sexta-feira, 22/11/2024
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Com o real desvalorizado e a crise econômica, ficou mais barato investir no mercado brasileiro

 Abilio Diniz , uma das vozes mais lúcidas do universo corporativo brasileiro, sintetizou em apenas cinco palavras o que acontece com um País que vive a mais profunda crise econômica dos últimos 20 anos. “O Brasil está em liquidação”, disse Abilio para uma plateia de executivos americanos. “Está muito barato para investidores estrangeiros. É o momento de se aproveitar disso.” A declaração do presidente do conselho de administração da BRF não foi uma crítica à situação de penúria das finanças nacionais. Por mais surpreendente que possa parecer, Abilio aposta numa recuperação rápida da economia – desde que a instabilidade política se resolva. Quando a retomada vier, diz ele, os investidores que já tiverem despejado seu dinheiro por aqui estarão à frente dos rivais. Com o dólar R$ 4 e a queda brutal do faturamento de muitas companhias, é inevitável que apareçam boas opções de compras. O Brasil está mesmo barato. Segundo a consultoria Economática, oito das dez maiores empresas brasileiras de capital aberto perderam valor de mercado nos últimos doze meses. As ações do Banco do Brasil, que sofreram o maior recuo na lista, encolheram 36%.

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'O Brasil está em liquidação. É o momento de aproveitar isso'

Abilio Diniz, presidente do conselho da BRF

Foi apenas coincidência, mas carregada de simbolismo. No mesmo dia do discurso de Abilio em Nova York, a brasileira Hypermarcas anunciou a venda de sua divisão de cosméticos para a francesa Coty, dona de marcas como Calvin Klein, Playboy e Adidas. “A Coty precisou de menos dólares para atingir o preço desejado pela Hypermarcas”, diz Otto Nogami, professor de economia do MBA do Insper. O acordo foi fechado por R$ 3,8 bilhões, o equivalente a US$ 1 bilhão. “Bons negócios vendem bem”, diz Cláudio Bergamo, presidente da Hypermarcas. Entre as marcas negociadas estão algumas tradicionais no mercado brasileiro, como Bozzano, Monange, Risqué e Cenoura & Bronze. Detalhe interessante: a Hypermarcas vai utilizar o dinheiro para reduzir o seu endividamento, um problema que tem aumentado para níveis alarmantes com o agravamento da crise econômica. Novas transações devem vir por aí. A gigante brasileira negocia a venda da divisão de fraldas, que reúne marcas como Pom Pom, Cremer Disney e Sapeka, para a americana Kimberly-Clark.

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O negócio entre a Hypermarcas e os franceses da Coty não parece ser um caso isolado. Recentemente, Marco Patuano, presidente da Telecom Italia, grupo controlador da TIM Brasil, deu uma entrevista em que ressalta os atrativos do mercado brasileiro. “Para quem pensa em euro ou dólar, o investimento no Brasil sai muito mais barato agora”, disse. “É o momento oportuno para investimento.” Uma das possibilidades ventiladas no mercado é a fusão das operações da TIM no Brasil com a OI, mas o negócio vai depender da aprovação de um novo marco regulatório. Especialistas, porém, acreditam que a combinação de ativos mais baratos com o movimento de consolidação em alguns setores – como a telefonia – devem ativar uma série de fusões em 2016.

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A crise econômica não representa uma oportunidade apenas para investidores estrangeiros. No ambiente inteiro, empresários mais arrojados também prospectam negócios. Um deles saiu na terça-feira 3. Por R$ 48,7 milhões, um grupo de investidores liderados por Carlos Wizard, fundador da escola de idiomas Wizard, arrematou da Alpargatas as marcas de calçados esportivos Rainha e Topper. O acordo envolve a compra de 100% das duas marcas no Brasil e de 20% das operações da Topper no mundo, exceto China e Estados Unidos. “Na crise, todo mundo puxa o freio de mão”, disse o empresário à ISTOÉ. “Como empreendedor, acho que é hora de acelerar. Os preços estão mais atrativos e quem investiu vai estar bem quando a crise passar.”

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Por mais que as crises provoquem danos, elas também trazem alguns ensinamentos. No caso brasileiro, o interesse de investidores externos demonstra o nível de confiança que o mercado internacional deposita no Brasil. Se o futuro do País estivesse comprometido, as multinacionais não gastariam um centavo nas aquisições. Ninguém, muito menos grandes empresários, rasga dinheiro. A recessão pode ser séria (já há projeções que indicam que o PIB deve recuar mais de 3% em 2015), a inflação está alta demais, o desemprego assusta. Tudo isso é verdade, mas é preciso reconhecer que o Brasil manteve muitas de suas qualidades. As instituições funcionam, há um parque industrial sólido, a sociedade avançou em diversos aspectos. Tudo isso está em jogo quando alguém decidir colocar seu dinheiro no outro lado do mundo. “Ninguém desembolsa R$ 1 bilhão à toa”, resume Marcos Melo, professor de finanças do Ibmec/DF e sócio da Valorum Consultoria. Em questão de otimismo, poucos brasileiros superam Abilio Diniz. “Na minha vida inteira, cresci em crise”, ele disse em Nova York. “Estamos preparados para crescer durante e depois da crise.”

 

 

 

 

 

Foto: PEDRO DIAS, Jorge Araújo/Folhapress, Leonardo Rodrigues/Valor econômico ISTOÉ

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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