Policiais do Bope divulgaram vídeo mostrando o rosto da moradora da Rocinha que acusa os soldados de estupro. As imagens foram exibidas nos telejornais com efeitos que escondem seu rosto. Entretanto, o material que foi para a internet não preserva sua identidade.
A atitude demonstra o desprezo que os policiais nutrem pela vítima, na avaliação do líder comunitário da Rocinha, William de Oliveira, já que por questões éticas e humanitárias, imagens de vítimas de estupro não são divulgadas. Segundo ele, essa é uma velha estratégia da polícia, de desmoralizar a vítima.
“Eles editaram o vídeo para distorcer a história. Naquele momento, eu já havia sido estuprada por dois outros policiais. Estava revoltada, fora de mim. E os policiais que filmaram são os que deram cobertura aos estupradores”, disse ao DIA a mulher estuprada.
“Minha família viu o vídeo, estão todos desesperados. Tenho um filho pequeno”, desabafou ela, que cortou os cabelos após a divulgação do vídeo. Ela também não sai mais de casa por medo. “Agora todos os policiais conhecem o meu rosto”.
A vítima já tinha contado na delegacia que os policiais a tinham filmado. Mas, por outro lado, os PMs ouvidos pelo delegado Gabriel Ferrando, da Delegacia da Rocinha, não falaram nada sobre a divulgação.
O diretor-executivo da Anistia Internacional do Brasil, Átila Roque, disse que a denúncia de estupro não o surpreendeu. Segundo ele, assédio sexual, bolinação e piadinhas maliciosas fazem parte do cotidiano das mulheres que vivem em comunidades do Rio. “O estupro foi o passo extremo, a consequência da rotina de assédios”, afirmou.
Somente nesta quarta-feira a Corregedoria Interna da PM determinou a instauração de Inquérito Policial Militar para aprofundar as investigações sobre o caso.
Estupradores expulsos no ano passado
Essa não é a primeira vez que a PM do Rio se vê às voltas com acusações de violência sexual por parte da tropa. Em outubro do ano passado, quatro soldados que serviam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho foram expulsos por terem praticado o crime de violência sexual contra duas mulheres e uma adolescente na comunidade em 2014.
Na ocasião, a PM afirmou que o ato atentou contra o sentimento de dever e decoro da classe e “que a ocorrência deste crime, cometido por agentes garantidores da lei, é inadmissível”.
IG/O DIA