Por Will Dunham WASHINGTON (Reuters) – Cientistas capturaram uma imagem do vírus da Aids em um aperto de mãos biológico com as células imunológicas que ele ataca, e disseram na quarta-feira que isso pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina.
Eles localizaram uma região no exterior do vírus HIV que pode ser vulnerável a anticorpos que o impediriam de contaminar células humanas.
O pesquisador Peter Kwong, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NHI), disse que o estudo, publicado na revista Nature, pode significar o fim da longa busca pelo “local de vulnerabilidade” em que o HIV poderia ser atingido por uma vacina.
“Ter esse local e saber que se podem produzir anticorpos contra ele significa que uma vacina é possível”, afirmou Kwong por telefone. “Não quer dizer que chegamos lá. Mas sai da lista dos sonhos impossíveis e vira algo que é uma barreira técnica.”
Especialistas concordam que a eventual vacina será a única forma de conter a pandemia que matou mais de 25 milhões de pessoas desde 1981. Atualmente, há cerca de 40 milhões de soropositivos no mundo, a maior parte na África.
Embora haja dezenas de vacinas sendo desenvolvidas, só duas estão em estágio avançado de testes em humanos — uma do laboratório Merck, outra do Sanofi-Aventis. A descoberta da imunização é especialmente difícil porque o vírus ataca células imunológicas.
A equipe do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas e Alergias, ligado ao NIH, fez a descoberta usando imagens dos átomos dos vírus, que mostraram a estrutura de uma proteína na superfície do HIV no momento de choque com um anticorpo. Eles disseram que essa proteína, chamada gp120, parece suscetível a ser atacada por esse anticorpo, o b12. Anticorpos são proteínas do sistema imunológico que ajudam a localizar e destruir invasores como vírus e bactérias.
Os pesquisadores detalharam a interação precisa no momento em que o vírus tenta agarrar e contaminar as células enviadas para proteger o corpo.
“O primeiro contato é como um cauteloso aperto de mãos, que então vira um caloroso abraço de urso”, disse Gary Nabel, especialista em vacinas do NIH e co-autor da pesquisa.
O vírus usa a proteína gp120 para obter acesso às células-T CD4 que infecta. Mas os pesquisadores também descobriram que o anticorpo b12 pode bloquear esse processo.
O vírus sofre rápidas e contínuas mutações para driblar o sistema imunológico, e também se esconde de forma a impedir os anticorpos de bloquearem as proteínas que o HIV usa para grudar numa célula e infectá-la.
Daí a importância dessa área de vulnerabilidade, segundo Nabel. “Certamente é uma das melhores pistas a aparecerem nos últimos anos”, afirmou.
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