sexta-feira, 22/11/2024
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Acordar várias vezes durante a noite é a principal queixa de quem sofre de insônia

Dormir bem a noite inteira já se transformou no sonho de consumo de milhões de pessoas. Desde que a luz elétrica foi inventada, em 1879, perdemos uma hora de sono a cada cem anos. Fora isso, há muita gente que demora para pegar no sono ou, o que é mais comum, acorda várias vezes durante a noite. Você pode achar que é normal dormir pouco, e que é até desperdício passar muito tempo na cama. Mas fique sabendo que ter um sono ruim engorda, envelhece e predispõe o organismo a doenças.

O problema pode ser ocasional (dura alguns dias), agudo ou transitório (dura de uma a três semanas), ou crônico (dura mais de três semanas). Os especialistas também classificam a insônia como situacional (acontece por algum motivo específico), primária (o motivo não é identificado), ou ainda pode ser causada por alguma doença.

Quem deita na cama e fica rolando de um lado para outro até pegar no sono sofre a chamada "insônia inicial". Já quem acorda várias vezes sofre a chamada "insônia de manutenção" – segundo os médicos, esta é a principal queixa dos pacientes hoje em dia.

O diagnóstico mais apurado da insônia engloba a polissonografia, exame realizado para investigar os distúrbios do sono. Nele é possível avaliar o padrão vigília/sono por meio de sensores posicionados pela superfície do corpo durante uma noite de sono do paciente.

Luciano Ribeiro, neurologista do Instituto do Sono de São Paulo, explica que não dormir bem traz sérias complicações: físicas (fadiga e sonolência); mentais (ansiedade, perda de memória e depressão); emocionais (irritabilidade) e sociais (familiares e profissionais). “Quanto maiores as privações, maiores os prejuízos diurnos”, diz ele.

Doença de 24 horas

Para o também neurologista e especialista em sono, de Porto Alegre, Geraldo Rizzo, a insônia é uma doença de 24 horas: “Ela provoca tensão corporal e ansiedade, aumentando o índice metabólico e tornando a pessoa hiperalerta”. Isso sem contar que os insones têm frequência cardíaca, temperatura e tônus muscular aumentados.

Rizzo diz que a insônia pode surgir por predisposição genética, ou fatores como estresse ou comportamento. Assim, faz uma lista de três “p”: predisponentes (personalidade vespertina, idade, fatores genéticos); precipitantes (situacionais, ambiente, doenças, problemas psiquiátricos, medicações); e perpetuantes (má higiene do sono, ansiedade para ter resultado, pensar muito na insônia).

E acrescenta mais consequências à lista de não se dormir bem: falta de concentração, memória prejudicada, falta de libido, mau humor e redução na performance. “Dormir mal engorda. Além disso, o insone adoece mais. Em resumo, quem dorme pouco: adoece, emburrece, envelhece e não emagrece”, enfatiza.

E para comprovar sua tese, ele cita pesquisas mostrando que o custo da insônia nos EUA gira em torno de 15 a 92 bilhões de dólares por ano. Segundo o estudo, 2/3 dos americanos trabalham doentes. Tanto que algumas empresas criaram locais para que seus funcionários possam dormir e descansar. “A insônia é um dos motivos predominantes de ausência no trabalho, mais do que doenças pulmonares, por exemplo”, diz Rizzo.

Outras consequências são 2.5 a 4.5 mais chances de sofrer acidentes de carro, 20% a 30% de dormir ao volante, 60% mais gastos com a saúde e 40% comorbidade psíquica. E aqui no Brasil, em cidades como São Paulo, esses números não são diferentes.

Dalva Poyares, neurologista e professora do departamento de psicobiologia do Instituto do Sono, conta que pesquisas mostraram que a capital paulista tem a maior incidência de insônia crônica do país: 15% da população, ou seja, 15 a cada 100 pessoas.

Já 45% dos paulistanos dizem que dormem mal. “Este indivíduo custa caro para a sociedade. Pessoas assim procuram até dez vezes mais o médico – adoecem mais, se queixam mais e se sentem mais doentes", conta a médica. Insones costumam ter pressão alta e diabete tipo 2, além de quatro vezes mais chances de ter problemas psiquiátricos, pressão alta e problemas renais.

Para a médica, há quatro sinais de que algo está errado: demorar para dormir, acordar no meio da noite, roncar e ter um sono não reparador. Ela menciona outro estudo brasileiro que pesquisou há quanto tempo algumas pessoas tinham insônia. A resposta média foi 12.2 anos.

Manutenção do sono

Poyares conta que a busca pela manutenção do sono é um desafio unânime para os profissionais da área. “Se antes tínhamos a preocupação de fazer com que o paciente iniciasse seu sono, hoje a nossa missão vai além: trabalharmos para que esse indivíduo não acorde várias vezes durante a noite."

A insônia é considerada um mal moderno. Outro termo que surgiu há pouco tempo e já está se tornando conhecido é a "sonorexia". A palavra, que remete à anorexia, diz respeito a um distúrbio em que a pessoa se priva do sono, pois acha que adormecer é perda de tempo. Um comportamento perigoso, pois dormir é importante para repor energia.

Mulheres

Uma dica da médica: fazer uma pausa depois do almoço protege o sistema cardiovascular e, segundo Poyares, as mulheres são as que mais se beneficiam disso. O que é importante, já que para cada homem com insônia há três mulheres. A médica diz que se acredita que isso aconteça porque as mulheres sejam mais ativas mentalmente.

Já Rizzo elenca uma série de motivos: “Cada período menstrual leva à insônia. A mulher reclama mais e vai mais ao médico, logo, aparece mais nas pesquisas. E tem o lado social: ela cuida do bebê, depois da criança e é quem fica esperando o adolescente voltar para casa de madrugada”.

“Pessoas insones não desligam. O sono é proibido para elas. Não queremos ser alarmistas, mas dormir pouco mata! A insônia aumenta o cortisol noturno, pode provocar arteriosclerose, gerar mais fome e influenciar no controle da tireoide. Isso sem contar os acidentes de trânsito provocados por pessoas que sofrem do problema. Em casos crônicos, é preciso usar medicamento”, finaliza a médica.

Cármen Guaresemin
Do UOL, em São Paulo

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Parmenas Alt
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