Fui fazer um curso de ioga com a Meghan Currie na Indonésia e voltei com uma mala cheia de cacau e estas fotos guardadas. Fiquei um mês lá, acordando às 4 e meia, fazendo duas práticas de ioga por dia, aula de filosofia, aula de anatomia, nadando no rio e tirando fotos. Se estivesse me procurando, meu quarto era aquele com uma pequena montanha de frutas do lado da porta. Pitaia, banana-ouro, manga, fruta-cobra, cacau. Às vezes, os pássaros roubavam as frutas. Às vezes, eram as mulheres.
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Era um ambiente especial: 38 mulheres, contando eu, e dois homens, perdidos numa praia pequena de areia preta com ondas tubulares. As mulheres eram incrivelmente doces. A doçura, para mim, era o grande lance da experiência: os momentos eram cheios de gentilezas propositais e intensas. Eu entrava pela janela do quarto da Emma para deixar flores no travesseiro quando sabia que ela estava almoçando.
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A Victoria deixava barrinhas de amêndoas escondidas na minha bolsa. Todo mundo estava sempre deixando bilhetinhos, recadinhos de amor escritos à mão. Quando alguém achava um maracujá maduro, guardava para dividir. Se isso parece um paraíso encantado ? três dúzias de mulheres numa praia vulcânica, fortes e alongadas, que só andavam de biquíni, constantemente suadas, uma por cima da outra, e esmagando frutas na pele ?, é porque era mesmo. Não preciso exagerar ao dizer como todas eram bonitas, sensuais e fortes. Todas tinham as suas fraquezas e o lugar as deixava à mostra. Todo mundo chorava. Todo mundo estava sempre pelado. Todo mundo se amava.
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Comecei a fazer as imagens das meninas comendo pitaia, pois as pitaias crescem doces e fartas lá e têm essa cor incomparável. Se quiser ver um tanto de meninas empolgadas, eis uma receita. Fala para elas tirarem a roupa primeiro e sentarem no gramado, ou na areia, ou no chão da varandinha na frente do quarto. Dá uma pitaia pra cada, fala que é para abrir com a mão mesmo, sem faca. Elas vão fazer uma cara de susto, arregalar os olhos, abrir um sorriso tímido. Fala para elas deixarem a fruta pingar na pele e para enfiarem na cara um pouco mais. Pede para elas soltarem a língua, lamberem o dedo. Cara, fazer isso deixa as pessoas de um bom humor inacreditável. A gente não tem tantas oportunidades para ser criança, para sentir a própria pele. Às vezes é preciso enfiar uma fruta no rosto mesmo.
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Tinha a Catherine. A primeira vez que a notei, ela estava na beira da piscina, com os pezinhos na água, fazendo bambolê. Todo mundo estava olhando para ela, ela sabia, ela adorava. Catherine é enfermeira em New Orleans e faz apresentações de bambolê em festivais de música. É o tipo de menina que pega carona na garupa da sua moto sem capacete, que sabe se pintar e se montar e que fica mais linda do que nunca nua e de cara limpa e coberta de areia preta. Tem um sorriso gigante que abre quando você tira foto. Ela curte a sua pele, as suas curvas, a própria sensualidade. É uma mulher que ama muito o próprio corpo, que sente tudo firme, que toma vitamina de amendoim para manter o bumbum. Uma vez, eu estava sentada com um livro e vi ela passando, indo para a praia sozinha. Corri atrás: “A luz está tão bonita”, disse, “vamos fazer uma foto?”. Depois de dois cliques, ela olha pra mim e fala: “Autumn, prefiro ficar pelada, tudo bem?”. E continuou se alongando, se esticando, se amando.
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Um dia, no meio de uma aula, a professora disse: “Então, a Victoria vai mostrar um negócio aqui, mas, antes, vamos só apreciar a beleza”. E daí todo mundo ficou lá uns 5 minutos, só reparando em como ela era linda. As pernas, meu Deus! E Victoria lá, no meio da sala, com vergonha, olhando pro chão. Ela é meu xodó, tem talvez 1 metro e 50, a barriga trincada, olhos de Capitu. Em muitos sentidos é muito nova, mas é uma mulher muito forte e tinha tanta coisa para me ensinar. Me ensinou a fazer parada de mão, pacientemente, todo dia me mostrando os pequenos truques de balançar o peso na ponta dos dedos. Me ensinou a escalar a pedra grande no meio do rio. Dei um dos meus biquínis para ela, pois ela só tinha um biquíni gigante que não fazia jus ao espetáculo que era sua bunda. Depois disso, encontrava ela na praia dando voltinhas com o biquíni novo, falando que estava bronzeando o bumbum.
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Danelle, uma moça da Nova Zelândia, teve essa conversa comigo quando a vi pelada pela primeira vez:
Eu ? Nossa, que peitos lindos você tem.
Ela (abrindo um sorriso contagioso) ? Eu sei! Eu adoro eles!
Danelle faz desenhos de mulheres nuas em carvão. Uma noite, ela apareceu no meu quarto, tirou a roupa e começou a me desenhar, ajoelhada na minha cama, a luz amarela do abajur deixando sua pele ainda mais suave, o olhar concentrado, as mãos sujas de carvão.
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Allie, uma moça de 19 anos que estuda medicina na Califórnia, nunca falava, sempre se escondia num canto. Demorei umas três semanas para realmente reparar nela, em um dia em que ela, do nada, veio praticar do meu lado. Quase caí no chão de tão elegante que eram seus movimentos, como era esguia e cheia de potencial, como cada movimento dos dedos tinha uma certeza e uma profundidade que nunca esperava. A partir desse momento, comecei a me posicionar ao lado dela só para delirar na sua presença.
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Advogada em Los Angeles, Jackie estava sempre vestindo um top que combinava com a legging e que também combinava com seu tapetinho. Era minha vizinha, dormindo no quarto ao lado, e me chamava de madrinha tropical, pois ensinei ela a abrir um coco seco, a descascar abacaxi, a saber o ponto do maracujá. Ela dava aula de spinning antes, e tem as pernas esguias e firmes da bike.
Nasceu em Minnesota, um estado em que a temperatura chega a 12 graus negativos no inverno, mas hoje mora na Califórnia e tem o cabelo loiro e o bronze que se espera de alguém que mora no sol. Na aula, Jackie anotava tudo que a professora falava, com a letra pequena e organizada, nesses blocos de notas amarelos que todo advogado americano usa.
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Essas são só algumas histórias soltas. Há tantas outras ? enchi cadernos e cadernos de anotações sobre elas, sobre as frutas, a cor da areia, a ondulação do mar. Na última noite, aluguei uma casa em Ubud, no meio dos arrozais, com a outra Victoria e a Emma. Fizemos um jantar imenso. Alugamos uma moto para fazer as compras, eu dirigindo, as duas atrás com os cabelos ao vento.
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Victoria é uma massagista finlandesa que nasceu numa vila de 50 habitantes, mora na Nova Zelândia, tem esse rosto puro, um olhar tão confrontador que me dá vontade de chorar, e o corpo poderoso e solto de uma contorcionista. Emma, com a voz suave e educada, o inglês incrivelmente correto de quem estudou naquelas escolas só para meninas, e que tem a melhor pele de uma mulher de 40 anos que já vi. Vou colocar isso na lista dos melhores momentos da vida: andar de moto descalça com duas loiras que amo e que me amavam na garupa e um pôr do sol que queimava a pele de tão lindo, meu corpo mais forte do que nunca, o cheiro de incenso dos templos, sacolas cheias de frutas caindo dos nossos ombros, o barulho do motor, e a minha mão firme no guidão.