Uma onda de ataques no Iraque matou pelo menos 111 pessoas e deixou 235 feridos nesta segunda-feira (23), no dia mais sangrento vivido pelo país em mais de dois anos, depois que a rede terrorista da Al-Qaeda alertou que iria preparar novos ataques e tentar recuperar territórios.
Autoridades registraram 27 ataques diferentes lançados em 18 cidades, quebrando uma relativa calma propiciada pelo início, no sábado, do mês sagrado muçulmano do Ramadã.
O presidente do Parlamento, Osama al-Nujaifi, e o representante da ONU no país condenaram os atentados, que até o momento não foram reivindicados.
O Irã informou que "o objetivo desses atos terroristas é criar divisões confessionais e ameaçar a segurança, a estabilidade e a independência do Iraque".
Os Estados Unidos denunciaram a onda de violência no país e considerou que os ataques durante o Ramadã foram "covardes" e "censuráveis".
"Condenamos nos termos mais fortes estes ataques ocorridos hoje (…) no Iraque. O ataque a inocentes sempre é covarde. É particularmente censurável durante este mês sagrado do Ramadã", disse à imprensa a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland.
No ataque mais mortífero desta segunda-feira – uma série de bombas, um carro-bomba e um ataque suicida visando equipes de resgate na cidade de Taji -, ao menos 42 pessoas morreram e 40 ficaram feridas, de acordo com duas fontes médicas.
"Ouvi explosões à distância então sai de casa e vi um carro do lado de fora", disse o morador de Taji de 40 anos Abu Mohammed, acrescentando que os inspetores da polícia concluíram que era um carro-bomba.
"Pedimos que os vizinhos deixassem suas casas, mas quando eles estavam saindo a bomba explodiu".
Abu Mohammed afirmou que presenciou a morte de uma idosa que carregava um recém-nascido e do policial que descobriu que o carro estava cheio de explosivos.
Um jornalista da France Presse no local afirmou que diversas casas estavam completamente destruídas, e que os moradores vasculhavam os destroços em busca de vítimas e de seus pertences.
Em Bagdá, por sua vez, um carro-bomba em frente ao escritório do governo responsável por emitir documentos de identidade no bastião xiita da Cidade Sadr matou ao menos 12 pessoas e feriu outras 22, informaram fontes médicas e de segurança.
"Este ataque é um crime terrível contra a humanidade, porque eles o fizeram durante o Ramadã, quando as pessoas estão jejuando", afirmou uma vítima idosa que não quis se identificar.
Um jornalista da AFP informou que oito carros próximos estavam destruídos e que muitas das vítimas do ataque, ocorrido às 09h30 locais (03h00 de Brasília), poderiam não ser identificadas porque seus documentos estavam dentro dos escritórios tomados como alvo.
Duas outras explosões nos bairros Husseiniyah e Yarmuk de Bagdá mataram ao menos quatro pessoas e deixaram outras 24 feridas, enquanto um carro-bomba na cidade de Tarmiyah, ao norte de Bagdá, feriu nove pessoas, segundo autoridades.
Tiroteios em postos de controle e explosões na província de Diyala mataram 11 pessoas e deixaram outras 40 feridas.
Insurgentes também lançaram ataques contra uma base militar perto da cidade de Dhuluiyah, matando ao menos 15 soldados iraquianos e deixando outros dois feridos, de acordo com dois funcionários dos serviços de segurança.
Dois outros ataques na mesma província – um tiroteio em um posto de controle e um carro-bomba perto de uma mesquita xiita – deixaram três mortos e seis feridos, segundo autoridades.
Nove explosões, algumas delas com alguns minutos de diferença, mataram sete pessoas e feriram 29 na cidade de Kirkuk e nas cidades de Dibis e Tuz Khurmatu, na província de Kirkuk.
Três ataques distintos – um carro-bomba, uma explosão e um tiroteio – na cidade de Mosul, no sul, e na cidade próxima de Baaj, deixaram nove mortos e sete feridos, de acordo com o tenente do exército iraquiano Waad Mohammed e com o policial Mohammed al-Juburi.
Uma bomba colocada em um mercado no centro da cidade de Diwaniyah, ao sul de Bagdá, matou três pessoas e deixou outras 25 feridas, informou o chefe dos serviços de saúde da província de Adnan Turki.
Na cidade de Heet, no oeste do país, um carro-bomba explodiu perto de uma patrulha, matando um soldado e ferindo outros 10, de acordo com um soldado do exército iraquiano e do médico Abdulwahab al-Shammari, do hospital da cidade.
Os ataques ocorrem um dia depois de uma série de explosões no Iraque matar ao menos 17 pessoas e ferir outras 100. O balanço desta segunda-feira foi o maior desde 10 de maio de 2010, quando 110 pessoas foram mortas.
Este grave episódio de violência ocorre depois que o país sofreu um aumento dos confrontos em junho, quando ao menos 282 pessoas foram mortas, de acordo com um balanço da AFP feito com dados fornecidos por fontes oficiais e médicas, embora autoridades do governo informem que 131 iraquianos morreram.
Ainda que estes números sejam significativamente menores do que os registrados durante o pico do derramamento de sangue no país, de 2006 e 2008, os ataques ainda são comuns.
A organização Estado Islâmico do Iraque alertou em uma mensagem de áudio postada em vários fóruns jihadistas que começaria a ter como alvos juízes e procuradores, e pediu a ajuda de tribos sunitas para recapturar territórios que já estiveram em seu poder.
"Estamos começando uma nova etapa", dizia a voz na mensagem, supostamente a de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico do Iraque desde maio de 2010.
"A primeira prioridade nisso é libertar os prisioneiros muçulmanos em todos os lugares, perseguir e eliminar juízes e procuradores e seus guardas".
Não foi possível verificar se a voz era, de fato, de Baghdadi.
O locutor acrescentou: "Por ocasião do início do retorno do Estado às áreas que deixamos, convoco vocês a realizar mais esforços, e enviar seus filhos com os mujahedines para defender sua religião e obedecer a Deus".
F: G1