Jamais a gente deveria permitir o contato de uma criança com qualquer tipo de tecnologia antes dos 2 ou 3 anos de idade. Elas podem se tornar adultos com doenças mentais graves.
“Meu filho já sabe mexer no Ipad! É tão bonitinho!”
Esse tipo de conversa, ouvida em várias rodinhas de mães e pais, deveria chocar em vez de ser comemorada, segundo Dr. Cristiano Nabuco, Psicólogo e Coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da HC, Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele conta ao blog com preocupação o que tem visto nos consultórios. Crianças viciadas em smartphones, videogames e tablets, incapazes de se relacionar (sem ser virtualmente), de se concentrar ou prosseguir com um raciocínio lógico. “Estamos criando uma geração de alienados”, garante.
Existe uma frase do livro do Conde Drácula que fala que ‘o mal é uma porta que se abre por dentro’. O mal que a tecnologia causa também é uma porta que se abre pelo lado de dentro. Podemos e devemos dar o acesso à tecnologia em certos momentos. Mas esse acesso deve ser controlado e, mais do que isso, não podemos esquecer que os mais novos imitam o comportamento dos mais velhos. Não adianta eu restringir o acesso se eu for o primeiro a levar o telefone para mesa ou para cama. Eu, como pai, mãe ou cuidador também tenho que estar apto de abrir mão de uso para servir de exemplo.”
FOLHA: Como a tecnologia pode causar dependência nos mais jovens?
Dr. Cristiano Nabuco: Alguns estudiosos já dizem que a tecnologia é o novo vício do século 21. Assim como existe a dependência química, existe também a dependência comportamental. E no uso patológico da internet e do celular, muito embora não exista a ingestão de uma substância externa, os efeitos e dependência observados são muito semelhantes.
FOLHA: A partir de que idade você pode dar um smartphone para uma criança?
Dr. Cristiano Nabuco: O que a gente recomenda é que nunca, nunca, jamais a gente deveria permitir o contato de uma criança com qualquer tipo de tecnologia antes dos 2 ou 3 anos de idade. Já se sabe, por exemplo, que quanto mais você utilizar a tecnologia, piores serão suas funções cognitivas como a memória e desenvolvimento da atenção. O manuseio contínuo das redes sociais, das buscas, da música e da fotografia, à ‘caça’ ao Pokemon, tudo isso cria uma poluição que compromete profundamente da lógica e a capacidade de raciocínio.
O neurologista Luciano Ribeiro, da Associação Brasileira do Sono, destaca que o uso exagerado de smartphones e tablets prejudica a qualidade do sono, o que leva a problemas cardiovasculares, doenças endócrinas, como diabetes e obesidade, além de problemas emocionais e mentais.
AFolhaBrasil