quinta-feira, 07/11/2024
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Cinco estratégias para turbinar a memória antes do Enem

A contagem regressiva para as provas doEnem e dos principais vestibulares do país já começou. Até o dia do exame, os estudantes tentarão memorizar o máximo de conteúdos possíveis — e farão de tudo para evitar o temível 'branco' na hora dos exames. O que a maioria dos candidatos não sabe, porém, é que as estratégias de memorização mais praticadas e conhecidas, como repetir inúmeras vezes a mesma fórmula ou reler um texto antes da prova, são, na realidade, pouco eficientes para um aprendizado duradouro.



A conclusão é de três pesquisadores da Universidade Washington em Saint Louis, nos Estados Unidos, que analisaram pesquisas científicas sobre memorização realizadas nos últimos dez anos e concluíram que as estratégias usadas para assimilar um conteúdo em curto prazo são, na verdade, as mais ineficientes. "A sabedoria popular de ‘prática, prática, prática’ dá, no primeiro momento, a sensação de fluência em um determinado assunto, mas para o aprendizado duradouro, ela é apenas desperdício de tempo", afirmam os autores no livro Make it Stick (Editora Balknap/Harvard, sem tradução em português), publicado no primeiro semestre.

 

A conclusão, infelizmente, não é muito animadora para quem espera uma maneira mais rápida de aprender. "Nós somos pouco eficientes em saber se estamos aprendendo bem ou não. Quando o aprendizado é mais difícil e lento, ele não parece produtivo e tendemos a desenhar estratégias que pareçam mais proveitosas, sem perceber que os ganhos são frequentemente temporários", apontam os autores. Segundo a pesquisa, a tática de reler inúmeras vezes o mesmo texto é tão ineficiente quando a de tentar decorar fórmulas. "Fazer um esforço para recuperar de memória o que foi lido produz muito mais efeito do que a simples releitura."

A explicação para a eficácia de algumas técnicas e o fracasso de outras é a maneira como a memória funciona. Segundo os pesquisadores, nossa memória é agregadora de conhecimentos, ou seja, para aprender algo novo, é preciso reavivar conhecimentos já vistos antes, na tentativa de estabelecer relações entre eles. "Recuperar o que já foi visto é uma maneira de interromper o esquecimento. Quando é preciso relembrar o que foi lido, o cérebro cria conexões entre outros conhecimentos já vistos, consolidando, assim, a memória".

No livro, os pesquisadores traçam diferentes estratégias para ajudar quem quer tornar a memória em um mecanismo mais eficiente. Entre as estratégias, há dicas de como estudar e do que fazer assim que terminar uma aula ou a leitura de um texto. Apesar do pouco tempo para os exames vestibulares, ainda dá tempo de testar algumas táticas e blindar o cérebro contra o apagão na hora da prova.

De acordo com o livro Make it Stick, a maneira mais simples de ajudar o cérebro a memorizar conceitos vistos nas aulas é fazer pequenos exercícios logo após ter estudado. Pesquisa realizada em 2010 mostrou que estudantes que fizeram um pequeno teste após a leitura de um texto tiveram 50% a mais de aproveitamento na prova do que aqueles que não fizeram exercícios após a leitura. Isso porque os estudantes que fizeram os testes passaram a estudar mais o que haviam errado e apresentaram melhor desempenho do que aqueles que apenas estudaram todo o material sem fazer exercícios. "Um teste de múltipla escolha com poucas questões ou mesmo anotações curtas, feitas de memória, dão mais resultado para o aprendizado do que apenas ler um artigo ou assistir uma aula", aponta Peter Brown, um dos autores do livro.

Ainda que estudar exaustivamente possa produz resultados imediatos, a vantagem logo desaparece, apontam estudos científicos sobre memorização. A explicação está na maneira como nosso cérebro funciona. "Quando a prática é concentrada em um único espaço de tempo, o cérebro decora, mas não apreende o conteúdo por muito tempo. É a retomada da informação e a prática de longo prazo que consolidam a memória", explica Brown. Portanto, para ser mais eficiente, é preciso recuperar os temas já estudados de tempos em tempos. O intervalo entre os estudos vai requerer mais esforço cognitivo para recordar e também vai ajudar a multiplicar as rotas neuronais do cérebro. Essa estratégia não apenas faz as memórias serem mais duráveis, mas também faz com que certos conteúdos sejam lembrados mais rapidamente e em diferentes contextos.

Tirar alguns minutos para pensar sobre o tema estudado também ajuda a consolidar a memória. Isso porque a reflexão, ou seja, o ato de pensar sobre algo, faz com que o cérebro tenha que trabalhar pela recuperação do que foi visto e, ao mesmo tempo, conectar aquele assunto a outros já estudados. Escrever pequenos textos após a leitura de textos ou após as aulas é uma técnica eficiente de reflexão e, de acordo com pesquisadores, funciona melhor do que apenas copiar os tópicos da aula a partir de uma lista apresentada pelo professor. Nesse momento de reflexão, pesquisadores orientam a pensar sobre questões como: quais são as ideias chave do conteúdo estudado? Que exemplos podem ser usados? Como relacionar esse tema com outros aprendizados?

Relacionar um conhecimento estudado na escola com temas que estão fora do ambiente de aula demanda mais esforço cerebral, mas ao mesmo tempo ajuda a colocar o aprendizado em contextos variados, aumentando as conexões neuronais relacionadas a ele. Em um estudo realizado nos Estados Unidos com dois grupos de estudantes, cientistas colocaram como tarefa a resolução de um anagrama. Após aprender a técnica, um grupo deveria tentar produzir o máximo de anagramas possível com a mesma palavra, enquanto o outro trabalharia com mais palavras, tiradas do vocabulário cotidiano dos alunos. Em um teste, o grupo que fez o mesmo anagrama repetidas vezes foi pior que o outro, que resolveu anagramas de palavras variadas. A explicação está no fato de que os alunos que tiveram que rearranjar letras com palavras do dia a dia assimilou melhor a ideia dos anagramas do que o grupo que ficou restrito a uma única palavra. Para quem vai fazer o vestibular, a dica dos especialistas é procurar, nas tarefas do dia a dia, o máximo de relações possíveis com os temas visto em sala, como resgatar fatos históricos a partir da leitura de jornal ou calcular a velocidade média do carro durante uma viagem.

Outra maneira de fortalecer a memória é tentar responder novos problemas usando o que já se sabe. Em matemática, por exemplo, ao aprender como resolver equações de segundo grau, um estudante deve tentar resolvê-las usando apenas os conceitos de equações simples. Só depois, deve buscar no material de estudos um novo modo de chegar à resposta. Segundo pesquisadores, a estratégia leva o cérebro a recuperar o que já foi estudado e a fazer novas conexões com conteúdo. Como a memória é cumulativa, ou seja, construída a partir de novas conexões que ligam a conhecimentos prévios, o cérebro vai fortalecer as antigas memórias e conectar a elas o novo conhecimento, garantindo melhor desempenho nas provas.

 

 

 

 

 

 

Revista Veja

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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