sexta-feira, 22/11/2024
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Enfim, a corrupção chegou às universidades brasileiras

Estava demorando: o tumor maligno da corrup&ccedil&atildeo alastrou-se at&eacute o ambiente acad&ecircmico. Na verdade, sempre existiram v&aacuterias formas de corrup&ccedil&atildeo nas universidades brasileiras, mas com os esc&acircndalos nas concess&otildees irregulares de bolsas de estudo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul no fim do ano passado e, ainda ontem, na Universidade Federal do Paran&aacute, como resultado da cognominada Opera&ccedil&atildeo Research, tudo passou a ficar mais &agraves claras, pois &eacute sempre necess&aacuterio fazer vir &agrave tona o oculto e causar estardalha&ccedilo na m&iacutedia para que possamos nos conscientizar da sua exist&ecircncia.

A divulga&ccedil&atildeo de mais uma roubalheira do dinheiro p&uacuteblico deveria levar &agrave reflex&atildeo sobre a natureza espec&iacutefica da corrup&ccedil&atildeo que envolve as universidades p&uacuteblicas. S&oacute h&aacute corrup&ccedil&atildeo onde h&aacute dinheiro circulando, e pelas universidades federais e estaduais circula muito dinheiro e quase sempre ele &eacute mal empregado e utilizado de maneira inadequada e inconveniente.

Desde que foram criadas na Baixa Idade M&eacutedia, as universidades t&ecircm como objetivo a difus&atildeo do saber universal e, no contexto medieval, com fundamentais trabalhos de tradu&ccedil&atildeo e de redescoberta da vasta obra de Arist&oacuteteles e de Plat&atildeo, s&oacute para citar dois exemplos not&oacuterios, passaram a constituir um dos pilares do humanismo ent&atildeo incipiente e que culminaria na f&eacutertil temporada do Renascimento. Um ambiente do g&ecircnero est&aacute, portanto, diretamente ligado &agrave forma&ccedil&atildeo de elites e consequentemente &agrave forma&ccedil&atildeo dos quadros que devem compor o aparato estatal. Se h&aacute corrup&ccedil&atildeo generalizada no Estado, como ocorre no Brasil atual, por que haveria de ser diferente entre os acad&ecircmicos universit&aacuterios?

H&aacute que se distinguir, por&eacutem, as v&aacuterias formas de corrup&ccedil&atildeo que afetam as universidades, mormente as brasileiras e, sobretudo, as p&uacuteblicas. No que diz respeito &agrave capta&ccedil&atildeo de recursos externos, t&atildeo valorizada e incentivada pela c&uacutepula do poder universit&aacuterio, a corrup&ccedil&atildeo n&atildeo se configura apenas em bolsas fraudulentas ou em desvios de verbas, mas tamb&eacutem em projetos de pesquisa que atendem apenas aos interesses de determinados grupos pol&iacuteticos e que n&atildeo primam pelo objetivo de difus&atildeo e incremento do saber, de natureza human&iacutestica, biom&eacutedica ou tecnol&oacutegica. De certa maneira, os objetivos s&atildeo definidos antes por pol&iacuteticos, estaduais ou federais, e apenas adaptados depois &agraves habilidades e compet&ecircncias demonstradas pelos quadros que comp&otildeem os pesquisadores universit&aacuterios em todos os n&iacuteveis, da inicia&ccedil&atildeo cient&iacutefica ao p&oacutes-doutorado. H&aacute honrosas exce&ccedil&otildees, claro, mas trata-se de casos isolados que raramente rompem as v&aacuterias barreiras que se devem percorrer para que a pesquisa saia das prateleiras empoeiradas das bibliotecas e alcancem um p&uacuteblico mais vasto, atuando diretamente na sociedade e cumprindo, assim a sua finalidade primordial.

Outras ilegalidades assolam as universidades brasileiras, sobretudo no que diz respeito &agrave resigna&ccedil&atildeo (ou acomoda&ccedil&atildeo) de professores e alunos &agrave burocracia ineficiente e improdutiva, pela qual se torna f&aacutecil fingir que se produz e se transmite conhecimento, do lado docente, e que se assimilam facilmente sabedorias variadas e amplas, do lado discente. Tudo se resume, salvo honrosas exce&ccedil&otildees, em obten&ccedil&atildeo de documentos (o famoso canudo de papel) que n&atildeo comprovam o alto grau de conhecimento adquirido neles transcrito. Trata-se, enfim, de uma forma de corrup&ccedil&atildeo ainda mais grave que o desvio de verbas perpetrado por quadrilhas constitu&iacutedas dentro do ambiente acad&ecircmico.

&Eacute poss&iacutevel recuperar o dinheiro desviado e punir os malfeitores que o desviaram, mas quantos anos ser&atildeo necess&aacuterios para se recuperar o conhecimento que n&atildeo se propagou efetivamente e que em nada ou pouco contribuiu para melhorar a sociedade e os cidad&atildeos que nela vivem? O mal que se fez, neste caso, &eacute quase irrepar&aacutevel e &eacute dele que dever&iacuteamos tratar com urg&ecircncia, se quisermos salvar o ensino p&uacuteblico em geral e, sobretudo, as universidades p&uacuteblicas. Depois n&atildeo adianta reclamar se num futuro, n&atildeo muito distante, infelizmente, elas ca&iacuterem nas garras de grandes grupos educacionais ca&ccedila-n&iacutequeis, tornando-se, a&iacute assim, oficialmente, m&aacutequinas expedidoras de diplomas sem nenhum valor.

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S&eacutergio Mauro &eacute professor da Faculdade de Ci&ecircncias e Letras da Unesp de Araraquara.


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Oscar D&39Ambrosio
Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
odambros@reitoria.unesp.br

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Parmenas Alt
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