Um livro que conta histórias de vida e transformações sociais, principalmente com a modernização, mais especificamente o advento do salmão cultivado. Assim é “Quehui”, do professor de Jornalismo, pesquisador, folclorista e doutorando em Ciências Humanas da Universidad Austral de Chile, Cristian Yáñez Aguilar. O livro foi lançado em terras chilenas no mês de março e na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em evento no início de junho.
A ilha de Quehui integra o arquipélago de Chiloé (que ao total conta com 40 ilhas e distante 1.240 km da capital Santiago), e atualmente cerca de mil pessoas vivem por lá. Yáñez Aguilar contou que os primeiros relatos do livro foram em sua adolescência, nas visitas à ilhota na qual viveu durante os primeiros anos de sua vida. Os dados foram colhidos por sete anos.
“Ganhei um gravador de fita cassete do meu pai de presente, e com ela, recolhi os primeiros dados. As anotações eram, num primeiro momento, despretensiosas, fruto de curiosidade pura e simples. Foi contando a amigos que surgiu a ideia da publicação, graças ao incentivo deles”, relatou o pesquisador. “Além disso, antes da publicação, apresentei parte dessas narrativas durante o mestrado”, prosseguiu.
Daí, Yáñez foi visitar e entrevistar várias pessoas do local, para saber “das coisas de outrora”. Seguiu registrando, ao longo de sua juventude, os costumes, ritualidades, manifestações festivas, culturais e religiosas. Por sua vez, os capítulos subsequentes do livro estão focados nas transformações sociais do lugar por meio da lógica neoliberal, nesse caso representada pelo cultivo de salmão.
“Um dos aspectos que marcaram muito no processo desse livro foi acerca das relações de trabalho”, observou o autor. “O trabalho na ilha, principalmente a pesca, era desenvolvido de forma coletiva e marcado por muita reciprocidade. As embarcações eram a remo, muitas pessoas ajudavam para seguir seu rumo ao mar. Depois vieram os barcos a motor e daí, o individualismo começou a tomar conta do povoado”, contou Yáñez Aguilar. Outro aspecto foram as festas populares, que se transformaram de momentos de celebração ao espetáculo. E também, a emigração da ilha para cidades maiores.
Para Yáñez Aguilar, além de narrar sobre o local e as transformações que nele incidem, o livro contém um aspecto sentimental considerável. Um exemplo disso é que sua primeira entrevistada foi a saudosa bisavó, Ana Díaz Vera de San Miguel.
A publicação contou com financiamento do Fundo Nacional do Desenvolvimento Regional chileno, do Departamento de Cultura e Universidades e do Governo Regional de Los Lagos. “Quehui” também foi disponibilizada em formato e-book, que pode ser conferido aqui (em espanhol). (http://media.wix.com/ugd/cfe25b_d250e2ea0c3f41d2a36cc8711563c23a.pdf)
Com informações da Universidad Austral de Chile e colaboração de Valérya Próspero