Quando mulheres de meia-idade buscam casos extraconjugais, elas estão à procura de mais paixão e romance – o que inclui sexo -, mas não querem se divorciar de seus maridos, aponta uma nova pesquisa apresentada esta semana na reunião anual da American Sociological Association.
"Ser feliz no casamento é muito diferente do que ser feliz na cama", apontou Eric Anderson, professor da disciplina de Masculinidade, Sexualidade e Esporte na Universidade de Winchester, na Inglaterra, e o chefe de pesquisas do AshleyMadison.com, um site para interessados em ter relações extraconjugais.
No estudo, Anderson e seus colegas analisaram 100 mulheres heterossexuais, casadas, com idades entre 35 e 45, e suas conversas com potenciais pretendentes no AshleyMadison.com, na esperança de determinar o que impulsionava este subgrupo à infidelidade. Os pesquisadores constataram que a grande maioria das mulheres (67%) estava buscando affairs porque queriam mais paixão e romance, o que sempre incluía sexo.
"Mas, a descoberta mais surpreendente é que nenhuma das 100 mulheres tinha planos de se separar dos maridos", disse Anderson, co-autor do estudo feito com Matthew H. Rafalow, doutorando em sociologia da Universidade da Califórnia-Irvine, e Matthew Ripley, doutorando em sociologia na University of Southern California.
"Em vez disso, eles foram taxativas em afirmar que não estavam à procura de um novo marido. Muitas ainda declararam amor a seus maridos, pintando-os de forma bastante positiva."
De acordo com Anderson, a hipótese inicial da pesquisa era de que as mulheres estavam à procura de aventuras sexuais porque eles estavam descontentes com seus maridos ou porque não se sentiam amadas por seus parceiros.
"Mas este não foi o caso. Nossos resultados refletem não a desarmonia marital, mas sim monotonia sexual, algo que faz parte da natureza dos relacionamentos monogâmicos de longo prazo. A coisa mais previsível sobre um relacionamento é que, quanto mais ela avança, a qualidade e a frequência das relações sexuais entre o casal vai reduzir. Isto é porque nos acostumamos e ficamos entediados com o mesmo corpo”.
“Enquanto a cultura popular sugere que homens traem porque "estão com tesão” e mulheres traem porque há algo errado com o aspecto emocional do relacionamento, nossas descobertas desafiam essas percepções", disse Anderson.
"Nossa pesquisa sugere que homens e mulheres não são tão diferentes uns dos outros, como alguns podem pensar."
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As mulheres que procuram casos diferem dos homens que traem, no entanto, no número de parceiros, apontou o estudo. Embora apenas 47% das mulheres pesquisadas tenha se disposto a falar sobre o número de parceiros que estava procurando, daquelas que o fizeram, todas afirmaram desejar ter um caso exclusivamente com um homem. Por outro lado, a pesquisa anterior de Anderson indicou que os homens que procuram casos não querem se limitar a uma única parceira.
Anderson acredita que esta distinção entre homens e mulheres que traem pode ser, em parte, devido à "dicotomia garanhão/piranha", que recompensa os homens que têm múltiplas parceiras sexuais, mas estigmatiza as mulheres que fazem sexo com muitos homens.
"Uma maneira de dizer a si mesmas que elas não são 'piranhas' é afirmar que elas estão desejando monogamia na infidelidade, e que essa monogamia deve ter paixão", disse Anderson, acrescentando que outra razão pela qual as mulheres procuram monogamia dentro da infidelidade é que algumas delas precisam estar emocionalmente ligadas ao parceiro para obter satisfação no sexo.
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Citando altos índices de infidelidade, divórcio e sexo antes do casamento, Anderson afirmou: "É muito claro que o nosso modelo de fazer sexo e amor com apenas uma outra pessoa para a o resto da vida falhou, e falhou maciçamente. Esperamos que este estudo ajude a desvendar um pouco as ideias enraizadas que a nossa cultura tem sobre o sexo e o amor, mostrando que, só porque uma pessoa trai, isso não significa que ela deixou de amar o seu parceiro ".
Para o terapeuta e colunista do Delas Luiz Alberto Hanns, o levantamento feito pelo site americano só confirma os resultados de estudos mais recentes e mais profundos sobre o tema. Segundo ele, a ideia de que as mulheres traem porque não se sentem amadas ou porque querem terminar a relação é totalmente ultrapassada.
"É um discurso da era vitoriana, que não corresponde à realidade. Em culturas mais igualitárias, as mulheres traem mais ou menos na mesma proporção do que os homens, mas por motivos diferentes. Elas querem aventura, eles querem novidade".
IG-SP