segunda-feira, 07/10/2024
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Sistema penitenciário é tão falho que preso fica à vontade para usar drogas, comandar mortes e impor suas regras

O Brasil &eacute o quarto pa&iacutes do mundo em n&uacutemero de presos. Somente no Estado de S&atildeo Paulo s&atildeo 230 mil, em 166 unidades prisionais, todas superlotadas e muitas com o triplo da capacidade. N&atildeo bastasse o caos no sistema penitenci&aacuterio brasileiro, restam ainda 560 mil mandados de pris&atildeo a serem cumpridos no Brasil. Onde vamos colocar tantos criminosos?

Em meio ao caos, estamos n&oacutes, agentes penitenci&aacuterios. Somos a separa&ccedil&atildeo entre os criminosos e o estado, ali&aacutes, somos a &uacutenica presen&ccedila do estado no meio do crime. Juntamente com os presos, somos aquilo que a sociedade prefere esquecer que existe. Ali&aacutes, nem mesmo em tempos de crise no sistema, somos lembrados. Esquecem que esses agentes suportam diariamente amea&ccedilas, s&atildeo agredidos nas unidades e, muitas vezes, executados nas ruas pelo crime organizado, simplesmente por exercermos nossa profiss&atildeo.

O sistema carcer&aacuterio &eacute t&atildeo falho que hoje &eacute o melhor lugar para se ficar impune ao cometer um crime. L&aacute, pode-se usar drogas livremente sem ser incomodado e comandar mortes e crimes nas ruas e nos pres&iacutedios. Em S&atildeo Paulo, inclusive, n&atildeo h&aacute nenhum risco de um preso de uma fac&ccedil&atildeo ser morto por outro de fac&ccedil&atildeo rival, pois o estado d&aacute prote&ccedil&atildeo, j&aacute que divide as unidades entre os grupos criminosos. E mais: se for l&iacuteder de fac&ccedil&atildeo, ter&aacute a seguran&ccedila refor&ccedilada pelo estado. Para eles, o crime compensa, pois matam os desafetos e ficam impunes.

E quando tais crimes ocorrem dentro das unidades, mesmo que os agentes presenciem, eles nada podem fazer, a n&atildeo ser assistir, pois est&atildeo de m&atildeos atadas, apenas com um molho de chaves para abrir e trancar celas. L&aacute no pres&iacutedio as leis do estado n&atildeo existem e sim a lei do crime organizado, pois, onde o estado n&atildeo manda, as fac&ccedil&otildees criam suas leis pr&oacuteprias. Funcionam como um estado paralelo, inclusive com tribunal do crime e pena de morte.

E se o estado sabe que a lei do crime opera nas unidades, por que ent&atildeo n&atildeo pode intervir? Primeiro, pela falta de infraestrutura das pris&otildees superlotadas, com presos soltos livremente por toda a unidade, o que favorece o crime organizado. Muitos detentos tratam a pris&atildeo de quartel do crime, outros de escola do crime. Os presos que trabalham e t&ecircm bom comportamento s&atildeo hostilizados pelos demais, chamados de &quotZ&eacute povinho&quot. Presos pagam impostos ao crime organizado e, de tudo que entra na unidade e &eacute vendido, o crime organizado tira sua parte.

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No estado de S&atildeo Paulo, a superlota&ccedil&atildeo impede at&eacute mesmo uma simples interven&ccedil&atildeo em uma cela com 50 presos onde deveriam estar 12. Mesmo que o agente veja um preso utilizando um celular, ele fica impossibilitado de atuar, pois, em um plant&atildeo h&aacute cerca de 30 agentes em toda a unidade. Al&eacutem disso, n&atildeo temos equipamentos para intervir. Mesmo que os agentes de dois turnos se re&uacutenam para uma interven&ccedil&atildeo horas mais tarde, provavelmente nada encontrar&atildeo na cela. A unidade prisional &eacute t&atildeo perfeita para se cometer crimes, que, sempre que os agentes encontram algo il&iacutecito na cela, h&aacute o laranja pronto para assumir. Assim, como o agente n&atildeo tem condi&ccedil&otildees de investigar, o primeiro que se apresenta como o dono do il&iacutecito ou o respons&aacutevel pelo homic&iacutedio assume o crime. Como mudar isso sem ter poder para investigar? N&atildeo h&aacute como! Nosso papel &eacute chamar a Pol&iacutecia Civil para investigar e achar os culpados.

