Cinco roteiros, quatro curtas-metragens, um piloto de série, três produtoras e oito diretores associados: Números expressivos da união de forças de profissionais do audiovisual mato-grossense que idealizaram o projeto Box de Curtas. Nesta sexta-feira (24), os realizadores lançam os curtas-metragens e o piloto de série em sessão especial no Cine Teatro Cuiabá, a partir das 20 horas. A entrada é gratuita.
O que eles têm em comum? Todos os projetos audiovisuais foram aprovados no edital de Produção de Obras Audiovisuais, iniciativa da Secretaria do Estado de Cultura, Ancine e Fundo Setorial do Audiovisual. Lançado em 2016, promete frutos para além de 2018, já que muitos destes filmes a serem exibidos nesta ocasião, já estão ganhando o país sendo selecionados em festivais independentes e claro, dada a qualidade cinematográfica, ganhando o mundo.
De acordo com a produtora executiva do box de curtas, Bárbara Varela, o sistema de produção em modo cooperado, resultou em produtos de maior qualidade técnica e artística. “O objetivo foi dispor, para todos os departamentos, equipamentos, tecnologias avançadas e recursos humanos e técnicos compatíveis com as demandas de cada filme”, destaca.
As filmagens começaram em abril deste ano, com o curta-metragem “Aquele Disco da Gal”. Depois daí, em curto período de tempo de intervalo, os outros foram sendo produzidos. A grande movimentação transformou Cuiabá em um grande set de filmagens, com os projetos sendo rodados em diversas locações.
O secretário de Estado de Cultura, Leandro Carvalho, pontuou o esmero. “É uma satisfação imensa ver a alta qualidade e profissionalismo dos filmes resultantes do primeiro edital de produção da SEC, em parceria com a Ancine. Esta ação integra o Programa de Desenvolvimento do Audiovisual Mato-Grossense (Prodam/MT), que pretende fortalecer o setor e transformar o estado num polo de produção de cinema”, disse.
No total foram investidos R$ 650 mil no Box de Curtas, com a geração de 250 empregos diretos e cerca de 60 indiretos e um estímulo intenso a outros setores da cadeia produtiva, como o de serviços de hospedagem, alimentação e transporte para produtores, atores e equipe técnica.
Aproximadamente 180 figurantes e 30 atores profissionais atuaram nos cinco projetos e cada set de produção de filmes contou com mais de 40 técnicos em cinema. O corpo de produção e técnico foi de mais de 80%, formado por profissionais de Mato Grosso.
“Todas essas produções hoje são possíveis graças a um coletivo de roteiristas, diretores e produtores que se uniram há dois anos com o objetivo de fazer cinema e produções audiovisuais”, comemora Varela.
Ela afirma que o estímulo às produtoras mato-grossenses é fundamental para que seja possível o desenvolvimento de cinema no Estado, bem como o aperfeiçoamento da cadeia produtiva, como o que está ocorrendo como resultado do processo seletivo.
“Os editais lançados pela Secretaria de Estado de Cultura garantiram investimento no audiovisual com qualidade nos roteiros e na produção dos filmes. Isso reforça como o poder público pode e deve estimular a cadeia produtiva”, lembra.
Segundo ela, foram raras as produções locais que puderam contar com um ambiente tão avançado de trabalho audiovisual, o mais próximo do que se pratica nos grandes polos nacionais. “Ambiente este que gerou grandes expectativas futuras em todos os profissionais, principalmente no que diz respeito ao aprimoramento técnico e profissional”.
“A SEC/MT através do Secretário Leandro Carvalho e seu corpo técnico, têm consolidado um trabalho de fundamental importância para o desenvolvimento do polo cinematográfico regional. Os próprios profissionais foram até ele narrar as vivências, testemunhando a transformação positiva do cenário, além de visualizar com o desenvolvimento do setor e ver o sonho de trabalhar com o cinema – e garantir renda – com o efervescente momento”, finaliza.
Exemplo
A experiência foi tão bem sucedida que está servindo de exemplo para outros polos regionais do Brasil que estão fomentando a produção audiovisual. Três filmes do box: Teodora quer Dançar, Juba e A gente nasce só de mãe, foram selecionados para o 12º Comunicurtas, um festival de cinema da Paraíba e os organizadores entraram em contato com a equipe para saber o que está acontecendo no audiovisual de Mato Grosso.
“Fomos convidados pela Paraíba para apresentar o Box de Curtas e eles estão empolgados porque nos falaram que viram nos filmes de Mato Grosso uma luz para seguir adiante num segmento que é tão difícil como o cinema”, conta Bárbara Varela, que vai para o evento na última semana de novembro.
Filmes e temas
Os filmes que serão rodados pelo box de produção que envolve a A Produtora, Molêra Filmes e Leão Film, trabalham temas diversos, desde a recriação de uma das mais famosas lendas urbanas da Cuiabá antiga, até abordagens sociais contemporâneas.
O filme Teodora Quer Dançar, da roteirista Samantha Col Debella, foi baseado na lenda da mulher de máscara que aparecia nos bailes de carnaval do antigo Clube Feminino de Cuiabá. “O enredo de Teodora foi trazido para os dias atuais e o cenário passa a ser um dos points da cidade: a Praça da Mandioca. A lenda moderna continua permeando os temas amor e morte, mas o filme tem como eixo dramático a história de como o amor pode ser sublime e assustador ao mesmo tempo”.
Já a roteirista Caru Roelis conta no filme A gente nasce só de mãe a história de um dia na vida de Emylly, uma garota de 17 anos que vive com dois irmãos menores e o filho recém-nascido, em condições precárias na periferia da cidade. “O filme visa impactar a ficção com a realidade à qual muitas vezes fechamos os olhos. É um filme dramático, cru e realista, com a pretensão de incomodar o público e fazê-lo pensar no tema essencial da história: o quanto a falta de estrutura familiar alimenta o ciclo da miséria”, completa.
O curta-metragem Juba, de Severino Neto e Rafael de Carvalho, “é um filme sensível que se concentra nos sonhos e dramas vividos por jovens artistas de rua, agravados pela maternidade precoce e suas difíceis escolhas pela sobrevivência”, conta Neto.
A série de ficção Ciranda discute questões de identidade de gênero e de orientação sexual. “É a busca pela realização do desejo e do afeto contada por histórias que não querem cair numa sistematização maniqueísta de bons e maus, certos e errados”, comentam os roteiristas Felippy Damian e Angela Coradini.
Por fim, Aquele Disco da Gal evidencia o que se altera em cada pessoa quando as mudanças da vida oferecem novos caminhos. "Mariana decide deixar o apartamento onde viveu por mais de uma década com o agora ex-marido Henrique e com a filha adolescente Natália. Natália contraria a mãe e decide permanecer em casa com o pai. Juntos, pai e filha aprendem a lidar melhor um com o outro”, antecipam os criadores da história, Juliana Curvo e Diego Baraldi.