Valérya Próspero
A displasia coxofemoral é uma doença que afeta as articulações da coxa, principalmente dos cães de grande porte, e é hereditária. Ela ocorre entre 4 e 12 meses de idade. O tratamento mais usado para esses animais terem uma vida normal é a cirurgia. Contudo, uma pesquisa de conclusão de curso em Medicina Veterinária na Universidade Anhanguera, em São Bernardo do Campo (SP), realizada por Rebecca Infante Torres, orientada por Rodrigo Casemiro Monteiro, testou a eficiência de fisioterapias para analisar a recuperação dos animais e elencou no trabalho os métodos mais utilizados e eficientes.
A fisioterapia a ser adotada vai depender do estado clínico do animal. “Se há suspeita de uma neoplasia [tumor], aparelhos que causam estimulação sistêmica, como o laser, não podem ser utilizados, ou se o animal possui uma ferida em cicatrização, a hidroterapia não é indicada”, explica Rebecca.
Segundo a pesquisadora, a eficiência do tratamento depende dos aparelhos que serão utilizados, de acordo determinação do médico veterinário. Os equipamentos são usados em conjunto, cada qual trazendo um benefício diferente, que consiste em fortalecimento muscular e analgesia [alívio da dor]. A escolha do protocolo médico depende do grau da displasia e das condições gerais do paciente.
Estágios da doença Grau 0 [HD-]: inexistente Grau 1 [HD+/-]: próxima ao normal Grau 2 [HD+]: leve Grau 3 [HD++]: moderada Grau 4 [HD+++]: severa |
A displasia pode ocorrer em todas as raças. Algumas, como Pastor Alemão, possuem pré-disposição genética. Há fatores externos que colaboram para o desenvolvimento da doença, como piso escorregadio, escadas, livre acesso a lugares altos, excesso de exercícios, traumas, castração prematura ou recente e até rações que promovam o crescimento acelerado de filhotes de porte grande, o que causa sobrecarga na articulação, além da obesidade, que vem sendo cada vez mais comum nos cães. Os vira-latas também estão entre os afetados, mas casos de hereditariedade são mais raros.
O número de cachorros afetados com a doença é alarmante. A pesquisadora aponta que um estudo foi realizado com a raça Pastor Alemão, no qual foi apresentado 89,4% de resultados positivos para a doença, em um total de 123 cães. Já da raça Labrador Retriever, foi apontado que de 93 cães, 74,2% eram displásicos.
Outro estudo, feito com a raça Border Collie, estipulou que de um total de 52 animais, 76% apresentaram displasia coxofemoral após exames radiográficos, sendo em 46% dos casos displasia unilateral [só uma das coxas].
Apesar de a doença não levar o animal à morte, Rebecca aponta que o tratamento é importante devido à dor intensa e às dificuldades para se levantar. O cão acometido pela doença reduz a atividade física, pode apresentar “andar de coelho”, andar rebolante e diminuição de apoio nos membros acometidos.
Segundo a pesquisadora, o tratamento da displasia coxofemoral depende da idade do paciente, do grau e dos exames radiográficos, além das expectativas dos proprietários e sua situação financeira. Os tratamentos por fisioterapia testados pela pesquisadora foram laserterapia, eletroterapia, magnetoterapia, hidroterapia, ultrassonografia e massoterapia.
As fisioterapias
Conforme informações de Rebecca, na laserterapia há a utilização do laser de baixa potência, que possui a capacidade de analgesia, promovendo a multiplicação celular e reparação do tecido lesionado.
A eletroterapia consiste no uso de corrente elétrica como forma de reabilitação, sendo utilizada para promover o aumento do movimento, da extensibilidade muscular, melhora na função do membro, controle da dor, além de acelerar a cicatrização.
Baseada na influência dos campos magnéticos estáticos sobre o corpo, a magnetoterapia é indicada para tratamento de fraturas, prevenção de perda óssea quando o membro está imobilizado, osteoartrites, osteoporose, tendinites, desmites, periostites, feridas crônicas e necrose asséptica da cabeça do fêmur. Tem como principal função proporcionar alívio após esforço físico. O tratamento deve durar de 30 minutos a, no máximo, duas horas.
A hidroterapia é feita por meio de esteira aquática. As propriedades da água têm fins terapêuticos, como densidade, empuxo, pressão hidrostática, tensão superficial, viscosidade, fricção e turbulência. É contraindicada a utilização da hidroterapia em animais com feridas abertas, incisão cirúrgica em cicatrização, incontinência urinária, diarreia, disfunções cardíacas e respiratórias.
A ultrassonografia pode ser usada no modo contínuo ou pulsado. A aplicação do primeiro provoca efeitos térmicos, sendo indicada para rigidez articular, contração muscular e dor. O modo pulsado tem a intensidade da corrente intermitente e promove principalmente os efeitos não térmicos do ultrassom, sendo indicado para estimulação do fluxo sanguíneo, reparo de tecidos moles, ósseos e tendões. O tempo de aplicação de ultrassom pode variar de cinco a dez minutos, duas vezes por semana.
Por fim, a massoterapia trata de massagens para manipulação terapêutica dos tecidos moles e músculos, por meio de fricção, amassamento ou tapotagem [massagens na região torácica para liberar secreção dos pulmões]. É indicada para alívio de dor, redução de edema ou mobilização de tecidos com contratura, além de relaxar e acalmar os animais. É contraindicada quando há presença de infecções, tumores e doenças de pele.
Segundo a pesquisadora, os exercícios de mobilização devem ser feitos de forma suave e ampla em todos os movimentos permitidos, flexão e extensão, adução e abdução e rotação. Na sequência, são feitos alongamentos dos grupos musculares anteriores e posteriores da coxa. Depois, com o animal em estação, trabalha-se a mudança do centro de gravidade, utilizando movimentos de vaivém.
Em casos cirúrgicos, logo após o término da cirurgia, deve-se fazer compressas de gelo por 30 minutos e repeti-las a cada três horas durante as primeiras 72 horas. Deve-se utilizar também mobilização suave dentro do arco de movimento, para impedir aderências que são as principais causas de complicações pós-operatórias.
Quando é necessária intervenção cirúrgica, deve-se iniciar a reabilitação de forma diferenciada, e durante os primeiros 15 dias é importante que o animal permaneça em repouso. Operações trazem riscos ao paciente tanto pelo procedimento invasivo quanto pela anestesia utilizada. Por isso, sempre que possível, segundo a pesquisadora, opta-se pela fisioterapia como tratamento de primeira escolha.
Para evitar novas lesões, depois do tratamento, ela recomenda utilizar pisos emborrachados, controlar o peso, evitar que o animal pule de lugares altos etc.
É importante iniciar o tratamento o mais rápido possível, quando a displasia ainda não atingiu um grau avançado. De acordo com Rebecca, isso pode garantir melhor recuperação e qualidade de vida após os procedimentos.
O custo do tratamento vai depender do profissional que oferece o serviço. “Não dá para estipular uma média, pois a variação de preço é muito grande e, infelizmente, os hospitais veterinários públicos não oferecem esse tipo de tratamento”, pondera.
A pesquisadora conclui que a fisioterapia é uma área que vem crescendo constantemente, porém muitos profissionais ainda possuem dúvidas quanto à eficácia desse tipo de intervenção. “Existem muitas pesquisas que comprovam a ação dos aparelhos fisioterápicos sobre o organismo dos animais enfermos, e a melhora apresentada é evidente”.