Onde estão as pessoas negras na grande mídia brasileira? Como são representadas pela nossa imprensa? Em que quantidade se fala dos afrodescendentes? Grandes meios de comunicação, como a Folha de S.Paulo e o portal EBC, estão dedicando espaço para promover a Década Internacional de Afrodescendentes?
Em Assembleia Geral, a ONU estabeleceu uma extensiva campanha de conscientização. Registrada na resolução 68/237, as Nações Unidas proclamaram, de 2015 a 2024, a Década Internacional de Afrodescendentes. Com o avanço do racismo e da xenofobia no mundo contemporâneo, não basta apenas um único dia do ano dedicado à Consciência Negra. Do 20 de Novembro, passa-se agora para uma década inteira tematizada pela afrodescendência.
A palavra afrodescendente refere-se às pessoas que descendem de africanos, especificamente da África negra muitas dessas pessoas que foram trazidas para a América como escravos (Dicionário Aurélio, 2010). Extensivamente, o termo afrodescendência também aplica-se a todos os que se inspiram na cultura negra, na sua estética e nas suas religiões: o cabelo afro, as roupas tradicionais, os rituais e, claro, a black music.
A Década Internacional de Afrodescendentes tem por objetivo geral, segundo as Nações Unidas, reforçar a participação de pessoas negras de modo pleno e igualitário em todos os aspectos da sociedade: econômicos, sociais, culturais, civis e políticos, sempre promovendo o reconhecimento da irrevogabilidade dos Direitos Humanos universais (Afro-década. ONU, 2016).
Nesse sentido, eleva-se, principalmente, o imperativo de que Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie: seja de raça, cor, origem nacional ou nascimento (Artigo II) e, ainda, especificamente, Ninguém será mantido em escravidão ou servidão a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas (Artigo IV), da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, da qual o Estado brasileiro é signatário e promotor.
Após analisar a cobertura feita pela grande mídia brasileira sobre a Década Internacional de Afrodescendentes, chega-se ao resultado de que, de 1º de janeiro de 2014 até 31 de outubro de 2016, o jornal Folha de S.Paulo fez cinco (5) publicações citando a Década Internacional de Afrodescendentes, enquanto o portal EBC, no mesmo período, fez treze (13) publicações. Tais dados midiáticos tão escassos, para um período de quase três anos, salientam a desatenção desses meios de comunicação com relação à campanha mundial apresentada pela ONU.
Ou seja, continua-se hoje reproduzindo a contradição histórica: discursa-se pela afirmação dos Direitos Humanos, mas às vezes pratica-se uma participação social desumana ou, mesmo, racista. Tal contradição não é exclusividade atual. O eminente humanista Immanuel Kant (1724-1804), um dos alicerces da noção de dignidade da pessoa humana, já chegou a escrever quando jovem: Os negros da África não possuem, por natureza, nenhum sentimento que se eleve acima do ridículo. Tão essencial é a diferença entre essas duas raças humanas, que parece ser tão grande em relação às capacidades mentais quanto à diferença de cores (Kant. Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, 1990).
Enfim, afirma-se por isso a necessidade de promoção da Década Internacional de Afrodescendentes. Afirma-se o direito de a pessoa negra ter espaço na grande mídia. Afirma-se a inalienabilidade dos Direitos Humanos que, com a sua implementação, repudiam necessariamente toda e qualquer forma de racismo e xenofobia. O mundo democrático não deve mais tolerar a aqueles que são intolerantes.
Wellington Anselmo Martins, mestrando em Comunicação (Unesp) graduado com licenciatura-plena em Filosofia (USC) bolsista de pesquisa de pós-graduação (Capes). Contato: am.wellington@hotmail.com
Lueluí Aparecida de Andrade, graduada em Direito (ITE), graduada em Comunicação Social/Jornalismo (Unesp), mestranda em Comunicação (Unesp).
 
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