A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades nas obras da Copa do Mundo em Cuiabá e Várzea Grande ouviu nessa quarta-feira (11) o ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que está preso acusado de fraudes na concessão de incentivos. O depoente recebeu autorização da Justiça para comparecer à Assembleia.
Em razão do número de perguntas, cerca de 150, e devido a manutenção do horário regimental, que assegura a sessão plenária, o ex-governador retornará à CPI na tarde dessa quinta-feira (12) para conclusão dos trabalhos.
Logo no início da reunião, a defesa de Silval pediu e a CPI autorizou que ele respondesse às perguntas sem assinar o termo de compromisso, no qual se obriga a dizer a verdade. O presidente da CPI, Oscar Bezerra (PSB), disse que “é preocupante que ele não tenha assinado, mas os deputados membros acreditaram ser legítimo o pedido. Ele respondeu todas as perguntas, não se negou a nenhuma resposta”, pontuou. Silval alegou que como responde a processo na Justiça, a medida tem o objetivo de garantir a não produção de provas contra si.
Bezerra reforçou que a CPI das Obras da Copa encerrará sua fase de oitivas amanhã e deve concluir o relatório até o final do mês de maio. “Vamos encerrar as oitivas, fazer o relatório até o final de maio e em junho queremos entregar e divulgar o resultado dos trabalhos”, anunciou.
Silval iniciou o depoimento fazendo um relato do que ele chamou de “avanços” registrados ao longo do seu governo e em relação à preparação para a Copa do Mundo de 2014, admitiu que houve falhas, mas assegurou que deu atenção especial a Secopa desde a hora em que assumiu o mandato e que os secretários tinham autonomia para atuar, mas que sempre acompanhou tudo de perto.
Entre as falhas admitidas por Barbosa em relação a Arena Pantanal, por exemplo, estão duas, primeiro a falta de previsão de drenagem, uma vez que a área era alagada, e, depois, o projeto não previa uma fundação compatível com o volume da obra. Outros entraves, ainda segundo Barbosa, ocorreram por conta das diversas interferências da FIFA que “sempre fazia exigências de mudanças que também contribuíram para onerar e alargar os prazos das obras”.
Sobre custos do VLT, Barbosa disse que nunca admitiu que foi orçado em R$ 696 milhões e que a estimativa foi de R$ 1,2 bilhão. “Tínhamos uma estimativa de R$ 1,2 bilhão, eu corri atrás e cheguei a R$ 1,150 bilhão e a licitação ficou em R$ 1,477 bilhão”, disse.
O deputado Wilson Santos (PSDB) questionou sobre o empenho do ex-governador na mudança do modal de BRT (Busines Rapi Transit) para VLT (Veiculo Leve sobre Trilhos) e ouviu de Barbosa: “optamos pelo que havia de melhor em transporte público”.
A CPI também arguiu nessa oitiva, o empresário Marco Aurélio Sousa Martins, da empresa portuguesa Ferconsult. O empresário alegou que a empresa deixou o trabalho porque se sentiu “lesada” em seus interesses e que mesmo tendo tido prejuízos da ordem de R$ 500 mil, não buscou mecanismos jurídicos para sanear suas perdas.
Segundo Marco Aurélio, "são riscos de mercado a que estão sujeitas todas as empresas de consultoria”. Ele não conseguiu explicar também porque a empresa “doou” o projeto inicial das obras da copa. A empresa entrou nas negociações do VLT em 2011 quando uma comitiva do governo de Mato Grosso visitou a cidade do Porto, em Portugal, para conhecer o VLT local. Quarenta e cinco dias depois a empresa Infinity fez a doação do projeto do modal para Mato Grosso.