Pressionado por uma inflação de dois dígitos, taxa de desemprego crescente e com a expectativa de ver a economia encolher mais 3% este ano, o governo federal decidiu repetir uma velha estratégia para reaquecer a economia: estimular o crédito. Na quinta-feira 28, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, anunciou a liberação de R$ 83 bilhões de crédito e o uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) como garantia para o crédito consignado. O dinheiro será injetado nos créditos rural, habitacional, no setor de infraestrutura e para compras de máquinas e equipamentos. Além disso, serão beneficiadas as pequenas empresas e as companhias exportadoras. Tudo muito bem, tudo muito bom. Falta, no entanto, o governo convencer empresários e consumidores de que é seguro investir no Brasil em momentos tão turbulentos como agora.
Não vai ser tarefa fácil. A demanda por recursos para investimento no País vem caindo de maneira acelerada. Em 2015 o BNDES registrou a maior queda nas consultas por crédito desde 1996. Na prática isso significa que o número de projetos pedindo recursos para investimento caiu quase 50% em relação a 2014. O volume de projetos no setor de Comércio e Serviços, por exemplo, recuou em mais de 65%. Os de Infraestrutura, área duramente atingida pelas investigações da Operação Lava Jato, caíram 55%. Poucos dias antes da reunião do Conselhão o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que participou do encontro em Brasília, afirmou em Davos, na Suíça, que a demanda por crédito no Brasil era “quase inexistente”.
A análise de Trabuco e os números do BNDES mostram que o remédio que o governo decidiu receitar para fortalecer a economia brasileira deve demorar muito para fazer efeito. “Não adianta estimular o crédito se as pessoas estão endividadas e o empresariado está receoso com o futuro”, afirma João Costa, da Pezco Microanalysis. “O que me preocupa é o governo achar que a expansão do crédito por si só vai trazer o crescimento de volta.” Com uma parcela considerável da população endividada é difícil também acreditar que o consumidor irá se animar para gastar mais em um momento tão negativo. A estratégia de ampliar o crédito e estimular o consumo funcionou em 2009 e deu claro sinais de esgotamento nos últimos anos. É difícil acreditar que agora ela voltará a dar certo.
Mas a maior preocupação entre economistas é que a fraca de demanda por crédito no setor empresarial significa, basicamente, que a taxa de investimento no País continuará baixa, o que deve comprometer a recuperação da economia não só agora, mas principalmente a médio e longo prazos. “Os investimentos hoje garantem o crescimento da economia amanhã”, diz Lauro Gonzalez, professor de Finanças da FGV/EAESP. “Se forem adiados, o crescimento será adiado também.”
Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil