desembargador Orlando Perri revogou, nesta quarta-feira (4), a prisão preventiva do empresário José Marilson da Silva, preso durante a Operação Esdras suspeito de participar de um esquema de interceptações telefônicas clandestinas em Mato Grosso, que era operado por policiais militares. O empresário, que estava detido no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) desde o dia 27 de setembro, deixou a prisão no início da noite.
Segundo consta na decisão do magistrado, que é o relator do inquérito dos grampos no Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Marilson foi preso por suspeita de tentar atrapalhar as investigações. Além disso, ele é apontado como o responsável pelo desenvolvimento do sistema "Sentinela", usado para a realização dos grampos.
O pedido de revogação da prisão de Marilson foi feito pelos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringueta. Eles argumentaram que, após ser interrogado, o empresário "sanou as contradições detectadas em seus depoimentos prestados anteriormente".
"Portanto, se havia indícios suficientes de participação de José Marilson da Silva na organização criminosa […] tal conclusão modificou-se com seu seguro e convincente depoimento, não subsistindo, por ora, os motivos que autorizaram a decretação da prisão preventiva", diz trecho da decisão.
Perri argumenta, na decisão, que apesar de estar colaborando no momento, o empresário pode voltar a atrapalhar com a criação de álibis falsos ou com o intuito de desviar o foco das investigações, razão pela qual impôs medidas cautelares que devem ser obedecidas pelo suspeito.
Portanto, Marilson está proibido de deixar a cidade, bem como está proibido de entrar em contato com outros réus, investigados e testemunhas no caso dos grampos. Ele também não pode falar com pessoas ligadas ao governo do estado – incluindo ex-secretários estaduais – e está proibido de entrar em órgãos atuantes na área de inteligência da Polícia Militar, como a Casa Militar e o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Participação no esquema
Segundo as investigações, José Marilson teria desenvolvido o sistema que foi comprado pelo coronel PM Evandro Lesco e utilizado no falso Núcleo de Inteligência da Polícia Militar para realizar as interceptações telefônicas. Lesco e outros quatro policiais já foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por envolvimento com o esquema. O coronel está preso no 3º Batalhão da PM, em Cuiabá.
Conforme Perri, há documento juntado no inquérito que aponta, ainda, que o empresário seria o responsável por ter desinstalado o rack do sistema usado para os grampos – equipamento este que, até hoje, não foi localizado.
Grampos
O esquema foi denunciado à Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança em 2015. Ele diz que recebeu denúncia do caso naquele ano e que alertou o governador Pedro Taques.
Agora, a PGR investiga se Taques sabia do crime e de quem partiu a ordem para as interceptações. O governador, por sua vez, nega que tinha conhecimento sobre o caso.
Segundo consta na denúncia, políticos de oposição ao atual governo de Mato Grosso, advogados, médicos e jornalistas tiveram os telefones grampeados.
Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas que teria o envolvimento de policiais militares. O resultado dessa investigação, porém, não foi informado pelo governo até hoje.
Fontw:G1-MT