Reunido com aliados e advogados na residência oficial da Presidência da Câmara desde o início da manhã desta quinta-feira (5), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) avaliou que a decisão do ministro Teori Zawascki de afastá-lo do mandato foi política e que pode complicar a vida do vice-presidente Michel Temer, caso ele assuma o Planalto.
Pessoas próximas ao peemedebista e que falaram com ele têm reverberado a avaliação de que a decisão de Teori dará um "argumento" à defesa da presidente Dilma Rousseff para questionar juridicamente a legalidade do impeachment. Eles afirmam ainda que a a ascensão de Waldir Maranhão (PP-MA) à Presidência da Câmara vai representar um risco para Temer.
O substituto de Cunha votou contra o afastamento de Dilma e assume o posto no momento que tramita na Casa um pedido de impeachment do vice, com base no argumento de que ele também assinou decretos que incorreriam nas mesmas infrações que levaram a petista para o cadafalso político.
Como mostrou a coluna Painel, da Folha, nesta manhã Cunha tratou a liminar de Teori como um "absurdo" que criticou o timing da decisão. Seus aliados, no entanto, reconhecem que será praticamente impossível reverter a decisão do ministro no plenário do STF (Supremo Tribunal Federal).
Cunha teria demonstrado muita irritação e, apesar do prognóstico pessimista, prometeu usar todos os recursos disponíveis para tentar uma reviravolta.
Além da visita de aliados e advogados, o deputado recebeu uma série de ligações com declarações de "solidariedade". Questionados, aliados afirmaram que, até as 11h, Temer não estava na lista dos que fizeram um gesto na direção do peemedebista.
Presente na reunião com Cunha, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP) relatou que o peemedebista reagiu com indignação à decisão. Para ele, Teori se adiantou e quis criar um "fato consumado".
"Na prática, temos uma intervenção de um ministro da Suprema Corte na Câmara dos Deputados. Com essa base, ele pode cassar mais 200 parlamentares com processo no STF", criticou.
Aliado de Cunha, Pereira da Silva se reúne nesta quinta com Temer, no Palácio do Jaburu. O seu partido, o Solidariedade, é cotado para assumir o Desenvolvimento Agrário
ADVOGADOS
Pela manhã, Cunha se reuniu com seus advogados na residência oficial para estudar um recurso à decisão do ministro Teori Zavascki.
Sua assessoria informou que os advogados irão recorrer da decisão, mas discutem nesse momento a melhor forma de fazê-lo.
Cunha deve passar o dia na residência, de onde deve acompanhar o julgamento do Supremo à tarde, que colocará em pauta uma ação da Rede também pedindo o afastamento. Ele afirmou, por meio de sua assessoria, que recebeu e assinou a notificação da decisão de Teori.
Até as 12h, poucos aliados foram à residência oficial visitar Cunha.
Dentre eles, além do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), foram os deputados Benjamin Maranhão (SD-PB), Beto Mansur (PRB-SP), André Fufuca (PP-MA) e Alberto Filho (PMDB-MA).
"Ele [Zavascki] criou um fato, porque o julgamento de hoje era outro. Não sei se o Supremo mantém isso, é uma interferência na Câmara, uma intervenção", afirmou Pereira da Silva, um dos mais próximos a Cunha.
Aliados do peemedebista sempre alimentaram o discurso de que era impossível o STF afastar Cunha do mandato já que isso significaria uma afronta a outro poder, uma interferência indevida e uma violência à decisão popular, já que o mandato é dado pelo povo e só pode ser manipulado pela Câmara, que é formada por representantes do povo.
Uma manifestante isolada também veio até a residência oficial gritar "Fora, Cunha". "Isso teria que ter acontecido há muito tempo", disse Maya Terra Figueiredo, 35. "Vim sozinha, chamei amigos, mas as pessoas estão trabalhando. Como tenho essa disponibilidade resolvi vir", afirmou.
Nesta quinta o STF havia programado o julgamento do pedido de afastamento de Cunha protocolado pela Rede. O pedido objeto da liminar de Zavascki é o feito em dezembro pela Procuradoria-Geral da República.
Folha de São Paulo-UOL