&quotAs fac&ccedil&otildees criminosas cresceram no habitat certo para prolifera&ccedil&atildeo e, sem que ningu&eacutem as incomodasse, se tornaram t&atildeo poderosas a ponto de desafiar o estado&quot

Baseado nesses fatos &eacute f&aacutecil entender o porqu&ecirc de as fac&ccedil&otildees crescerem tanto dentro dos pres&iacutedios e se tornarem t&atildeo poderosas a ponto de desafiarem o estado. Elas crescem no habitat certo para prolifera&ccedil&atildeo e sem que ningu&eacutem as incomode. Os agentes penitenci&aacuterios normalmente levam a culpa pela entrada de celulares e drogas nas unidades prisionais e, geralmente, a sociedade se pergunta como tais il&iacutecitos entram nas pris&otildees. No entanto, n&atildeo questionam que o governo proibiu a revista &iacutentima nos familiares de presos. Tamb&eacutem n&atildeo falam que os detectores de metais s&atildeo obsoletos e n&atildeo pegam drogas. N&atildeo dizem ainda que os novos microcelulares n&atildeo s&atildeo pegos nos detectores de metais, o que tamb&eacutem ocorre com as armas fabricadas em impressoras 3D, explosivos, facas de pl&aacutestico ou de cer&acircmica.

Enquanto isso, os agentes penitenci&aacuterios, que representam o estado, s&atildeo desvalorizados, sem plano de carreira, com p&eacutessimos sal&aacuterios, sem equipamentos, treinamentos e uniformes. Em S&atildeo Paulo a categoria est&aacute h&aacute tr&ecircs anos sem reposi&ccedil&atildeo das perdas salariais, que j&aacute ultrapassam os 20%. Em vez de investir, o governo tem proposto terceirizar as unidades prisionais de todo o pa&iacutes acreditando que assim resolver&aacute o problema do sistema penitenci&aacuterio. Na verdade, a terceiriza&ccedil&atildeo d&aacute ainda mais poder ao crime, que sentir&aacute definitivamente a aus&ecircncia do estado, sem falar que, comprovadamente, o custo &eacute maior. A unidade prisional &eacute um ambiente do estado e ele deve se fazer presente, fiscalizar e punir.

A solu&ccedil&atildeo por n&oacutes apresentada &eacute ignorada, preferem contratar especialistas que n&atildeo conhecem de perto as unidades, entre os quais, ju&iacutezes, promotores, delegados, coron&eacuteis da PM, entre outros. O primeiro passo para a solu&ccedil&atildeo do problema &eacute n&atildeo querer colocar nos agentes penitenci&aacuterios a responsabilidade pela seguran&ccedila das unidades e a ressocializa&ccedil&atildeo dos criminosos. O preso jamais vai aceitar um agente de seguran&ccedila como ressocializador, e nem temos preparo para isso. Eis aqui a primeira resposta para o fracasso da reabilita&ccedil&atildeo dos detentos no Brasil.

O segundo passo &eacute dar aos agentes penitenci&aacuterios o poder de pol&iacutecia, incluindo a categoria no artigo 144 da Constitui&ccedil&atildeo, para que possam investigar os crimes nas pris&otildees, como homic&iacutedios, tr&aacutefico de drogas, destrui&ccedil&atildeo do patrim&ocircnio e forma&ccedil&atildeo de quadrilha, entre outros. Al&eacutem disso, como pol&iacutecia, enfrentar o crime organizado dentro das unidades e fazer valer a lei dentro das pris&otildees. Mas para isso &eacute preciso ter poder e legalidade.

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O terceiro passo &eacute que o estado invista em infraestrutura. As celas deveriam ser menores e com menos presos para facilitar a interven&ccedil&atildeo, al&eacutem de acabar com as unidades abertas, onde os detentos transitam livremente sem qualquer controle. As pris&otildees devem ser automatizadas para evitar o contato direto do agente com a massa carcer&aacuteria, evitando assim que se tenham ref&eacutens, j&aacute que qualquer interven&ccedil&atildeo com ref&eacutens d&aacute poder e tempo aos presos nas rebeli&otildees e motins. Tamb&eacutem &eacute necess&aacuterio que se tenha dentro das unidades uma C&eacutelula de Interven&ccedil&atildeo R&aacutepida (CIR), com armas n&atildeo letais, prontas para agir logo no in&iacutecio de qualquer confus&atildeo ou motim. Outras medidas s&atildeo contratar imediatamente mais agentes, instalar scanners corporais em vez de detectores de metais, para impedir de fato a entrada de celulares, droga e armas, al&eacutem de bloqueadores de celular em todas as unidades. &Eacute preciso, al&eacutem de comprar equipamentos, treinar e valorizar os agentes penitenci&aacuterios. Por fim, &eacute necess&aacuterio acabar com a superlota&ccedil&atildeo.

Essas seriam as mudan&ccedilas necess&aacuterias para um sistema penitenci&aacuterio ideal e seguro e para que o estado tenha controle total sobre as unidades prisionais e acabe com as organiza&ccedil&otildees criminosas e fac&ccedil&otildees que se proliferam nos pres&iacutedios brasileiros.

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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