O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta segunda-feira um duro discurso de críticas à imprensa brasileira e disse que, assim como o presidente venezuelano Hugo Chávez em seu país, foi vítima de preconceito no Brasil.
O discurso de Lula ocorreu durante a cerimônia de inauguração de uma ponte rodoferroviária construída pela empreiteira brasileira Odebrecht sobre o Rio Orinoco, no sul da Venezuela. Dezenas de milhares de militantes chavistas participaram da cerimônia.
Lula falou que tem certeza que, da mesma forma que aconteceu com ele no mês passado, Chávez será reeleito nas eleições de 3 de dezembro. “Eu sei que tem eleição aqui dia 3. Eu não sou venezuelano, então não posso dar meu palpite nas eleições venezuelanas”, disse o presidente.
Em seguida, no entanto, Lula começou a traçar um paralelo entre a situação brasileira e a venezuelana e a maneira como os dois presidentes são vistos em seus países.
“Neste país, acontece exatamente o mesmo que acontece no Brasil”, disse Lula. “Eu conheço o tipo de críticas que fazem aqui, como fazem a mim também”, afirmou o presidente.
Pobres
Lula disse que se os banqueiros e alguns empresários tiverem que fazer uma opção, apesar de ganharem muito dinheiro tanto no Brasil como na Venezuela, “o preconceito fará com que, na hora de escolher, eles estejam do lado de lá”.
O presidente afirmou que ficou assustado com a dureza das críticas da imprensa venezuelana quando esteve no país em 2003, para o início das obras da ponte que inaugurou agora. “Eu pensei que isso nunca poderia acontecer no Brasil”, disse. “E isso aconteceu no Brasil”, acrescentou.
“O mesmo povo que elegeu a mim, que elegeu Kirchner, que elegeu Daniel Ortega, que elegeu Evo Morales, certamente irá te eleger presidente da República da Venezuela”, afirmou Lula, dirigindo-se a Chávez.
O presidente disse ainda que, assim como ele, Chávez se preocupa com os pobres, que, para eles, não são apenas estatíticas.
“Para muita gente na América do Sul e na América Latina, pobre é apenas um número estatístico, pobre não é levado em consideração na divisão da riqueza do país. Para nós, pobre não é um número estatístico, é um ser humano com alma, com consciência e com coração e que não reivindica nada que não possa ser atendido”, afirmou.
Integração
Tanto Lula como Chávez destacaram em seus discursos a importância de se aumentar os investimentos em infra-estrutura para aumentar a integração na região. “No segundo mandato, temos que aumentar a integração”, disse o presidente.
Chávez afirmou que a terceira ponte sobre o Rio Orinoco, cuja construção foi oficialmente lançada nesta segunda-feira, vai se chamar Mercosul e também será construída pela Odebrecht.
O presidente venezuelano já convidou Lula para a inauguração e disse que é preciso acelerar as obras para que ela fique pronta em menos de quatro anos, “antes da campanha eleitoral no Brasil”.
Lula disse que deveria ter acompanhado a inauguração da obra em julho, mas foi impedido pela legislação eleitoral, que proíbe inaugurações, mesmo em outros países.
Em conversa com a imprensa, o presidente disse que o trabalho da Odebrechet é motivo de orgulho para toda a América do Sul e que o Brasil quer fazer mais obras em parcerias com os governos da região.
Lula citou Bolívia, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Equador, Argentina e Chile e disse que o investimento na infra-estrutura da região vai permitir que a América do Sul sonhe com um processo de integração semelhante ao que aconteceu na União Européia.
O presidente também procurou afastar a impressão de que estaria mais distante de Chávez por ações como o apoio que o venezuelano deu ao presidente Evo Morales, da Bolívia, no processo de nacionalização que prejudica interesses da Petrobras no país.
“Não se preocupe, presidente Chávez, que de vez em quando vão tentar fazer intriga entre Chávez e Lula. Mas eu já aprendi há muito tempo a conhecer a pessoa não só pelos olhos, mas pelo coração”, afirmou.
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