam que, no momento da captura, a equipe britânica realizava uma patrulha em águas iraquianas”.
O bloco de 27 países afirmou que a detenção dos britânicos foi uma “afronta” à lei internacional, e que tomará “as medidas necessárias” caso o Irã se negue a libertá-lo.
Não ficou claro que tipo de medida poderá ser tomada para solucionar a crise. A UE afirmou que voltará a tratar do caso em 15 dias caso a controvérsia ainda não esteja resolvida nesse prazo. O bloco exigiu também que o Irã revele onde os marinheiros e marines estão detidos, e permita que o governo britânico tenha acesso consular aos militares.
ONU
Na quinta-feira (29), o Conselho de Segurança (CS) da ONU (Organização das Nações Unidas) também pediu ao Irã que liberte os 15 britânicos detidos.
“O Conselho de Segurança da ONU expressa grande preocupação com a captura, pela Guarda Revolucionária, e pela contínua detenção pelo governo do Irã dos 15 membros da Marinha do Reino Unido, e apela ao governo do Irã para permitir acesso consular aos detidos, nos termos das leis internacionais relevantes”, diz o texto do comunicado.
“Membros do Conselho de Segurança apoiam o pedido por uma solução rápida para o problema, incluindo a libertação dos 15 britânicos”, acrescenta o CS da ONU.
FO