"Bill Gates não criou nada e ainda roubava ideias! É por isso que, hoje, ele se sente feliz fazendo filantropia", disse Steve Jobs acerca do homem mais rico do mundo. O mesmo vale para o império McDonald&39s, que foi construído à base de traição e ódio. Recentemente, em mais uma de suas 3 bilhões de aulas públicas, Leandro Karnal declarou uma verdade valiosa: "possivelmente atrás de toda grande fortuna sempre há esqueletos no armário". Para exemplificar isso, até pouco tempo, lembram?, Eike Batista era o herói brasileiro do enriquecimento. Hoje, é só mais um réu. Por fim, citemos o ricaço mito do sucesso do momento: João Doria, prefeito de São Paulo… Até quando esse magnata paulistano vai conseguir se esquivar do mesmo caminho desmoralizante dos seus amigos multimilionários? &mdash Ou seja, a acumulação material é realmente uma virtude ou é apenas mais um vício velado?!
A riqueza é um fenômeno social, histórico, que possibilita um desproporcional acúmulo de poder para determinadas pessoas ou pequenos grupos. Tal desproporção, para que continue existindo e sendo aceita na sociedade, precisa constantemente inventar novas justificativas. Em outras palavras, é preciso contar uma narrativa persuasiva à multidão de pobres e miseráveis para tentar esconder os privilégios a que apenas uma micro-minoria aristocrática tem acesso.
Essa desculpa dos ricos já foi formulada de muitos modos. Às vezes, se diz que a riqueza é dom de Deus, é uma graça alcançada, que Deus (não sabemos bem que Deus é este) engorda alguns enquanto deixa que quase todos os outros morram de fome. Fora a justificativa religiosa, outra muito importante é a justificativa oligárquica, que promove a ideia de que as terras e o ouro roubados no passado, pelos avós e bisavós, são hoje uma posse legítima dos então herdeiros. E, ainda, fora esta última desculpa, pautada em leis de um Direito burguês, tem também a narrativa contemporânea da meritocracia: que tenta persuadir o povão, com inúmeras falácias e mentiras, dizendo que os muito ricos são pessoas demasiadamente trabalhadoras e, por isso, tudo o que Eike Batista ou Marcelo Odebrecht têm é fruto do seu próprio e honesto suor e talento.
Mas, enfim, de modo especial a classe média culta, diferente da massa miserável e analfabeta criada, deveria ter consciência suficiente para fazer esse debate: até quando vamos engolir essas narrativas que endeusam os ricos enquanto tornam a vida dos pobres um inferno? E o principal problema a ser enfrentado, que meios são possíveis de criar para diminuir a crescente desigualdade material na cidade, no país e no mundo? Tais questões precisam ser enfrentadas por esta geração! Senão, além da pobreza material, ainda teremos a pobreza de espírito e de política, que nos faz aceitar a corrupção dos ricos e a perpetuação dos privilégios sem que levantemos a nossa voz, sem que tentemos construir um mundo mais justo e mais igual para os nossos filhos e netos.
Wellington Anselmo Martins, graduado em filosofia (USC), mestrando em Comunicação (Unesp), bolsista de pesquisa (Capes).