sábado, 23/11/2024
InícioBrasilEmpreiteiras envolvidas na Lava Jato são beneficiadas pelo governo federal com reajustes...

Empreiteiras envolvidas na Lava Jato são beneficiadas pelo governo federal com reajustes em contratos de obras em rodovias

 

A fonte das grandes obras da Petrobras secou, mas nem por isso as empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato perderam o status de “vip” nas obras públicas do País. No momento em que a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal examinam se as construtoras acusadas de corrupção poderão celebrar novos contratos com o governo, as empreiteiras são beneficiadas com reajustes contratuais de obras que já haviam estourado o orçamento. Nos últimos quatro meses, cinco contratos da OAS, UTC/Constran, Queiroz Galvão com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para execução de obras em rodovias receberam R$ 43,2 milhões em aditivos. Há ainda na mesa da direção do DNIT um pedido de liberação de outros R$ 10 milhões em aditivos para obra da Ponte de Laguna, em Santa Catarina, tocada pela Camargo Corrêa. De abril a maio, pelo menos outras 47 obras receberam aditivos, em um total de R$ 119 milhões.

abre.jpg

Os aditivos liberados nos últimos meses guardam relação direta com a Petrobras, além da coincidência de envolverem as mesmas empreiteiras investigadas no Petrolão. Na justificativa oficial, os reajustes seriam necessários para cobrir um aumento de 30% do preço do asfalto fornecido pela Petrobras. Ocorre que o reajuste do insumo é controverso. Até hoje, nem mesmo a estatal, única fornecedora de material betuminoso no País, conseguiu explicar de maneira objetiva a razão da subida do valor do asfalto. “Os reajustes de preços dos derivados da Petrobras obedecem a parâmetros estritamente internos”, afirmou a estatal.

01.jpg

O polêmico aumento do preço do asfalto da Petrobras se transformou em um fundamento técnico com ares de legalidade para amparar a concessão dos termos aditivos, mas funcionários do DNIT ouvidos por ISTOÉ denunciam que os acréscimos nos contratos estão sendo feitos sem qualquer critério e empreiteiras com maior trânsito político no governo têm levado vantagem. Essas empreiteiras, segundo as mesmas fontes, pressionaram a direção do DNIT a majorar o valor das obras em rodovias tão logo foi divulgado o aumento de 30% no asfalto da Petrobras, em dezembro de 2014. A concessão dos aditivos pelo governo às empresas implicadas na Lava Jato intrigou o TCU, que promete examinar o caso. Para o procurador do MP junto ao TCU, Marinus Marsico, o País precisa ficar atento a manobras de sobrepreço para que ocorrências de superfaturamento como as verificadas nas refinarias de Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ) não se repitam. “Vamos investigar. É preciso ver se os aditivos se adéquam à legislação para evitar o que ocorreu com as refinarias”, afirmou. Para sustentar que as construtoras estariam sendo beneficiadas, funcionários graduados do DNIT argumentam que, ao contrário do que foi feito, a readequação de valores contratuais deveria privilegiar os contratos mais recentes e não os antigos, referentes a obras que normalmente já se arrastam há anos e têm cronograma de entrega anterior ao reajuste feito pela Petrobras no valor do asfalto.

Uma das empreiteiras beneficiadas com aditivos foi a UTC/Constran. Em 2012, a construtora se comprometeu a entregar até julho de 2014 pouco mais de 50 quilômetros da duplicação na BR 116. A obra não ficou pronta no prazo e o valor inicial dos dois lotes da empreitada saltou de R$ 224,1 milhões para R$ 255,5 milhões. Só nos últimos meses foram pagos R$ 31,3 milhões em aditivos à empreiteira investigada pela Operação Lava Jato. A Constran faz parte do grupo UTC Engenharia, que era comandado por Ricardo Pessoa. Após quase seis meses de prisão na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o presidente do grupo UTC assinou acordo de delação premiada com a procuradoria-geral da República e contou detalhes do esquema de corrupção que envolvia empresas, políticos e diretores da Petrobras.

02.jpg

Obras da Queiroz Galvão no Rio de Janeiro e em Sergipe também foram turbinadas com aditivos. Quando firmou contrato com o DNIT em 2012, a previsão de entrega do acesso ao Porto de Itaguaí (RJ) era junho de 2014. Só este ano, a empreiteira recebeu em aditivos R$ 8,8 milhões, montante que ultrapassa 10% do total inicial do contrato que era de 81,8 milhões. A construtora tem, ainda, dois lotes de obras pendentes na duplicação da BR 101/SE e foi contemplada com R$ 1,2 milhão em aditivos para terminar o serviço iniciado em 2010. Também com obras não finalizadas há quase cinco anos, a OAS recebeu R$ 1,9 milhão de acréscimo contratual pelo trecho que foi designada a duplicar na BR101, altura de Alagoas.

A liberdade das empresas investigadas para continuar participando de licitações com a União decorre da decisão do governo de tentar fechar acordo de leniência com as empreiteiras. Em vez de entrarem para a lista de firmas inidôneas, as empresas teriam que pagar multa e colaborar com as apurações da Lava Jato. Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), integrante da CPI da Petrobras na Câmara, a falta de punição favorece o ambiente de corrupção. “Entendo as dificuldades de paralisar as obras, mas temos que cumprir a função punitiva. Se as empresas sabiam que estariam cometendo irregularidades e isto comprometeria sua participação em obras públicas, então elas calcularam o risco. É preciso haver um grau de punição explícito, e isso ainda não foi feito”.

Procurado por ISTOÉ, o DNIT negou que o acréscimo nos contratos tenha relação com o reajuste promovido pela Petrobras. Mas,contraditoriamente, a própria autarquia, pressionada por seu corpo técnico, publicou um boletim administrativo designando uma comissão para avaliar critérios de reajuste dos contratos em virtude do aumento do preço do asfalto. É o Petrolão nas estradas. 

03.jpg

Fotos: Adriano Machado/Ag. Istoé, Márcia Foletto/Ag. O Globo; Paulo lisboa/Brazil Photo Press; Alvarélio Kurossu/Ag. RBS ..site IstoÉ

Clique AQUI, entre na comunidade de WhatsApp do Altnotícias e receba notícias em tempo real. Siga-nos nas nossas redes sociais!
Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
RELATED ARTICLES

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Digite seu nome aqui

- Publicidade -

Mais Visitadas

Comentários Recentes