O Programa Ciência sem Fronteiras [CsF], do Governo Federal, foi implementado em 2011 e tem como meta conceder, até este ano, cerca de 101 mil bolsas de intercâmbio para estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação. Como forma de fortalecer a mobilidade acadêmica internacional do Brasil, o programa também buscou atrair pesquisadores de outros países com as bolsas das categorias “pesquisador visitante especial” e “atração de jovens talentos”. Atualmente, não há nenhum edital aberto para graduação, mas as modalidades de pós-graduação “Doutorado Sanduíche”, “Doutorado Pleno” e “Pós-doutorado” estão em sua terceira etapa, com inscrições abertas até hoje [23].
A estudante brasileira Tâmara Prado Morais é mestre em agronomia pela Universidade Federal de Uberlândia [UFU] e atualmente cursa o Doutorado Sanduíche na Universidade da Califórnia, em Davis [UC-Davis], nos Estados Unidos. A estrutura disponível na UC-Davis fez com que o governo norte-americano escolhesse o laboratório onde Tâmara desenvolve sua pesquisa para receber investimentos destinados à produção de remédios para combater o vírus Ebola. Assim como Tâmara, outros 22.730 bolsistas já foram ou estão nos Estados Unidos, o país que mais recebeu intercambistas pelo Programa.
Tâmara é engenheira agrônoma e faz doutorado em Ciência de Plantas. Inicialmente, pode parecer que sua área de pesquisa não tem muita relação com o combate à doença. Porém, em uma entrevista concedida ao CNPq, ela explicou que a metodologia utilizada em suas pesquisas é muito similar àquela desenvolvida no laboratório para a produção de anticorpos contra o Ebola. Nesse contexto, a pesquisadora estuda o desenvolvimento de plantas resistentes a fitobacterioses através da expressão de proteínas vegetais antimicrobianas. Ou seja, é como se a planta desenvolvesse antibióticos, o que é interessante, já que a maioria dos antibióticos é produzida por fungos.
O medicamento Zmapp é uma aposta no combate à doença. Desenvolvido pela empresa Mapp em parceria com o governo norte-americano e laboratórios canadenses, ele ainda está em fase de testes. Em sua composição estão anticorpos extraídos da folha do tabaco, porém a produção atual não é suficiente para atender a demanda.
Para ajudar a resolver esse problema, a National Science Foundation, órgão americano de fomento à ciência, investiu no grupo de pesquisa do qual Tâmara foi convidada a participar. O professor Abhaya Dandekar, da UC-Davis, orientador de Tâmara nos Estados Unidos, é também o líder desse grupo que tem o objetivo de cultivar os vegetais em biorreatores. Dessa forma, a limitação é contornada, já que a massa vegetal disponível é maior que na planta viva e, consequentemente, a produção dos anticorpos aumenta.
A epidemia de Ebola
A disseminação em grande escala começou em 2013, no sul da Guiné. Em 2014, a doença já tinha números alarmantes e se alastrava por vários países. Na tentativa de conter o vírus, alguns países mandaram ajuda médica às regiões afetadas. No dia 12 de agosto de 2014, os Estados Unidos registraram o primeiro diagnóstico da doença fora do continente africano. O paciente liberiano, que faleceu em 8 de outubro, já estava infectado quando chegou ao país, porém não apresentava sintomas da doença no desembarque. No dia 6 do mesmo mês é identificado o primeiro caso de contágio na Europa: uma auxiliar de enfermagem que cuidou de um missionário com a doença é diagnosticada com Ebola em Madri. Posteriormente, ela foi curada.
Segundo a Organização Mundial da Saúde [OMS], em um balanço divulgado em 10 de março deste ano, a doença já vitimou mais de 10 mil pessoas. Além da perda de vidas humanas, a epidemia prejudicou a economia dos países mais afetados. No início do mês de março, líderes da Guiné, Serra Leoa e Libéria pediram ajuda internacional para superar a crise financeira na região. Segundo matéria divulgada no G1, o PIB da região caiu cerca de 12% e as áreas de produção agrícola e de mineração estão seriamente prejudicadas. Em países como Mali, Nigéria e Senegal, a epidemia já é considerada controlada, e a população volta aos poucos à rotina normal.
Programa Ciência sem Fronteiras
O programa de intercâmbio que deu a Tâmara a oportunidade de estudar em um país estrangeiro já está em seu quarto ano de vigência. A meta de implementar 101 mil bolsas de graduação e pós-graduação ainda não foi cumprida, porém quase 80 mil auxílios já foram concedidos.
Com 18 áreas contempladas, o programa privilegia a formação nas áreas de Engenharia, Inovação e Desenvolvimento de Tecnologia e Indústria. As parcerias são feitas com instituições tradicionais de mais de 30 países. Para saber mais sobre o programa, acesse http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/ ou ligue para 0800 616161. http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=721